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Leonardo Brício: sem medo de ser chato
Márcio Maio
Da TV Press
15/12/2008 | 07:00
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Divulgação


O bombeiro Pedro, de Chamas da Vida, não é o primeiro protagonista do currículo de Leonardo Brício. Mas, sem dúvidas, é o mais fácil para ser humanizado e fugir do rótulo de chato que assusta alguns atores nesse posto. Como o personagem é bombeiro na novela de Cristianne Fridman, o ator aproveita os atos heróicos que grava em cena para tirar o peso da responsabilidade de ser o centro da trama principal da história. "É diferente quando o heroísmo do papel não está ligado apenas à disputa pelo amor da mocinha", garante. Nem mesmo a diferença de aproximadamente 15 anos de idade entre o personagem e seu intérprete atrapalha Leonardo, que completou 45. Para parecer mais jovem no vídeo, o ator utiliza um tom de voz mais agudo e um comportamento que classifica como mais "alegre". "Tento fazer o Pedro com mais leveza e frescor que meu último trabalho na TV, em Luz do Sol, explica ele, que encarnou na época o rude Agenor, pai da protagonista Rosa, de Luma Costa.

O Pedro, de Chamas da Vida, é um mocinho que, além da disputa pela protagonista, ainda tem função de "pai" dos irmãos mais novos, já que os quatro são órfãos. É difícil trabalhar um personagem que pode ser encarado como "chato" no ar?
LEONARDO BRÍCIO - Assim que recebi os primeiros capítulos, imaginei que isso poderia acontecer justamente nos conflitos familiares. A novela falaria de pedofilia e de drogas sintéticas e os dois assuntos estavam diretamente ligados ao meu núcleo. A principal função do Pedro na casa é cuidar dos irmãos, protegê-los e educá-los. Tentei construir essa relação de uma forma mais leve, brincalhona, sem aquele peso da responsabilidade paterna. Acho que vem funcionando. E o Pedro tem outras características que ajudam a tirá-lo desse marasmo dos mocinhos.

As cenas de ação dele como bombeiro servem como instrumento para isso?
BRÍCIO - Sim. Já interpretei outros heróis românticos, mas é diferente quando o mocinho é um herói de fato. O Pedro não é só aquele que luta pelo amor da mocinha e para acabar com os vilões, ele salva dezenas de vidas em incêndios. Além disso, a Record vem tendo uma receptividade muito positiva com as cenas de ação. Funciona como um trunfo para mim.

Esse é um dos motivos para essas seqüências ganharem cada vez mais espaço? Atualmente a novela conta com mais cenas de ação do que nas primeiras semanas.
BRÍCIO - Começamos gravando muitas e depois paramos. Concentramos mais em estúdio. Só que em nossas pesquisas manifestou-se um interesse grande por essas seqüências e a equipe voltou a trabalhar forte em cima disso. Para o elenco é excelente, porque já estamos craques no treinamento para bombeiros e os resultados são mesmo melhores quando rolam os incêndios.

Como foi esse treinamento?
BRÍCIO - Passamos umas duas semanas direto no quartel central do Rio de Janeiro. Em relação à parte física, o que mais trabalhamos foi o rapel mesmo. Mas aprendemos como utilizar a mangueira, lidar com a pressão da água, tivemos lições de primeiros-socorros e fizemos alguns exercícios para criar uma aproximação com o fogo. Observamos muito o dia-a-dia dos bombeiros.

Como é essa orientação atualmente?
BRÍCIO - Em algumas cenas temos entre 10 e 15 bombeiros reais fazendo figuração. Em externas de ação, esses números até aumentam. Com isso fica mais fácil porque eles estão sempre nos ensinando algo novo, como vocabulário, comportamento e procedimentos de resgate.

O Pedro tem 30 anos e, você, 45. É difícil interpretar um cara tão novo?
BRÍCIO - Demanda algum esforço, mas não é complicado. Estou sem malhar há algum tempo, então meu rosto afinou e eu emagreci. Isso já ajuda na caracterização. E eu tento marcar muito na voz e no comportamento. Em Luz do Sol fiz um cara da minha idade ou até mais velho, o Agenor. A voz dele era soturna, grave, e ele tinha um ar pesado. O Pedro é o oposto. Construí um cara alegre, com uma voz aguda e mais ágil. O bom é que, com quase 50 anos, posso fazer um trintão ou um cinqüentão numa boa.

O assédio dos fãs é diferente pelo Pedro ser bombeiro?
BRÍCIO - Claro que isso mexe com o imaginário de algumas pessoas. Mas sou muito caseiro, não enfrento tanto esse tipo de situação. É divertido, nada que chegue a ofender ou que seja mais ousado. Vejo mais na portaria, no posto de gasolina, nesses lugares que não tem como deixar de ir. Se as cenas de sexo do Pedro tivessem continuado, talvez fosse maior.

Por que essas seqüências de sexo diminuíram?
BRÍCIO - Acho que foi um processo natural. Não sei explicar o que aconteceu, mas não teve nada a ver com desconforto. Lido bem com isso, já "paguei bundinha" em A Muralha e fiz algumas cenas ousadas em Da Cor do Pecado, que era às sete da noite, na Globo. Vim do teatro, não tenho problemas com isso.

Mas Pantanal tirou alguns pontos de Chamas da Vida.
BRÍCIO - É. Fui pego completamente de surpresa por Pantanal. Não há como negar que a novela é muito boa, mas ninguém esperava que uma história exibida em 1990 fosse emplacar assim numa reprise. Isso foi ruim. Nossos números de audiência são muito bons (chegam a ultrapassar 18 pontos em alguns dias), mas seriam bem melhores se isso não tivesse acontecido. A gente roubava mais pontos da soma de todas as outras emissoras do que da Globo. Pantanal diluiu isso um pouco.

Você lembrou de alguns trabalhos na Globo, mas desde 2004 você não trabalha lá. Aconteceu alguma coisa para que aceitasse um contrato longo com a Record?
BRÍCIO - Nada demais. Apenas estava sem contrato desde 2001, quando venceu meu último e eles não renovaram e depois, em 2004, me chamaram, eu assinei por obra para fazer Da Cor do Pecado. Depois não rolaram trabalhos. A gente tem de correr atrás de quem dá oportunidade.

Você se sentiu desvalorizado lá?
BRÍCIO - Sinto que tem muita panela na Globo. São aqueles diretores de núcleo que trabalham com as esposas, os maridos, namoradas, namorados, seja lá o que for, e se você não tem um convívio social com essas pessoas, não está dentro daquilo. Me senti meio excluído porque não faço média com ninguém. Quero que me chamem pelo que faço. Não quero ter de jantar com as pessoas para trabalhar.




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