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A fama de mau de Dalton
Gabriela Germano
Da TV Press
01/04/2008 | 07:00
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Dalton Vigh esperava viver um personagem bem diferente do Marconi Ferraço, de Duas Caras. Depois de encarnar o malvado espancador Clóvis, de O Profeta, o ator queria enveredar para a comédia, viver um tipo engraçado em uma novela. Mas acabou sendo escalado para interpretar o vilão da trama das nove da Globo. Nem por isso reclama da oportunidade. Muito pelo contrário. Segundo Dalton, na ficção a maldade compensa. Apesar de todas as falcatruas do personagem, o resultado junto ao público tem sido bom. “Todos me abordam com muito respeito e as pessoas pedem para que eu devolva o dinheiro da Maria Paula”, conta. O ator confessa ainda que mais do que causar temor, os carrascos da ficção costumam fascinar parte das telespectadoras femininas.

 

Você disse que queria ficar um tempo sem fazer vilões depois do Clóvis, de O Profeta. Qual foi a sua reação ao ser escalado para viver Ferraço, o mau-caráter da novela da nove?

DALTON VIGH – Esse convite veio para queimar a minha língua. Mas os personagens são completamente diferentes. O Clóvis era um psicopata e o Ferraço é um sociopata. Não sei se na cabeça das pessoas um está bem diferente, mas minha intenção sempre foi diversificá-los.

 

Vilão de novela é o papel que todo ator quer. Por que você desejava fugir desse tipo?

VIGH – Porque queria fazer um trabalho cômico na TV. Mas no caso de Duas Caras, fiquei seduzido justamente pelo fato de ter de incorporar mais um vilão, sendo que o Clóvis ainda estava muito recente na cabeça das pessoas. Achei que poderia ser um bom exercício para mim. Sem contar que o vilão é sempre fundamental. Sem ele não há história. Penso até que é mais fácil dar vida ao malvado do que ao herói romântico. Porque o vilão tem falhas de caráter, desvios de comportamento, problemas psicológicos. É muito mais informação para trabalhar em cima. Já o mocinho tem uma trajetória mais previsível, precisa ser um exemplo de moral e ética. Aí fica difícil não torná-lo uma figura chata.

Como tem sido a resposta do público?

VIGH – As pessoas vivem fazendo piada comigo na rua. O que mais ouço é que devo devolver o dinheiro da Maria Paula. Mas sempre me abordam com muito respeito. A repercussão de uma novela das nove é algo que não dá para medir, mas por incrível que pareça, mesmo com a mudança de visual, tem gente que ainda me pára para falar sobre o Clóvis. Isso me espanta mais porque o horário das seis era bem mais complicado e eu não parava de ouvir: ‘não bata na menina!’. Apesar de também escutar mulheres pedindo para trancá-las no sótão, como o personagem em O Profeta fazia.

Esse fascínio também aparece em relação ao Ferraço?

VIGH – Sim, muito. Porque o Ferraço tem toda uma aura de poder. Ele é rico, bem-sucedido, veste-se bem, tem bons carros, mora em uma bela casa. Isso fascina bastante gente. O Said, de O Clone, também tinha poder e fascinava por isso.

Você acha que o seu tipo físico contribui para que você interprete personagens ricos e bem-sucedidos?

VIGH – Tenho certeza. Até hoje não fiz um feirante ou um mecânico, por exemplo. Até brinco que entrei para a carreira de ator e não fui fazer direito ou administração de empresas para não usar terno. Mas me danei porque eu só uso terno (risos).

A TV tem te obrigado a interpretar sempre um mesmo tipo?

VIGH – Não adianta lutar contra. Eu tenho um tipo físico que me restringe e sei que não posso fazer todos os personagens que tenho vontade. Adoro o João Grilo, do Auto da Compadecida, mas não tenho chance de fazê-lo. No teatro eu já fiz mais comédia do que drama. E é por isso que depois do Ferraço eu espero que venha um personagem mais leve.

Como você costuma avaliar o seu trabalho?

VIGH – Uma das coisas mais difíceis da carreira do ator é lidar com a autocrítica. Às vezes ela chega à beira da neurose e você acha que está tudo ruim. Mas no caso de Duas Caras tenho acompanhado a novela e passo as cenas com a ‘coach’ para não perder a mão. Como a gente trabalha em um ritmo tenso, muitas vezes não temos tempo de prestar atenção em uma cena ou fazê-la de novo. Temos de chegar com o trabalho pronto.

Na trama, a história do personagem parece se transformar depois do encontro com o filho. Você acha que o vilão de Duas Caras pode terminar como o mocinho?

VIGH – Acho que vai depender dos atos do personagem e até que ponto vai se dar essa transformação. O Ferraço é uma figura sem sentimentos, mas a história dele com o filho surpreende. Ele é um cara frio que fica totalmente derretido quando está com a criança. É uma pessoa dura, as pessoas têm medo de chegar até ele. Mas o filho, não. O garoto mostra um tipo de carinho para o Ferraço que o deixa desconcertado.

 

Você estreou na Manchete, passou pelo SBT e Record, e fez participações na Globo antes de ganhar papéis de peso na emissora. Você acha que demorou para ser reconhecido?

VIGH – Acho que tudo aconteceu na hora certa. Sempre achei bom ter começado na Manchete para chegar na Globo pronto, com algum tipo de experiência. Nunca tive de recusar papel ou pedir papel. Fiquei um ano fazendo teatro quando me deu vontade de fazer teatro e estava contratado pela Globo. Mas a emissora me deu liberdade para isso. Tudo tem dado certo até aqui.



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