Desde os anos 1960, período em que os Beatles conquistaram seu lugar no panteão do pop, John Lennon (1940-1980) já inspirou dezenas de biografias. A mais recente delas, Imagine – Crescendo com Meu Irmão John Lennon (Globo, 348 págs., R$ 35), apresenta um perfil sentimental e generoso do ícone, a partir do relato de sua meia-irmã, a inglesa Julia Baird, de 61 anos.

A proximidade entre a autora e o biografado é o principal trunfo da obra, recheada de fotografias inéditas e informações sobre a infância e a adolescência do ídolo na cidade de Liverpool, na região Norte da Inglaterra.

Fruto do relacionamento da mãe de Lennon, Julia Stanley, com o vendedor John Albert Dykins, a escritora teve uma relação distante, porém afetuosa com o irmão, que classifica como um gênio irreverente e emocionalmente frágil. Manteve contato com ele pessoalmente e por telefone até o assassinato de Lennon, em dezembro de 1980.

Família e traição - Julia Baird tenta derrubar o mito de que o músico foi abandonado pela mãe e entregue aos cuidados de sua tia Mimi, definida no livro como hipócrita e dominadora. Em 1944, Julia Stanley ainda era oficialmente casada com o camareiro de bordo Alf Lennon, um homem displicente que passava mais tempo no mar que em casa. Carente, ela teve um caso com um jovem soldado galês que estava de passagem por Liverpool.

Após o relacionamento fortuito, ficou grávida e foi pressionada pela família a entregar sua filha, Victoria Elizabeth, para a adoção. Conforme a autora, Julia buscou amparo no amor que sentia pelo filho e fez o máximo que pôde para criá-lo.

Entretanto, foi obrigada por Mimi, sua irmã mais velha, a entregar a guarda de Lennon. Conservadora ao extremo, a tia do ex-beatle alegou que o garoto não podia ser criado por uma mulher adúltera e irresponsável. O artista só retomou o contato com a mãe aos 17 anos. Nessa época, visitou Julia com freqüência e aprendeu com ela a tocar alguns acordes de banjo.

Yoko - A meia-irmã do astro, que nos anos 1980 publicou o livro John Lennon, Meu Irmão, também ataca a víuva do artista, Yoko Ono, descrita como fria e áspera. De acordo com Julia Baird, que é professora e costuma contar sua história pessoal em eventos promovidos por fã-clubes dos Beatles, Yoko doou para o Exército da Salvação, sem autorização, uma casa em Liverpool que Lennon deixou para a autora e sua irmã, Jackie.