Todos os números são grandiosos, já que se trata sobretudo de “vender” para o público um acontecimento extraordinário: cenário com 15 m de altura, malabaristas, dançarinos, shows pirotécnicos, projeções, solistas europeus, coral de 80 vozes, orquestra com 71 músicos, cerca de 300 figurinos etc.
A direção geral e a regência são responsabilidades de Walter Haupt, um alemão de Munique, como o compositor da Carmina Burana e, além disso, amigo de Carl Orff (1895-1982). Haupt diz que busca encenar a obra segundo o desejo do compositor. E devemos acreditar nisso, pois Orff construiu sua reputação exatamente amplificando de modo sempre formidável – no sentido de fabuloso – princípios criativos até certo ponto muito simples. Tanto que nas instruções da partitura ele escreve: “Canções profanas para cantores e coral, para serem interpretadas com instrumentos e imagens mágicas”.
A receita é clara: acordes sempre perfeitos e nenhuma dissonância que desagrade muito a todo tipo de ouvidos. E, ainda, ritmo. Muito ritmo, de preferência hipnoticamente repetido à exaustão. A pitada exótica fica por conta da apropriação de textos profanos em latim medieval – cantando, pela ordem, as delícias da natureza, do vinho e das mulheres. A forte crítica à Igreja conclui um ideário que agradou muito ao então chanceler do Terceiro Reich, Adolf Hitler, na estréia, em 1937.
Os solistas pertencem a países do Leste Europeu, nações hoje esfaceladas social e economicamente. Por essa razão, é um grupo de cantores e cantoras competentes que não pode recusar nenhum tipo de trabalho.
Isso não quer dizer, porém, que o espetáculo do Credicard Hall não seja um ótimo programa. É. Mas para pessoas que gostam de megashows, situações em que o impacto visual conta mais do que a qualidade artística. Foi assim no desastroso espetáculo de 1995, no Pacaembu, com Júlio Medaglia na regência. Pode ser que em um ambiente fechado as coisas melhorem do ponto de vista musical.
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