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Sequelas da Covid vão de problemas nos pulmões até doenças crônicas

Impactos da infecção variam de acordo com o paciente; prefeituras farão acompanhamento

Por Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
23/09/2020 | 00:01
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Nario Barbosa/DGABC


O desenvolvimento e os impactos da Covid-19 nas pessoas ainda estão sendo estudados. Porém, já se sabe que a doença pode deixar sequelas, que variam de complicações causadas pela internação ao desenvolvimento de doenças crônicas, além de agravar quadros preexistentes. Por este motivo, identificar e acompanhar pacientes que foram diagnosticados com o coronavírus mesmo após a cura é essencial para entender como a infecção se comporta.

Segundo Mônica Lapa, pneumologista e professora da escola de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), entre as sequelas mais comuns estão fibrose pulmonar (causa endurecimento e redução progressiva do tamanho dos pulmões, diminuindo a captação de oxigênio e causando falta de ar), trombose pulmonar (quando coágulo entope vaso, impedindo a passagem de sangue, resultando na morte progressiva da parte afetada) e trombose cerebral (AVC).

Estudos indicam que também há risco de problemas no coração e nos rins, mais frequentes nos pacientes que já tinham transtornos cardiovasculares ou insuficiência renal. Fora isso, há sequelas causadas pela internação. “Quanto maior o tempo de internação, maior perda muscular”, afirmou Mônica. Os problemas incluem fadiga, falta de ar e redução da capacidade cardiorrespiratória. Boa notícia é que algumas destas sequelas podem ser tratadas com fisioterapia.

“É importante avaliar entre os infectados quantos ficaram com sequelas. É preciso dar prazo de pelo menos três meses para saber se há resolução completa do quadro”, explicou a docente da USCS. Para isso, a universidade vai trabalhar em parceria com a Prefeitura em ambulatório para acompanhamento pós-Covid que estará disponível até o fim do mês, no bairro Barcelona. Os atendimentos serão exclusivos para moradores de São Caetano que tenham indicação médica para tratamentos específicos.

Estrutura semelhante será disponibilizada por Ribeirão Pires a partir de hoje, no Serviço de Atenção Especializada, no Centro. Entre 14 e 21 dias após a alta hospitalar, o paciente internado em emergência ou com quadro de internação grave fará a primeira consulta. Após realização de exames, será avaliada a necessidade de encaminhamento ao atendimento psicológico ou fisioterapêutico.

A Prefeitura de Diadema informou que estuda a possibilidade de ambulatório específico para acompanhamento de pacientes pós-Covid. Em São Bernardo, a administração alegou que oferta tratamento pós-Covid a pacientes com sequelas da doença. “Os pacientes que recebem alta hospitalar são encaminhados para as UBSs (Unidades Básicas de Saúde), onde passam por avaliação e, de acordo com o quadro, são encaminhados para o pneumologista ou mantém tratamento na UBS.” 

Clínica de transição auxilia na reabilitação

O operador de máquinas Jorge Santos da Silva, 55 anos, estava em tratamento de câncer gastrointestinal quando pegou a Covid-19. Internado para tratar pancreatite, em decorrência do câncer, o morador de São Bernardo, que também foi diagnosticado com Síndrome de Guillain Barré em 2019 – doença em que o sistema imunológico ataca os nervos –, estava com formigamento e o corpo paralisado do pescoço para baixo.
 

Após passar um mês na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e 18 dias internado, foi para casa com os cuidados de home care, até que em 9 de junho passou mal e descobriu a contaminação por Covid-19. Foram mais 30 dias de internação, até que estivesse curado. Porém, debilitado, foi encaminhado para clínica de transição, cuidado secundário entre a hospitalização e o atendimento doméstico.

Depois de três meses, Silva finalmente teve alta para ir para casa, já sem a traqueostomia (cirurgia feita no pescoço para respiração artificial) e fazendo atividades sozinho, como se alimentar e escovar os dentes. “O paciente sofreu diversas agressões e por ter uma doença neuromuscular, havia risco de falência respiratória”, explicou o diretor clínico e sócio da Nobre Saúde, Richard Rosemblat. 

O médico detalhou que foi feito plano para o paciente, com recuperação da massa muscular para readquirir as habilidades da vida. “Comer sozinho, sentar, transferir-se da cama para a cadeira, usar o banheiro de maneira autônoma”, citou. “Iniciamos o trabalho de reabilitação e conquistamos metas. Conseguimos avanços e demos os caminhos para o futuro.”

Em casa desde o dia 10 de setembro, Silva não se lembra de muita coisa dos períodos de internação, mas se recorda dos três meses em que ficou na clínica. “O atendimento foi excelente”, elogiou. Mulher de Silva, a dona de casa Paula Regina Silva de Oliveira, 38, comparou o período na clínica e o atendimento em casa. “Como são vários quartos, a gente fica muito à vontade. Mas diferente do home care, onde os profissionais chegam da rua, na clínica é mais seguro”, completou (Aline Melo).



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