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Cannes de olho na economia
Da Agência Brasil
18/05/2010 | 07:00
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Divulgação


A crise econômica se instalou no Festival de Cannes por meio de três filmes complementares. O que teve maior impacto de mídia foi "Wall Street - Money Never Sleeps", de Oliver Stone, em que Michael Douglas retoma o personagem mítico de sua carreira, Gordon Gekko. Mas entende-se melhor o cataclismo que atingiu o mundo há dois anos em outros dois filmes, ambos fora de concurso - o documentário "Inside the Job", de Charles Ferguson, e "The City Below", do alemão Christoph Hochhausler. Os reflexos de tudo isso no nosso mundo real aparecem em Biutiful, de Alejandro González Iñárritu.

O diretor assina aqui seu primeiro filme sem a participação do roteirista Guillermo Arriaga. Biutiful passa-se em Barcelona, onde este pai, interpretado por Javier Bardem, cuida sozinho dos dois filhos. O restante dos personagens inclui uma família de senegaleses e um numeroso clã de chineses. Os chineses não apenas exploram seus compatriotas como possuem uma fábrica de reprodução de grifes famosas - que os senegaleses vendem nas ruas da cidade de Antonio Gaudí. Para complicar as coisas, Bardem se comunica com os mortos e ele próprio está morrendo, corroído por um câncer de próstata.

"Biutiful" é filme para ganhar a Palma de Ouro e a verdade é que seu realismo ‘espetacular' pode torná-lo atraente para Tim Burton, presidente do júri, que adora os universos imaginários ou paralelos. O longa abre uma janela para o mundo que ninguém quer ver nas grandes cidades.

Iñárritu filma pessoas que podem ser consideradas resíduos das economias globalizadas. Charles Ferguson e Christoph Hochhausler, cada um à sua maneira, tentam, explicar o que é este mundo. "Inside the Job" é devastador ao mostrar como os responsáveis pelos grandes conglomerados financeiros do mundo não apenas sabiam da crise que se avizinhava, em 2008, como tiraram proveito dela. O que houve foi um assalto criminoso - e consciente - dos grandes bancos às economias dos pequenos investidores. O resultado foi que os pobres ficaram mais pobres e os executivos ainda foram contemplados, com dinheiro público, fornecido pelo Tesouro norte-americano para apagar o incêndio.

Hochhaulser diz a mesma coisa, mas seu enfoque vai na contramão do de Ferguson. "The City Below" talvez seja o filme que "Wall Street - Money Never Sleeps" deveria ter sido, ao tentar explicitar o conflito entre o público e o privado na era das grandes corporações.

O diretor pensa e filma bem as incertezas do mundo atual, concentradas num triângulo. O poderoso CEO de um grande banco deseja a mulher de um de seus executivos. Ela é a primeira a lhe dizer que ele não pode ter tudo o que deseja, mas uma crise permite ao chefe enviar o funcionário para apagar um incêndio da firma, no outro lado do mundo. É uma pena que não esteja participando da competição.




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