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Sem verba suficiente, UFABC já admite fechar ano no vermelho

Instituição vive momento crítico, sem
garantias de honrar compromissos financeiros

Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
11/09/2017 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


 “Estamos sobrevivendo (com recursos) abaixo do mínimo necessário. E, infelizmente, esta geração não tem o Ensino Superior em sua plenitude, o que trará impactos futuros. Quando a crise financeira for superada e a inflação, controlada, vamos perceber os prejuízos do baixo investimento em ciência e tecnologia para o País”. O alerta do reitor da UFABC (Universidade Federal do ABC), Klaus Capelle, expõe o cenário preocupante da instituição instalada no Grande ABC há 11 anos e que, pela primeira vez, não tem garantias de que conseguirá terminar o ano sem dívidas.

A realidade da UFABC, assim como a das demais federais brasileiras, está longe de ser condizente com o que se espera de instituições reconhecidas internacionalmente pela qualidade do ensino ofertado – ela foi considerada a 18ª melhor universidade do mundo (empatada com outras cinco instituições), entre as criadas após o ano 2000, no ranking Millennial Universities da Times Higher Education, instituição britânica.

“Nosso parque de equipamentos está ficando velho e sem manutenção, porque se falha algum, não temos verba para consertar. Não estamos mais conseguindo arcar com as passagens de professores convidados para as bancas de defesa que são realizadas aqui. Nossa pesquisa não está parada, mas está em ritmo muito reduzido, porque faltam insumos para os laboratórios”, destaca Capelle. Depois de um primeiro semestre voltado ao corte de despesas, a instituição chegou no limite. “Não temos mais onde cortar. O único compromisso é honrar com a manutenção das bolsas de estudo, que são sagradas (são 1.278 benefícios, o que demanda R$ 600 mil por mês). De resto, não temos como garantir as contas de água e luz, os insumos, o pagamento de fornecedores.”

A situação é reflexo da soma de dois problemas: o orçamento aprovado para o custeio da UFABC neste ano – R$ 38,5 milhões – é 22,45% menor do que o observado no ano passado. Além disso, 25% do montante segue contingenciado pelo MEC (Ministério da Educação), conforme o reitor. “Mesmo se a gente tivesse a garantia de receber 100% desse valor, ainda seria muito baixo. Não temos reservas, então se não houver novos repasses, vamos fechar o ano no vermelho”, revela Capelle.

No mês passado, os cinco primeiros reitores da UFABC – Klaus Capelle (desde 2014), Helio Waldman (2010 a 2014), Adalberto Fazzio (2008 a 2010), Luiz Bevilacqua (2007 a 2008) e Hermano Tavares (2005 a 2007) – publicaram carta aberta intitulada A missão da Universidade em Tempos de Crise no Jornal da Ciência da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Na visão dos autores, “cortes na Educação e na Ciência podem, no curtíssimo prazo, levar a alguma economia de recursos, mas ao mesmo tempo secam as sementes de uma futura recuperação mais duradoura e vigorosa”. “Uma das preocupações é essa crise de convívio na sociedade, essa polarização. E aí temos duas opções. Ou nos unimos para resolver o problema ou continuamos nessa guerra”, ressalta Capelle, cujo mandato se encerra em dezembro.

Faltando pouco mais de três meses para o fim do ano, outra preocupação ganha ênfase: o orçamento de 2018. “Estamos sempre buscando diálogo com o MEC. Se a situação do custeio é difícil, a do investimento é ainda pior (dos R$ 27 milhões previstos, metade foi contingenciada). Estamos conseguindo fazer o acabamento dos prédios na parte externa (no campus Santo André) e, na obra da Unidade Tamanduatehy (anexo em terreno localizado do outro lado da Avenida dos Estados), estamos erguendo um dos três blocos previstos, o menor deles, mas é uma construção que ainda vai levar um ou dois anos e depende de verba dos próximos orçamentos”, observa.

COMPLEMENTO

O MEC autorizou, na quarta-feira, a liberação de R$ 36,2 milhões para universidades e institutos federais de São Paulo, o que inclui a UFABC. Conforme a União, com o montante, chega a 80% a liberação orçamentária para as federais.




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