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‘Grande ABC tem potencial de região turística’, diz ministro Vinicius Lages

Vinicius Lages frisa que o conjunto das sete cidades
pode, com criatividade, depender menos da indústria

Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
31/03/2015 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


No cenário da economia nacional, o Grande ABC sempre foi conhecido como parque fabril, principalmente pelas indústrias automotivas. A crise pela qual o Brasil passa faz com que a região sinta na pele reflexos da retração econômica. Mas o ministro do Turismo, Vinicius Lages (PMDB), acredita que as sete cidades podem formar polo turístico, aproveitando combinação de áreas de natureza nativa com as grandes montadoras.

“O Grande ABC é o quarto maior PIB (Produto Interno Bruto) do País, tem renda aqui. Tem renda e competência. Dá para se pensar no desenvolvimento”, comenta.

Em visita à sede do Diário e depois de se reunir com prefeitos no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, Lages diz crer em mudança de rota para fazer do Grande ABC destino turístico nacional e internacional. “Precisa construir uma marca. As pessoas não têm ideia e precisam saber que há oferta turística. Você precisa trabalhar toda a cadeia”, defende.

Para atingir esse patamar, segundo o ministro, a região necessitaria expandir sua economia de serviços, desvinculando suas atividades financeiras ao desempenho das automobilísticas que impulsionaram as sete cidades na segunda metade do século 21. “Há muito trabalho para ser feito, uma longa trajetória, mas o primeiro de tudo é tomar consciência de antecipar esse novo ciclo da economia de serviços.”

Confira a entrevista completa:

Qual agenda que o sr. veio cumprir no Grande ABC? Como foi o debate no Consórcio Intermunicipal?
Vim aqui atendendo a um pedido do presidente da comissão de Turismo da Câmara, o deputado Alex Manente (PPS), numa primeira visita que fiz à comissão. Ele colocou esse desafio, de integrar as ações de promoção e oferta turísticas. O prefeito Gabriel Maranhão (PSDB) tinha falado das iniciativas que tentavam imprimir de turismo industrial, por meio da condição econômica desta região, e também o salto da economia de serviços. Tem recursos do ministério (para esse projeto). Algumas que são iniciativas de interesse comum, como a sinalização turística. Dá para tratar o Grande ABC como destino turístico. Todas as iniciativas estão voltadas em turismo de natureza, ligada aos mananciais, mas é região industrial e urbana, com forte densidade. É área que o Brasil tem forte apelo internacional.

Há espaço para dialogar com São Paulo, que está muito próxima do Grande ABC, na parte de turismo?
A proximidade com São Paulo permite que você trabalhe com essa consolidação da oferta turística aqui de maneira integrada. Precisa construir uma marca. As pessoas não têm ideia e precisam saber que há oferta turística. Você precisa trabalhar toda a cadeia. Não é porque tem fábrica que vira atrativo. Algumas fábricas permitem visitação como em outros lugares do mundo. Há o turismo de negócios, ligado à economia do Grande ABC, mas também tem o turismo de natureza e ambiental que alguns municípios oferecem.

O Grande ABC tem margem para ser potência turística, um polo turístico?
Sem dúvida. Evidentemente que cada município tem sua peculiaridade. Uns são mais urbanos e outros mais voltados à natureza. Tem grande represa (Billings), cidades com grande parte de Mata Atlântica (nativa). Precisa trabalhar a gastronomia, os eventos, a capacitação de pessoas, ser inventivo e criativo, trabalhar toda essa parte de competência que a região tem. A região chegou aos limites das vantagens competitivas na economia industrial. Para dar salto da economia de serviços, precisa ter a mesma trajetória, de formação de pessoas. A região começou esse desenvolvimento industrial com migrantes de várias partes do País que mal tinham ainda formação técnica. Adquiriram pouco a pouco, através do Sistema S depois com institutos federais de Educação. Se o Grande ABC quer dar salto na direção de economia de serviços em que o turismo pode ser o carro-chefe, ponta de lança, tem de percorrer o trajeto que foi percorrido pela economia industrial, com as mesmas disposições de atração de investimentos para economia industrial. Aqui tem vantagem grande que a CVC tem sede em Santo André. Vale muito a pena ver de que forma uma grande operadora pode trabalhar a favor disso.

De que forma pode se produzir esse turismo mais fabril?
Tem o óbvio, que é utilizar as fábricas existentes. Às vezes o turista quer ver o ciclo de produção, a robótica, às vezes é o processo de algum componente. Hoje pode, com impressora 3D, você criar miniatura, ter experiência lúdica. Aqui é o coração da indústria automobilística. O Brasil não tem centro de visitação de experiências ligadas ao automobilismo e mobilidade. Na Alemanha há museu espaço lúdico. Podemos utilizar o exemplo do Museu da Língua Portuguesa e o Museu do Futebol com o automóvel. Contar a trajetória da indústria automobilística. Desde autorama, oficinas de design, educação para o trânsito, miniatura. Pode criar grande plataforma lúdica e informativa também. (O autódromo de) Interlagos não é longe daqui, há sede de multinacionais. Dá para se pensar em várias formas em se explorar esse potencial. À medida em que o Consórcio tem determinação de fazer deste setor eixo importante, dá para trabalhar.

A cidade teria de se preparar para isso, não é?
Podemos trabalhar nisso, ajudar a montar esses centros e desenvolver o demais. Informação turística, a sinalização, é importante. Você tem necessidade de ter totens inteligentes, a cidade tem de ser inteligente para se tornar destino atraente. As pessoas têm de saber da existência da oferta, em poder usar a internet nos principais centros de visitação. O Grande ABC não está no imaginário do brasileiro ou dos estrangeiros.

Até por esse fato de a região não ser lembrada como ponto turístico é que o trabalho seria árduo...
Há muito trabalho para ser feito, longa trajetória, mas o primeiro de tudo é tomar consciência de antecipar esse novo ciclo da economia de serviços. Os produtos que aqui são feitos podem ser transportados para outros setores, como medicina, não necessariamente à indústria automotiva. A Itália tem feito muito isso. À medida em que se tem acúmulo de serviços de processo, você precisa ter multiplicidade de aplicações, sempre tentando agregar serviços e percorrer uma trajetória que tornou isso daqui um dos principais tecidos econômicos do Brasil que foi capaz de produzir Scania, Volkswagen, Ford, General Motors. Há competência, agora é só percorrer para a economia de serviços.

De que forma a crise econômica e o enxugamento de gastos por parte da presidente Dilma Rousseff (PT) afetaram sua Pasta?
A ideia é fazer muito com pouco. Em ano desafiador como este, há muitas medidas que não têm impacto fiscal relevante no campo da legislação, do ambiente de negócios do Brasil. (Podemos incentivar) Processo de licenciamento, zoneamento de áreas de interesse turístico, aproveitamento de áreas de patrimônio histórico. Tem ativos que podem ser modificados, processos de licenciamentos que podem ser simplificados e construção de portfólio importante de atração de investimentos, talentos e negócios. Faria com que o Brasil, como um todo, ganhasse. Aqui mesmo no Grande ABC, se houver postura muito radical, ‘ninguém entra e ninguém faz nada’, fica possível atrair investimento internacional. Eu diria, com muita tranquilidade, sabendo que há proximidade enorme da área urbana, que há demanda por bem-estar e turismo de saúde, proximidade de grandes redes hospitalares. Há possibilidade de zoneamento em áreas que ainda têm vegetação preservada para que possa ser objeto de investimento sem, evidentemente, expansão do processo de habitação, com equipamentos de pouco impacto. O turismo se tornaria vetor da própria preservação. Sobre crise internacional especificamente, em vários países há retomada de crescimento, como Estados Unidos, Portugal, a China. São 110 milhões de turistas chineses que gastaram US$ 665 bilhões e o Brasil recebe muito pouco (turista) chinês. Foram só 170 mil. Brasil tem muito a avançar no turismo internacional.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), tem pregado que a Capital tenha esse viés turístico de lazer. Como a União vê esse debate?
São Paulo é um dos principais destinos atratores de turismo de negócios, mas também o de lazer. Cada vez mais novas Vilas Madalenas estão sendo descobertas. É uma cidade com tecido urbano que pode oferecer experiências muito interessantes ligadas à Cultura e à economia criativa, da astronomia, ciência e tecnologia e conhecimento. O ponto de partida que o Grande ABC tem, apesar de desafiador, é de certa retração e reconversão de rotas industriais. Assim, abre possibilidade de você pensar isso e sair sem ter drenagem de cérebros e de atividades industriais. Não é algo trivial, mas outros países fizeram. Antes que isso chegue à situação mais dramática, como Detroit. O Grande ABC é o quarto maior PIB (Produto Interno Bruto) do País, tem renda aqui. Tem renda e competência. Há elementos primordiais. Dois aeroportos, o porto, rodovias, Metrô chegando. Dá para se pensar no desenvolvimento.

E que tipo de atitude precisa ser tomada para que essa ideia vingue?
Atitude de cooperação que se estabelece neste Consórcio, com todas as diferenças que se podem ter. Aqui é o berço da política nacional, do sindicalismo, do confronto. Temos reflexos na diferença de abordagens e condições de se gerar agenda comum. Mas há intenção para isso e me motiva para poder ajudar e fazer case de entrada de economia de serviço em tecido urbano industrial tão histórico quanto é o Grande ABC.




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