Adolescente negra de 12 anos teria sido acusada de furtar esmaltes em uma loja
A família de uma adolescente negra de 12 anos acusa funcionários da loja Daiso e um segurança do Grand Plaza Shopping, em Santo André, de racismo. O caso foi registrado no 4º DP (bairro Jardim) como calúnia e constrangimento ilegal. Segundo o pai da garota, o funcionário público Luiz Fernando Baltazar, 31, a filha estava na companhia de duas amigas brancas passeando no centro de compras no último sábado. As três entraram na loja, saíram e continuaram andando pelos corredores, quando foram abordadas por um segurança do shopping e um funcionário da loja.
Segundo Baltazar, as três foram levadas de volta à loja pelos dois homens e apenas a filha do reclamante foi acusada de furtar esmaltes. A madrasta da adolescente, a técnica em enfermagem Karen Katharine Santos, 29, fez postagem em sua rede social denunciando o episódio.
“Sem a presença de qualquer dos pais ou responsáveis, as três meninas, assustadas, detidas, minha enteada chorando, foram apresentadas ao ‘responsável’ pela loja”, escreveu.
De acordo com o relato feito por Karen, as garotas – que não tinham mochilas ou bolsas – argumentaram que sequer passaram no corredor de cosméticos e que sua enteada sugeriu que as câmeras de segurança fossem vistoriadas, mas o responsável da loja as teria ignorado. O funcionário teria dito que a menor deixou os produtos em outra loja.
A garota foi levada para casa pelo pai de uma das amigas e contou o que houve. “Fomos duas vezes à loja e um representante disse que não havia mais o que fazer, pois tudo foi resolvido no sábado”, explicou Baltazar. Para o servidor público, está claro o racismo praticado contra a filha. “Meu sentimento é de revolta”, afirmou.
A presidente da comissão de igualdade racial da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André, Maria Francisca Moreira Zaidan Silva, acompanhou a menor, seu pai e seu avô à delegacia, na tarde de ontem, e afirmou que a situação configura caso de racismo. “Violaram o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), a lei de racismo. Foram cometidos vários crimes e não podemos maquiar, dizer que é injúria, é racismo mesmo”, pontuou. “Precisamos registrar esses casos, ou não teremos nem estatísticas”, concluiu.
Professora e especialista em direito das diversidades, Ingrid Limeira destacou que a situação vivida pelas adolescentes pode caracterizar diferentes crimes, como calúnia, difamação, cárcere privado e denunciação caluniosa. “Segurança de shopping não tem poder de polícia, não pode interrogar ninguém”, afirmou.
Em nota, o Grand Plaza Shopping informou que repudia qualquer tipo de discriminação, que está averiguando os acontecimentos para as devidas providências e que estará à disposição para eventuais esclarecimentos. A Daiso informou que não compactua com qualquer ato discriminatório e/ou preconceituoso, repudia todo e qualquer ato de racismo, que no caso citado não houve qualquer atitude racista e que isso foi esclarecido com o pai da menor envolvida. Leia a íntegra das duas notas abaixo .
Médico foi afastado após injúria racial
Há um mês, o médico do HM (Hospital Municipal) de Diadema Sergio Marciano Leme foi afastado das suas atividades após praticar injúria racial contra a técnica de enfermagem Maria de Lourdes Teodoro dos Santos, 61 anos. Na ocasião, o médico disse para a técnica “essa nega (sic) merece levar 50 chibatadas”, após Maria de Lourdes ter pedido para refazer um formulário. O caso foi registrado no 2° DP (Piraporinha) como injúria racial consumada.
Professora e especialista em direito das diversidades, Ingrid Limeira explicou que, em linhas gerais, o crime de racismo se configura quando a ofensa atinge um grupo em questões de raça, religião, orientação sexual ou gênero. A injúria racial, por sua vez, tem caráter mais personalizado. “Como a ofensa foi ‘essa nega’, especificamente contra ela, é classificado como injúria racial e cabem dois processos. O criminal, porque injúria racial é crime, e o cível, por danos morais, já que foi ferida em sua honra”, pontuou.
LEIA A ÍNTEGRA DAS DUAS NOTAS ENVIADAS PARA O DIÁRIO
Grand Plaza Shopping
“O Grand Plaza Shopping informa que repudia qualquer tipo de discriminação e acrescenta estar averiguando os acontecimentos para as devidas providências, ressaltando, desde já, que estará à disposição das partes envolvidas, bem como das autoridades competentes para cooperar com eventuais esclarecimentos que se façam necessários.”
Daiso
"Cumpre informar que a Daiso não compactua com qualquer ato discriminatório e/ou preconceituoso, repudia todo e qualquer ato de racismo.
No caso em tela não houve qualquer atitude racista por qualquer colaborador da loja e/ou pela própria loja, inclusive tal fato já foi esclarecido em conversa com o pai da menor envolvida.
As 3 (três) menores (com 12 anos aproximadamente) estavam desacompanhadas de qualquer responsável (adulto) no shopping;
A abordagem está sendo apurada pela loja a fim de que sejam constatados se, de fato, houve algum excesso, o que até o momento não foi comprovado, sendo completamente descartada qualquer abordagem de cunho racista.
Infelizmente é comum a existência de furtos em lojas, razão pela qual, sempre que ocorre alguma suspeita, o segurança do shopping é acionado para que, em conjunto com um colaborador verifique e apure o caso com toda a educação, discrição e cuidado e, quando envolve menor, os funcionários estão orientados a acionar os pais e/ou responsáveis. Não havendo a presença de qualquer responsável, a abordagem é imediatamente cessada.
A Daiso não divulgará as imagens, visto que envolve menores e a imagem das menores deve ser preservada. Em sua página no Facebook, a empresa também divulgou uma nota de esclarecimento.
Permanecemos à disposição para quaisquer esclarecimentos complementares."
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