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Projetos para Ribeirão se fortalecer
Por Hugo Cilo
Do Diário do Grande ABC
28/11/2004 | 14:09
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Nem turismo nem água mineral. A grande aposta do próximo secretário de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Pires para o crescimento da cidade e recuperação dos empregos extintos nas duas últimas décadas está no comércio e na indústria. O empresário Marcelo Menato, aos 40 anos, assume a mais importante secretaria do município com a missão de colocar a cidade de volta nos trilhos do desenvolvimento.

O principal alvo de Menato é transformar Ribeirão em pólo regional de confecções já que, apesar da queda no número de empresas, 70% dos cerca de R$ 80 milhões de arrecadação anual da cidade vêm da indústria. "Vamos fazer da cidade uma versão paulista de Monte Sião (MG). Pequenos empreendimentos no setor têxtil farão do município uma referência regional."

Nem mesmo a ameaça dos produtos chineses atrapalha os projetos preestabelecidos por Menato, que prevê ainda incentivar a vinda de indústrias do mercado de informática que, segundo ele, estariam enquadradas nas leis de proteção ambiental e de mananciais. "São fábricas limpas e que geram emprego e divisas para a cidade."

Os setores que apresentam grande potencial de crescimento no município, no entanto, como o de água mineral e turismo, não estão totalmente fora dos planos. "Vamos ampliar ambos os setores, mas com o pivô no comércio."

Em entrevista ao Diário, Menato faz planos e apresenta projetos para a gestão do prefeito eleito Clóvis Volpi (PV). Confira a seguir os principais trechos desta entrevista:

DIÁRIO: Aliar crescimento econômico e preservação ambiental não parece um alvo distante?

MARCELO Menato: De maneira alguma. Pelo contrário. Só se preserva dando uso. Podemos promover o crescimento industrial da cidade sem que se comprometa as áreas protegidas. Basta planejamento.

DIÁRIO: Como formar um pólo de confecção, já que o setor corre o risco de perder a guerra para a China?

Menato: A cidade de Monte Sião, em Minas Gerais, começou há algumas décadas com apenas uma costureira e uma máquina. O lugar com o passar dos anos se tornou referência no país pelo comércio de roupas. Isso atraiu pessoas e incentivou o turismo. Vamos fazer assim em Ribeirão, sem temer a concorrência. Precisamos começar agora.

DIÁRIO: É possível recuperar o estrago financeiro causado pela fuga das empresas na cidade?

Menato: É uma tarefa difícil. Um levantamento do Ieme (Instituto de Estudos Metropolitanos) aponta a cidade como a que mais perdeu nesse sentido num estudo entre 90 municípios. Precisamos, de imediato, fazer com que as empresas que estão aqui continuem. Em seguida, o processo de incentivo a empresas, sem guerra fiscal, deve atrair diferentes indústrias. Inclusive, uma rede de supermercados já anunciou a vinda para Ribeirão. É um começo.

DIÁRIO: Incentivo é suficiente?

Menato: Em parte não. Ribeirão tem posição geográfica privilegiada para escoamento de qualquer tipo de produto. Temos espaços disponíveis às margens da rodovia Índio Tibiriça, que dá acesso tanto à parte norte da Região Metropolitana de São Paulo quanto à via Anchieta para a capital ou ao Porto de Santos. Essa vantagem tem de ser conhecida, já que temos melhores condições que algumas partes das demais cidades do Grande ABC.

DIÁRIO: De que maneira atrair empresas sem alimentar a guerra fiscal?

Menato: A partir da Prefeitura podemos vender a imagem de Ribeirão a empresários dispostos a transferir sua produção. Fazer contatos diretos com os investidores e manter um canal de comunicação direto, de forma limpa e clara, é essencial. Os empresários não podem se sentir rejeitados pela administração da cidade. Além disso, a questão ambiental da cidade deve servir como atrativo e não como fator que impede o crescimento.

DIÁRIO: Esses sentimentos de rejeição e medo impediram até agora a expansão da cidade?

Menato: Sim. Claro que esses não foram os únicos culpados. Durante todos estes anos nos quais estive dentro de importantes entidades, como a Associação Comercial, Rotary, Conselho da Cidade e Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, percebi que essa era uma reclamação comum. A cidade tinha uma imagem que não refletia com exatidão a realidade do município. Precisamos mudar isso.

DIÁRIO: A fórmula para o crescimento depende somente da Prefeitura? Menato: Parte da fórmula que nos cabe, sim. Simplificar o ISS (Imposto Sobre Serviço) é fundamental. Temos, por exemplo, seis tipos diferentes de definição para o ramo de atividade de agenciamento. Todos têm a mesma alíquota. Isso é um absurdo que espanta quem pretende vir para cá. Agora, incentivos que cabem ao Estado, como o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), e à União terão de ser revistos e negociados por eles.

DIÁRIO: O desemprego em Ribeirão é alto. Isso pode atrapalhar o projeto de recuperação financeira da cidade?

Menato: Sim. Temos cerca de 15% de pessoas sem trabalhar. Isso é gravíssimo. Na última década vimos ir embora a Brosol (fábrica de carburadores) e a Phillips (componentes eletrônicos), que fecharam 5 mil empregos. As cicatrizes ainda são visíveis, mas a segmentação industrial da cidade, com a criação de pólos de confecção ou tecnologia, deve reverter esse quadro desfavorável.

DIÁRIO: E a exportação?

Menato: Vim dos Estados Unidos recentemente, onde encontrei produtos da Santa Edwiges, tradicional fábrica de alimentos daqui. Isso é prova de que para crescer é preciso ousadia e determinação. O call center da IBM, por exemplo, fica em Bangalore, na Índia. Estamos inseridos num mundo globalizado e temos de enfrentar tudo e todos. Agora, por que Bangalore e não Ribeirão Pires? Para exportar produtos e serviços, temos que buscar fortalecer nossa indústria e expandir nossos mercados.

DIÁRIO: Ribeirão tem mão-de-obra especializada para suprir este projeto?

Menato: Temos bons profissionais e faculdades a 20 minutos daqui. A informática é um exemplo de setor que deve ser explorado. Além de trazer dinheiro, atrai empresas relacionadas ao segmento. Além disso, a informática é apenas um lado desse projeto. Vamos fazer um trabalho baseado no associativismo, no corporativismo, e criar uma incubadora. Talvez, assim, várias pequenas empresas comecem a engordar esse nosso objetivo. Temos que aproveitar todo o potencial. Da produção de mel, que é bem-feito lá na região de Ouro Fino, às plantas orgânicas e ornamentais. Acho que assim a gente vai atrair o turismo através do comércio.




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