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O PIB regional encolheu; e daí?

Queda na atividade econômica promove desaceleração no mercado de trabalho

Sandro Maskio
28/12/2013 | 01:01
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No dia 17, a Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) divulgou os dados do PIB (Produto Interno Bruto) dos municípios do Estado de São Paulo, referente a 2011. As informações apontaram que a soma de riquezas produzidas pela economia do Grande ABC naquele ano foi de R$ 87,6 bilhões, frente aos R$ 84,8 bilhões apurados em 2010, ambos em valores correntes. Considerando a inflação registrada em 2011, de 6,49%, o PIB do Grande ABC apresentou retração de, aproximadamente, 2,9%. Isso significa que o valor adicionado (o quanto foi gerado em riquezas) produzido na economia da região diminuiu. Setorialmente, a maior retração foi observada na indústria, cuja riqueza produzida diminuiu mais de 8%.

No dia 4 de dezembro o Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo lançou o indicador iABC para projetar o ritmo da atividade na região em frequências temporais menores. A projeção do iABC já apontava a retração do PIB de 2011 na região, assim como prevê recuo para 2012, cujos dados oficiais do Seade só serão divulgados no fim de 2014. Mais do que meramente uma estatística, esse dado revela algumas informações qualitativamente importantes sobre a economia local, e de seus efeitos aos empresários, gestores públicos e trabalhadores.

A queda na atividade econômica promove desaceleração no mercado de trabalho. Nos últimos anos, temos visto redução no ritmo de contratações no mercado formal de trabalho da região, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Desde o recuo observado na taxa de desemprego em 2010, a atividade produtiva, que tem flutuado em torno de 10% da PEA (População Economicamente Ativa), desde 2011, não tem conseguido reduzi-la. A região também apresentou redução real dos salários médios e da massa de rendimentos.

Os números apontados pelo PIB demonstram a pujança da atividade produtiva e maior propensão de surgimento de novos mercados e crescimento dos já existentes, o que é um dos importantes atrativos para as decisões de futuros investimentos produtivos, ou não. Quando há uma diminuição da atividade produtiva, este efeito tem repercussões negativas sobre tais decisões. Nestes casos, afloram as discussões sobre o que há de errado na economia local, em prejuízo das avaliações sobre as oportunidades existentes.

Para o poder público, a curto prazo, a desaceleração na geração de riqueza reflete-se na diminuição da arrecadação tributária, com impacto direto sobre a capacidade de execução de políticas públicas. Uma sequência de períodos com desempenho negativo, com significativa retração econômica, traduzir-se-á em aumento das demandas sociais por vários serviços públicos. A longo prazo, é fundamental compreender a trajetória da economia local, bem como suas mudanças estruturais. Será por meio de diagnósticos qualitativos que os gestores públicos poderão ter em mãos parâmetros sólidos que possibilitem a arquitetura e implantação de ações que visem o estímulo produtivo e o desenvolvimento econômico regional.

Quando analisamos a economia do Grande ABC, assim como de toda a região metropolitana de São Paulo, observamos uma queda na participação dessas regiões no PIB do Estado de São Paulo, e também frente ao PIB brasileiro. Nas últimas décadas, a atividade produtiva tem apresentado comportamento de desconcentração regional na economia brasileira, o que é saudável. O interior do Estado de São Paulo foi a região que apresentou o maior crescimento desde 2000. Ao mesmo tempo, a economia regional parece não ter ‘feito a lição de casa’ para enfrentar e se reinventar nesses tempos de mudanças. Ao que tudo indica, é fundamental a efetivação de ‘pacto regional’ que consiga unir atores econômicos, nos quais se incluem empresários, trabalhadores, gestores públicos (não só regionais) e academia para traçar plano de ação de longo prazo com vista a estimular a atividade produtiva e o desenvolvimento econômico.
 




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