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'A Festa do Bode' revive o horror da ditadura de Trujillo
Por Da AFP
14/02/2006 | 17:52
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Mortes, estupros, humilhações. Todo o horror da ditadura de Rafael Leónidas Trujillo, na República Dominicana, está retratado em 'A Festa do Bode', do diretor peruano Luis Llosa, no qual uma série de personagens é arrastada para o lado mais obscuro do ser.

"Eu me interessava mais na influência da ditadura nas vítimas do que na parte política", declarou Llosa nesta terça-feira, em Madri, durante entrevista coletiva de apresentação do filme, baseado no romance homônimo de Mario Vargas Llosa, a quem a fita, que fez sua estréia mundial no Festival de Berlim, "agradou muito".

A devastadora ação psicológica do regime de Trujillo, interpretado pelo ator cubano Tomás Milián, em suas vítimas, se resume ao longo de duas horas nas histórias de seus quatro assassinos e de Urania - interpretada por Isabella Rossellini -, filha de um homem chave do regime que acaba caindo em desgraça.

"Este filme pode ser um olhar no lado obscuro dos seres humanos, um thriller político ou um filme sobre o poder, mas no centro há um drama humano", explicou o cineasta, durante a entrevista coletiva, acompanhado por parte do elenco.

As humilhações sofridas pelo tenente Amadito (Juan Diego Botto) ou pelo almirante Viñas (Steven Bauer) os levarão a uma busca pela vingança, enquanto Urania vê sua vida marcada por um obscuro encontro com o ditador, patrocinado por seu pai.

"Urania é uma mulher fria e cruel, como seu pai. É uma maldição" depois de tudo o que tem que passar, afirmou Rossellini durante a apresentação do filme.

A minuciosa descrição de Urania, feita no livro de Vargas Llosa, levou a atriz italiana a acreditar que esta mulher realmente existiu até que o escritor peruano contou que foi uma personagem saída de sua imaginação. "A descrição foi meu caminho para criar o personagem", explicou Rossellini.

"A maioria dos conspiradores estão baseados em personagens reais. Uranita e Cabrales resumem a essência de pessoas que viveram sob o jugo de Trujillo. Cabrales (o pai de Uranita) não existiu, mas podia ter sido real, segundo minha experiência", emendou Llosa, que viveu vários anos na República Dominicana.

"A gente sempre coloca parte da nossa experiência de vida. Sendo latino-americano, peruano, quando se faz um filme sobre ditadores é impossível evitar colocar algo do que se viveu", explicou o diretor e co-roteirista do filme.

"É impossível não encontrar semelhanças entre Abbes (chefe da polícia secreta de Trujillo) e (Vladimiro) Montesinos (antigo braço-direito de Alberto Fujimori). Sempre há coisas da experiência vivida", acrescentou Llosa.

Com este filme, que tem estréia prevista para março no Peru e abril na República Dominicana antes de seguir para o resto do continente, o cineasta tenta dar um novo rumo à sua carreira.

"Estava fazendo cinema de ação, mas queria fazer um cinema mais pessoal. Quando tomei a decisão de mudar de rumo, surgiu o livro 'A Festa do Bode'", contou Llosa, autor de filmes como "Anaconda", com Jennifer López, e "O Especialista", com Silvester Stallone e Sharon Stone.

Durante a produção do filme, Llosa esteve a todo momento em contato com o escritor, embora Vargas Llosa "tenha concordado em que o livro é uma coisa e o filme é outra diferente". O importante era manter o espírito do livro "e isto se preservou", concluiu o diretor.

Após este filme, Luis Llosa tem "várias idéias e roteiros. Até Vargas Llosa se interessou por uma eventual colaboração. Mas ainda não há datas".




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