Cultura & Lazer Titulo Artes plásticas
Ordalina Candido: vida de luta reconhecida

Artista plástica e arte-educadora, ganhará título de cidadã diademense

Por Vinícius Castelli
08/04/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 “No colégio tive de aprender a sofrer sorrindo.” A vida de Ordalina Candido, paranaense radicada em Diadema, nunca foi fácil. Negra da periferia, para ela, todo dia é uma luta. Perdeu as contas de quantas vezes escutou que negro não tem a mesma inteligência que branco, ou que ‘negro e pobre pintando é malandragem. Tem de ter cuidado, pois vai roubar’. Ainda assim, não lhe falta esperança. Com essas e tantas outras histórias, nunca desistiu de uma vida melhor, tampouco de se tornar um ser humano disposto a vencer desafios. E mais: ajudar os que precisam de apoio, caminho, orientação e, principalmente, de um abraço.

Agora, a artista plástica de 73 anos será reconhecida com o título de cidadã diademense por suas cinco décadas de luta. O ato será realizado na Câmara Municipal da cidade (Av. Antônio Piranga), dia 17, às 19h. A solicitação foi pedida dia 25 de agosto por G.Santos – rapper e representante da diversidade cultural de Diadema, além de pupilo da artista – por meio do projeto Expressão Musical Arte Livre.

Ela está feliz, pois será notada publicamente pelo seu dom artístico, sim. Mas também, e principalmente, pelo trabalho social que realiza, tanto em sua comunidade quanto na ONG Rede Cultural Beija-Flor, onde foi educadora e da qual participa há 25 anos. Isso sem contar nas ações que desenvolveu junto dos jovens da Fundação Casa.

É no sobrado em uma esquina do Jardim Inamar que fica o ateliê de Ordalina. Um café quente e muitas histórias sempre estão disponíveis para quem a visita. A artista ainda busca ajuda financeira para terminar a reforma do local. Perdeu diversas obras recentemente por conta de chuva e umidade. Mas nem isso a faz esmorecer.

Entre as tantas obras que ilustram seu ateliê – e podem ser compradas – está Morro do Samba, que retrata a periferia. Ela conta que as crianças se identificam e, por se tratar de uma pintura, passam a sentir orgulho de onde vivem. Outra dela é de um navio negreiro. “Foi como meu avô veio para cá (Brasil), acorrentado. Ainda escuto os gritos dele”, afirma Ordalina. Para ela, o racismo ainda existe e é preciso acabar com ele.

Ao invés de se lamentar sobre as dificuldades da vida, a artista arregaça as mangas para ajudar ao próximo. Usa o exemplo de sua mãe, Maria, que, mesmo com todas as dificuldades e o preconceito que sofreu, trabalhou em troca dos estudos da filha. Fez questão que Ordalina tivesse acesso à Educação. Hoje a artista usa o salão onde estão seus quadros para que os jovens aprendam algo. “Ao invés de as crianças da periferia venderem drogas, elas crescem em um ambiente em que podem aprender alguma coisa, podem conversar”, diz. “Me sinto realizada de ter ajudado alguém, mas preciso ajudar mais gente”, reflete.




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