Economia Titulo Parque tecnológico
Projeto de Sto.André não é paralelo ao parque regional

Afirmação sobre o Parque Ecológico foi feita pelo
secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
14/09/2009 | 07:00
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O projeto que Santo André vem elaborando desde o início do ano para o desenvolvimento de um parque tecnológico não é paralelo ao que a região deseja constituir. Isso foi o que afirmou o secretário adjunto do Desenvolvimento Econômico da cidade, Charles Camargo, durante visita ao ParqTec, um dos parques de São Carlos, em comitiva organizada pela Agência de Desenvolvimento do Grande ABC.

"Começamos a trabalhar antes nele porque a maior parte do pessoal de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura veio do setor privado, então acabamos sendo mais ágeis. E o que não estávamos de acordo, mas que agora foi reformulado, foi a pré-definição de que cada cidade teria de contribuir somente com alguns setores mais fortes em seu município, no nosso caso metalmecânico e plástico."

Segundo Camargo, eles querem a liberdade de poder lidar com o que dá lucro, caso da tecnologia da informação. "Queremos desenvolver também alta tecnologia não poluente, em parceria com a engenharia de meio ambiente, e aprofundar a tecnologia de pneus, pois não podemos desprezar as empresas que já estão lá, como a Pirelli e a Bridgestone".

Para o adjunto, a integração se faz necessária porque, embora Santo André tenha muitos fatores que agreguem à constituição do parque, como a área necessária - cogitam-se sete diferentes locais, entre eles o Parque Andreense e o Eixo Tamanduatehy, mas a dúvida ainda é permeada pelo custo do espaço - eles não têm o know-how de faculdades como FEI (Fundação Educacional Inaciana) e Mauá (Instituto Mauá de Tecnologia), apesar do canal de verbas federais que pode ser a UFABC (Universidade Federal do ABC).

Na avaliação de Fausto Cestari Filho, diretor do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, é ótimo que Santo André comece na frente, pois a região só tem a ganhar com isso. "Teremos vários parques, se bobear, um em cada cidade. Quanto antes eles começarem a ser desenvolvidos, melhor. Porém, é essencial que eles atuem de maneira integrada."

Valter Moura, vice-presidente da Agência, salientou que é preciso pensar grande, e que por tal motivo não acredita que Santo André vá encabeçar um projeto isoladamente. "Não acho que isso vá vingar, pois o desenvolvimento econômico da região é muito mais importante do que qualquer vaidade. E outra: não se faz nada sozinho."

Questionado sobre o papel da UFABC caso Santo André retome a ideia de tocar um projeto sozinho, o chefe de gabinete da universidade, Sidney Jard da Silva, aponta que o próprio nome da instituição já diz: do ABC, e não de uma cidade só. "Nosso papel é contribuir com o conhecimento tecnológico científico de maneira equitativa para a região. Temos de atender a todas as iniciativas que discutam o desenvolvimento econômico que nos cheguem, seja de forma conjunta ou particular."

Os detalhes do projeto que Santo André vem desenvolvendo desde o início do ano, no entanto, não foram revelados.

 

Empreendimento precisa de plano diretor

Uma das maiores preocupações dos participantes do grupo de trabalho do Parque Tecnológico do Grande ABC é fazer com que o planejamento siga além da vontade política, a partir de um plano diretor.

Acredita-se que o processo leve pelo menos dez anos, por isso os agentes dos setores privado, público e acadêmico defendem que o projeto seja entregue o quanto antes para se conseguir verbas no ano que vem, que é eleitoral. O prazo estimado é de seis meses para a sua elaboração, que deve ter início em outubro.

"Este é um projeto de longo prazo. Por isso estamos conhecendo parques pioneiros no País, para que possamos evitar equívocos e imprecisões na constituição do nosso", afirma Luís Paulo Bresciani, coordenador do grupo e secretário do Desenvolvimento Econômico de Diadema.

Parte desse processo são as visitas a parques tecnológicos que tenham semelhanças com o modelo que se planeja implementar na região. Depois do parque de São José dos Campos, no mês passado, foi a vez do ParqTec, de São Carlos, visitado na última semana. Lá, o processo foi iniciado em 1984, mas somente no ano passado foi liberada licença ambiental para desenvolver o restante da parte física do terreno, de 164 mil metros quadrados. O terreno, repleto de área verde, possui apenas um edifício.

Seu idealizador e presidente, Sylvio Goulart Rosa Júnior, aponta que o processo de constituição de um parque tecnológico é de fato demorado. "Tem que ter calma, e prestar atenção para errar barato, senão está fora do processo."

Em São José, apesar de a ideia do parque ter surgido em 2005, atualmente ele está a pleno vapor. A diferença crucial é que, por conta da forte presença da indústria aeronáutica e da instalação de grandes empresas lá, o parque conta com muitos recursos privados, principalmente da Embraer.

Em São Carlos, por outro lado, o forte são as micro e pequenas empresas de base tecnológica e as universidades, como a USP (Universidade de São Paulo). Modelo que se assemelha ao do Grande ABC.

Para Júnior, a inovação está na pequena empresa. Ao todos, hoje são 180 de base tecnológica. "São as incubadoras que vão abastecer o parque tecnológico", diz. Ele também defende a presença da engenharia no processo. "É a essência dura da engenharia que move o mundo. Vocês devem aproveitar que têm uma universidade federal na região e também pleitear uma USP, pois isso ajuda nos negócios."

 

Faculdade tem de formar pessoa e empresa

Dentro do processo do Parque Tecnológico do Grande ABC, as faculdades da região têm o papel de formar profissionais qualificados e auxiliar empresas a desenvolver e se adaptar a novas tecnologias, a fim de agregar valor aos produtos.

"A faculdade não se limita a pensar em graduação de profissionais. Também desenvolvemos linhas de pesquisa de processos inovadores, os quais infelizmente, muitas vezes, não têm como ser aplicados em empresas daqui", lamenta Rivana Basso Marino, vice-reitora da FEI (Fundação Educacional Inaciana).

Rivana refere-se ao fato de que diversos fornecedores limitam-se a oferecer produtos de pouco valor agregado por não saberem ou não terem condições de manusear novas tecnologias, o que favorece os estrangeiros, que vendem itens com alta tecnologia a grandes empresas da região.

"É aí que entramos. Nós disponibilizamos o conhecimento e até mesmo pesquisadores para quem não tem condições de bancar um em sua empresa. Porém, os empresários têm a sua responsabilidade, como a de solicitar linhas de financiamento até mesmo em parceria com a faculdade. Afinal de contas, para gerar riquezas a pesquisa tem de estar na indústria", aponta.

Em troca, a vice-reitora explica que a faculdade ganha com a possibilidade de obter recursos para pagar extras a professores que participem dos projetos, equipar laboratórios, oferecer bolsas de doutorado e incluir nos projetos professores que não cabem na receita.

Quanto às novas empresas, o parque pode abrigá-las, depois de saírem das incubadoras, e mantê-las na região com incentivos fiscais, assim como é feito em São José dos Campos.

CONTRAPARTIDA - Norberto Perrela, coordenador do APL Metalmecânico e proprietário da Ferkoda, conta que recentemente precisou buscar tecnologia para um processo de forjamento solicitado por um cliente, e procurou pela FEI. "Eles não conseguiram ou não quiseram nos ajudar. O fato é que, sozinho, eu não tinha condições de desenvolver tal tecnologia. E acabei perdendo o cliente."

Questionada sobre o assunto, Rivana afirma que não sabia dessa procura, mas que quando ela é urgente, nem sempre podem ajudar. "Temos um conhecimento de base teórica. Não temos a rotina de produção, portanto, não conseguimos atender a demandas pontuais. Se o empresário quer algo de curto prazo, ele precisa ter quem financie isso, a não ser que a faculdade já detenha tal tecnologia."

 




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