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Família de Tite teve aval para receber benefício público

Firma da cunhada do prefeito interino de São Caetano foi inscrita para vender merenda pelos créditos da Ticket

Júnior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
24/09/2021 | 00:01
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Claudinei Plaza/DGABC


Empresa da família do prefeito interino de São Caetano, Tite Campanella (Cidadania), teve aval para receber indiretamente recursos públicos por meio de benefício municipal. A Uniamo, firma que atua no ramo alimentício e que possui como dona formal a cunhada do chefe do Executivo, foi habilitada para aceitar créditos do cartão merenda, distribuído aos pais de alunos da rede municipal durante a pandemia de Covid-19.

A permissão deu à Uniamo o direito de vender merenda às famílias cadastradas no benefício municipal, lançado ainda no ano passado pelo então prefeito José Auricchio Júnior (PSDB), aliado de Tite, como forma de garantir a alimentação dos estudantes durante a suspensão das aulas presenciais no município. Todo mês, a Prefeitura depositava R$ 90 em cada cartão, administrado pela Ticket Serviços S/A, e os valores tinham de ser gastos em comércios cadastrados.

Sediada em São Caetano, a Uniamo, cuja razão social é Carmela Galati Comércio de Alimentos Eireli, possui como única sócia a empresária Carla Galati, irmã de Renata Galati, mulher de Tite. A firma adota dois nomes fantasias: Uniamo e ‘As Merendeiras’. Esse último, inclusive, é o que consta na lista divulgada pelo próprio Palácio da Cerâmica com a relação dos estabelecimentos credenciados a receberem os créditos do cartão da Ticket. Na época em que o benefício começou a ser distribuído, em maio do ano passado, a Uniamo já constava no documento. Na ocasião, Tite exercia mandato de vereador e era líder do governo Auricchio na Câmara.

No ano passado, o benefício ficou vigente até dezembro e foi retomado pela gestão interina em abril, também em novo contrato firmado sem licitação com a Ticket – por causa da crise sanitária, a legislação permitia a formulação de acordos durante a pandemia sem a necessidade de concorrência.

Apesar de a Uniamo ter como única dona a cunhada de Tite, dados da própria empresa indicam que a firma integra grupo liderado pelo sogro do prefeito interino, Roque Galati. Na ficha do CNPJ da Uniamo junto à Receita Federal, o e-mail cadastrado é o da Engefood Equipamentos e Representações Ltda, cujo sócio majoritário é o sogro de Tite. Carla e Renata, inclusive, também constam como donas dessa última empresa. O endereço das sedes da Uniamo e da Engefood também são os mesmos nos dados da Junta Comercial paulista: Rua dos Autonomistas, número 123, no bairro Santa Paula.

O Diário questionou tanto o governo Tite quanto a Ticket sobre o processo de escolha dos estabelecimentos credenciados. Por nota, a empresa desconversou sobre os critérios utilizados para o cadastramento das empresas. Já a gestão interina negou que tenha tido participação nesse cadastramento. “Os 310 estabelecimentos credenciados no município solicitaram por si só o credenciamento diretamente com a empresa Ticket, a qual analisa toda documentação, verifica se os estabelecimentos estão com toda documentação em dia e dentro dos critérios estabelecidos pela empresa”, alegou o Paço, por nota.

Gestão interina é alvo por nepotismo

A gestão interina de Tite Campanella (Cidadania), em São Caetano, registra outro episódio envolvendo benefícios à família do prefeito em exercício.

Depois de o Diário revelar que o governo Tite mantinha o irmão mais velho do prefeito interino, o ex-vereador Adauto Campanella (PSDB), em cargo comissionado no Saesa (Sistema de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental), o Ministério Público de São Caetano instaurou inquérito para investigar a prática de nepotismo no Palácio da Cerâmica. O promotor da área de patrimônio público da cidade, José Roberto Fumach Júnior, chegou a ver indícios da ilegalidade e instaurou a investigação.

O superintendente do Saesa, Rodrigo Toscano, só exonerou Adauto depois da pressão do MP são-caetanense. Apesar da demissão, o inquérito na promotoria segue aberto.

Na autarquia, Adauto ocupava o posto de assessor da superintendência 2, e recebia salário mensal de R$ 11.845,74 brutos. O Diário apurou que a exoneração do ex-parlamentar custará R$ 35,4 mil aos cofres do Saesa. O recurso, originado de verbas rescisórias já foi empenhado pela autarquia e será pago ao irmão do prefeito interino.

O Diário também revelou que Tite mantém a ex-mulher Marie Claire Markesz em cargo terceirizado na administração. Ela atua como assistente social e o vínculo trabalhista com o município é por meio da FUABC (Fundação do ABC), contratada para gerir os equipamentos de saúde na cidade. 




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