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O homem global e os valores regionais
Wilson Marini
Da APJ
02/09/2013 | 07:00
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“Nada do que foi será do jeito que já foi um dia”, diz canção de Nelson Motta e Lulu Santos que fez sucesso nos anos 1990. Naquela década, o mundo tomou consciência da globalização e passou a discutir as vantagens e desvantagens das novas tendências mundiais. Os efeitos da globalização sobre a vida das pessoas e a nova dinâmica das cidades tornaram-se tema de reflexão permanente em todos os cantos do mundo. Para o escritor Vaclav Havel, ex-presidente da República Checa, “tudo o que acontece inevitavelmente atinge a todos e diz respeito a todos nós”. No entanto, paradoxalmente, por mais que o processo globalizante se acelere, os valores regionais são considerados cada vez mais importantes como referência para as pessoas. Nesse contexto, aumenta na mesma proporção a importância da imprensa local e regional no papel de integração e mediação.

Informação

Em nosso caso, a aventura humana pela descoberta do mundo global teve início no século 15 com a América visitada por Colombo. No fim da Idade Média, e ainda na metade do século 20, a grande maioria da população vivia no campo, trabalhando a terra e criando os animais. As pessoas compartilham atualmente um estado móvel na sociedade urbana mundial. A telefonia celular, a internet e as constantes viagens mudaram os paradigmas em favor de uma reconexão da humanidade consigo mesma. Antes, a cidade era um mundo; agora o mundo é uma grande cidade. Não há dúvida também que materialmente as pessoas evoluíram e ampliaram-se o conforto, as possibilidades de lazer e a expectativa de vida. Mas as pessoas estão mais felizes neste novo mundo? É uma discussão que merece ser feita.

Transnacional

A globalização transformou a face das cidades e de todo o planeta “numa coisa nunca vista antes”, segundo as palavras do economista japonês Keinichi Ohame, autor do livro O Fim do Estado Nação. Diz ele: “Trata-se de uma nova espécie de processo social, uma civilização genuinamente transnacional, alimentada pela exposição à tecnologia e pelas mesmas fontes de informação”. No novo milênio, o ser humano é mais global ou mais regional?

Homogeneidade

“Cuidado ao embarcar para não dar de cara com você mesmo no aeroporto, já voltando”. A frase irônica é mencionada pelos jornalistas alemães Hans-Peter Martin e Harald Schumann em livro escrito a quatro mãos As Armadilhas da Globalização, em que exaltam a velocidade das transformações na comunicação e transporte dos dias atuais, consequências de um mundo “que se torna um só”. Mas advertem: “Não é dessa forma que será realizado o sonho da humanidade de um intercâmbio de mútuos interesses ou um melhor entendimento entre os povos.”

Parte do todo

Para muitos autores, é um mito a figura caricata de um ser humano universal padronizado e sujeito à mesma lógica, valores e gostos. O filósofo Alberto Oliva é um deles. “Somos preferencialmente definidos como cidadãos de um país, membros de uma família, funcionários de uma empresa, etc. Temos laços afetivos com a terra onde nascemos e criamos vínculos emocionais com os grupos a que pertencemos. Somos unidade irredutível e mera parte da realidade.”

Poder local

Sobre isso diz o sociólogo e urbanista espanhol Manuel Castells: “Não se pode pensar em termos globais porque as questões se tornam muito abstratas. É preciso pensar localmente, começando por discutir quem você é, onde você vive, o que é que você quer fazer, qual a sua identidade e qual a sua história. Só depois de bem claras e enraizadas, essas respostas podem começar a agir para ter mudanças globais, a partir dos interesses e valores individuais, com a consciência de que o resultado último dessas ações vai afetar o global, mesmo que muitas vezes isso seja um processo de passo a passo e de vitórias em batalhas locais”.

Educação e jornalismo

Nos dias 9 e 10 de setembro será realizado em São Paulo o 1º Seminário Internacional de Educação, Jornalismo e Comunicação, organizado pelo IICS (Instituto Internacional de Ciências Sociais). O evento reunirá educadores e comunicadores para discutir a cobertura do tema Educação na mídia e divulgar o conhecimento gerado por trabalhos acadêmicos. Os painéis: Cobertura jornalística e linhas editoriais sobre educação na América Latina; Comunicação, educação e tecnologia; Contribuições e desafios derivados da presença de economistas na educação; e Direito e judicialização da educação.  




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