A maioria das pessoas (cerca de sete em cada dez) consegue enrolar a língua, deixando-a em formato parecido com a letra U. Isso deve acontecer por causa de pequenas diferenças na formação dos músculos que compõem o órgão (são 17 diferentes).

Há algum tempo, pesquisadores notaram que grande parte dos casais em que o pai e a mãe não possuem a habilidade, em geral, tem filhos que também não enrolam a língua. Por isso, os especialistas suspeitaram que ter ou não essa capacidade é algo determinado pela genética. E é aí que vem a parte complicada.

A genética é ciência que estuda os genes, códigos no interior das células. Eles são passados de pais para filhos e definem nossas características, como a gente vai ser (cor dos cabelos e olhos, por exemplo) e como tudo no nosso corpo vai funcionar. Os genes determinam ainda como os músculos se formam, como é o caso da língua.

Enrolar a língua depende de um par de genes chamados T e t. Todo mundo tem dois desses genes, um recebido do seu pai e o outro da sua mãe. Em algumas pessoas o par é TT, em outras tt e nas demais, Tt. Todos os que estão no primeiro grupo (TT) conseguem fazer a língua em U. Ninguém do segundo (tt), porém, pode. No terceiro (Tt), varia: a maioria (oito em cada dez pessoas) consegue, mas as demais (duas em cada dez), não.

GÊMEOS
Os gêmeos idênticos têm a mesma formação genética. Assim, se um for TT, o outro também será; o mesmo vale para aqueles que forem tt e Tt.

Então, os dois irmãos TT vão enrolar a língua. Nenhum dos gêmeos tt, entretanto, terá a habilidade. Mas a história muda no caso da dupla Tt; na maioria das vezes (64%), os dois conseguirão deixar a língua em U; na minoria (4%), ambos serão incapazes de fazer isso. E, finalmente, nos casos restantes (32%), um deles vai enrolar e o outro não.

Consultoria de Paulo A. Otto, professor e pesquisador do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.

Animais usam a língua para pegar alimentos

Cada espécie tem a língua adaptada a suas necessidades. Para muitos animais, ela é fundamental na captura de alimentos. Nesses casos, costuma ser bem comprida.

O ‘linguarudo’ mais famoso é o camaleão, cuja língua pode alcançar 1 m de comprimento, quase o dobro do tamanho do bicho, que atinge cerca de 60 cm. O camaleão a lança em grande velocidade em direção ao inseto, que fica grudado na ponta pegajosa. Sem ter como escapar, a presa é levada para dentro da boca do animal.

Com a língua fininha, medindo 60 cm, o tamanduá invade os buraquinhos de formigueiros e cupinzeiros. A saliva grudenta apanha os insetos, que rapidamente são engolidos pelo mamífero.

O pica-pau usa o órgão de forma semelhante; a língua dele chega a 20 cm, quase o tamanho da ave, que tem cerca de 30 cm. A diferença é que, antes, faz buraquinhos no tronco das árvores com o bico para, então, caçar larvas e insetos com a língua.

Além de pescoçuda, a girafa é ‘linguaruda’. O órgão tem aproximadamente 43 cm e a ponta preênsil, com a capacidade de agarrar as folhas, puxar e arrancá-las das árvores.

Saiba mais
O morcego Anoura fistulata, encontrado no Equador, tem a língua maior do que o próprio corpo. Ele mede cerca de 6 cm, mas sua língua pode atingir 8,5 cm!

Nos humanos, o tamanho da língua varia de 6 cm a 10 cm. Além de permitir a fala, é responsável pelo paladar e ajuda a deglutir a comida.

Rayssa dos Santos de Oliveira, 7 anos, de São Caetano, consegue enrolar a língua, mas descobriu que algumas amigas não têm a mesma habilidade. “A Catarina (colega da escola) virou com a mão, mas não conseguiu segurar depois que soltou.” A menina diz que é tagarela, porém, sabe que a língua também é importante para outras atividades. “A gente precisa para comer, sem ela não daria para sentir o gosto da comida.”