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Grande ABC tem 1.057 moradores na fila por transplante de órgão

Número representa 7% das pessoas que aguardam no Estado; pandemia fez doações caírem 29% no País

Por Flávia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
12/09/2020 | 23:01
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No Grande ABC, 1.057 moradores estão na fila do transplante na espera por algum órgão sólido. O número representa 7% das 14.143 pessoas que vivem a mesma situação no Estado. As maiores demandas são para rim, fígado, pâncreas, coração e pulmão. As informações são da Secretaria da Saúde do Estado e foram obtidas pelo Diário via LAI (Lei de Acesso à Informação).

Apesar de significativa, a quantidade de postulantes ao transplante é considerada normal pelos especialistas, principalmente porque a pandemia do novo coronavírus fez o número de doadores cair 29% em todo País, segundo a ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos). O cadastro de órgãos é mantido pelo sistema nacional de transplantes, que encaixa a necessidade dos pacientes com a disponibilidade do órgão, por isso não é possível estimar um tempo médio de espera.

“A parte de transplante renal foi uma das mais afetadas pela pandemia, principalmente pelo medo de as pessoas procurarem serviço médico (para exames) quando um familiar pode ser o doador”, afirmou Enrico Andrade, gestor da Faculdade de Medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano). No entanto, ele destacou que o departamento de transplantes dos hospitais não sofreu mudanças em razão do novo coronavírus. 

Além disso, pacientes cujo doador está vivo, ou seja, é um familiar, que podem esperar a pandemia passar, optaram por fazê-lo, apesar de que a ideia não é bem vista pelo especialista. “Um paciente renal, que precisa de imunossupressores (drogas que inibem ou impedem a atividade do sistema imunológico), acaba tendo o sistema de defesa diminuído, ficando mais vulnerável a outras doenças”, explicou.

Gustavo Ferreira, vice-presidente da ABTO, assinalou que a oferta de órgãos proveniente de pessoas não-vivas reduziu, uma vez que indivíduos com Covid-19 não podem doar. Pacientes com outras condições, como alcoolismo, hipertensão e diabete, também têm restrição para doação. Boa notícia é que desde agosto o cenário está se invertendo e a expectativa é a de que a quantidade de doações normalize neste mês.

Andrade apontou que a fila de espera por transplantes poderia ser menor caso a prevenção às doenças que causam falência de órgãos, como diabete, tabagismo e hepatite C, fosse aprimorada. “Neste caso, as poucas doações que temos seriam suficientes para atender aqueles que precisam de órgãos por causa de algum problema congênito.” 

CONSCIENTIZAÇÃO

Com a cor verde, setembro é o mês destinado à conscientização sobre doação de órgãos. Ainda que o preconceito para se tornar um doador esteja presente no País, o cenário tem melhorado na última década. “O Brasil tem um sistema <CF51>(transplantes)</CF> consolidado e São Paulo tem uma estrutura muito desenvolvida, considerada referência”, observou Ferreira. Para ele, doar órgãos é oportunidade de a pessoa continuar vivendo. 

"Ser doador é entender que a nossa carne não serve de nada embaixo da terra, usamos o corpo enquanto estamos aqui. O que está saudável pode ser a necessidade de tanta gente para continuar vivendo e acaba sendo desperdiçada”, avaliou Mayara Monice, 23 anos, estudante de fisioterapia de Santo André, doadora de órgãos desde os 19. “Entendo que existem religiões que não permitem, mas para a maioria das pessoas é apenas falta de informação e incentivo”, completou.

Mayara relatou que desde os 16 anos, quando via campanhas de incentivo, diz à família que desejava ser doadora, porém, a atitude se concretizou em 2016, quando ela iniciou os estudos na área da saúde. “Isso pode mudar muitas vidas. Tem história de pacientes que esperam anos e anos por um órgão compatível. Se todas as pessoas entenderem essa necessidade e doarem também, quem está aguardando terá muito mais oportunidade”, comentou. 

No Brasil, a doação de órgãos após a morte depende de autorização da família. Assim, a recomendação é que a pessoa compartilhe o desejo de ser doador com os familiares. A vontade do doador, expressamente registrada, também pode ser aceita mediante decisão judicial. 




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