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Vida de casseta
Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
08/05/2010 | 07:32
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Mais que a biografia do mais popular dos humoristas brasileiros dos anos 1980/90, Bussunda - A Vida do Casseta (Objetiva, 408 págs., R$ 49,90), de Guilherme Fiuza, oferece um generoso histórico da gênese desta nova forma de fazer rir que marcou gerações no Brasil.

Coragem e ousadia como não mais se viu desde então sobravam desde o fim dos anos 1970 nas publicações Casseta Popular e Planeta Diário. Mais tarde, essa turma tomou a ‘terça nobre' da Globo com o TV Pirata e o atual Casseta & Planeta. No centro desse turbilhão de talentos e funcionando como um ponto de equilíbrio estava Cláudio Besserman Vianna, desde a adolescência apelidado Bussunda.

E são as ‘picardias estudantis' do garoto desajustado e folgado e suas primeiras e desastrosas tentativas de socialização que rendem a parte mais suculenta do volume. Se outro livro do autor e jornalista Guilherme Fiuza, Meu Nome não é Johnny (Record), rendeu o bem-sucedido filme homônimo, neste caso será difícil.

A vida de Bussunda, apesar de interrompida precocemente aos 43 anos e 11 meses em plena Copa da Alemanha, foi rica e intensa para caber em um longa-metragem.

Nasceu mirrado, caçula de três irmãos, filhos de mãe psicanalista e pai cirurgião. Família classe média, que prezava a formação intelectual pela leitura acima de tudo. Chegou a cursar faculdade pública de Comunicação (para poder fazer nada sem torrar o dinheiro dos pais). Mas foi receber dinheiro suficiente para se manter em 1987, com a ida para a TV como redator do TV Pirata.

Na biografia toda essa narrativa é enriquecida de detalhes saborosos, idas e vindas não cansam o leitor, pelo contrário, o autor consegue prender a atenção, por várias vezes terminando os capítulos com um certo suspense, a ponto de estimular a leitura de um novo capítulo das mais de 400 páginas.

É emocionante entender como os cassetas - Hélio, Hubert, Reinaldo, Marcelo, Claudio Manoel - misturaram suas vidas, tornando-se amigos quase irmãos ao passar por perrengues e momentos hilários.

Para contar a história de Bussunda seria impossível não apresentar uma breve biografia de cada um deles e a intimidade dos irmãos Besserman. Uma saga familiar.

Ao fim do catatau, o autor convence o leitor de que o ogro tinha um enorme coração. Apesar da sinceridade suicida, de nunca poupar algo ou alguém em detrimento da piada e de, por boa parte da vida levar a sério uma única instituição - o Flamengo - o menino feio e tímido se tornou um grande artista das letras, do palco, do cinema, além de ótimo filho, irmão, marido e pai. Era daqueles caras que todos querem ter como amigo.

Trecho

O apresentador Fausto Silva convidara o cantor (Tim Maia) para participar de seu novo programa, o Domingão do Faustão, na Globo. Tim Maia topou - e não foi. A participação seria ao vivo, e a ausência do cantor deixou um buraco no programa, que estava em fase de afirmação na emissora. Fausto não gostou. Na semana seguinte, voltou a anunciar a presença de Tim Maia no Domingão. Agora, sem convidá-lo.

Iniciado o programa, o apresentador confirmou ao vivo que, dessa vez, Tim estaria lá. Aliás, já estava no Teatro Fênix. Quando finalmente chamou o cantor no palco quem apareceu foi Bussunda e sua banda: "Alô rapaziada! Disseram que eu não vinha, mas eu cheguei batido..." Era a vingança de Faustão.

Tim Maia estava fora de si diante da imagem do impostor. E sua ira tinha uma razão especial: os enchimentos usados por Bussunda sob a camisa cintilante. "Porra, o cara já é gordo pra caralho. Tá querendo dizer que é menos gordo que eu?", comentaria nos bastidores.

Ao sair de cena, Bussunda foi informado do telefonema ameaçador do cantor, avisando que ia até lá dar-lhe um tiro. Fez uma análise fria da situação:
- Ele avisou que vinha? Que bom, então já sei que ele não vai aparecer.
Por via das dúvidas o falso Tim Maia trocou de roupa correndo e se mandou do Teatro Fênix. (págs. 152/153)




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