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Fei-Mizuho sofre com onda de assaltos
Angela Martins
Do Diário do Grande ABC
12/03/2012 | 00:00
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Celso Luiz/DGABC


Durante muitos anos o Jardim Fei-Mizuho, em São Bernardo, foi encarado pelos imigrantes japoneses como a terra prometida que lhes deu trabalho e riqueza no Brasil. O próprio nome diz isso: Mizuho, em japonês, significa abundância. Mas os anos tornaram o espaço menos nipônico e mais miscigenado e agora o bairro tranquilo sofre onda de assaltos.

Moradora há oito anos, a motorista de van escolar Maria Verônica Santana, 49 anos, vê com tristeza que o lugar deixou de ser seguro. "Temos ouvido muitos casos de assaltos a casas. Na minha rua foram três. Só temos segurança a noite porque pagamos para uma empresa particular."

O pedreiro Antônio Haroldo Freitas, 46, lamenta a perda da tranquilidade. "Esse já foi um lugar muito bom, mas há um mês virou um inferno. A falta de policiamento facilita a ação dos assaltantes", relata. No bairro inteiro, o medo é constante. Na pequena padaria - a única do local - o assunto não podia ser outro. "Ficamos sabendo de cinco assaltos só na semana passada", afirma a atendente Maria de Fátima Silva, 35.

De acordo com o setor de investigação do 8º DP (Distrito Policial) de São Bernardo, responsável pelo bairro, a polícia reconhece o aumento no número de roubos e está realizando mais rondas para garantir a segurança dos moradores. Há uma semana, um homem foi preso com diversos objetos roubados, que foram reconhecidos pelas vítimas. Uma quadrilha está sendo investigada e três inquéritos estão prontos, com mandados de prisão expedidos pela Justiça.

Embora os moradores apontem que faltam serviços como açougue, farmácia e mercados, a opinião geral é de que o Fei-Mizuho, pela proximidade com os centros comerciais dos bairros Alves Dias e Cooperativa, atende às necessidades perfeitamente. Existem boas escolas e não há queixas sobre o atendimento na unidade de saúde.

FUNDADORES
O povo fundador do bairro, que chegou ao local em 1935, no entanto, praticamente não vive mais ali. A maioria preferiu vender as terras quando a área deixou de ser rural e passou a ser urbana. "Isso encareceu o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e muitos foram morar em bairros como o Parque dos Pássaros. Minha família é uma das últimas a permanecer", explica o engenheiro aposentado Hiroo Matsumoto, 72. O pai dele, Riuichi Matsumoto foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do bairro.

"Quando não havia nenhuma escola, meu pai cedeu a varanda da nossa casa para aulas do 1º grau. Ele sempre primou pela educação e dizia que era nossa obrigação ajudar àqueles que nos acolheram", relembra. O irmão de Hiroo, Célio Matsumoto, 65, cultiva na chácara da família verduras hidropônicas, cuja produção é vendida inteiramente em São Bernardo. "Temos bastante procura pelas verduras, que têm baixo teor de agrotóxicos, principalmente no verão", destaca o agricultor.

Associação Cultural preserva história do povo japonês

Fundada no mesmo ano da formação do bairro, a Associação Cultural de Mizuho tem a missão de preservar a história e a cultura do povo japonês em São Bernardo. No local são realizadas aulas de dança de salão, dança típica, taiko (tambor), ginástica, karaokê, gatebol e aulas de língua japonesa. Atualmente são 90 sócios.

"Já tivemos mais associados, mas com a saída da colônia do bairro, o número diminuiu", reconhece o presidente Tadatochi Fujimori. A média de idade dos integrantes também chama a atenção: a maioria têm acima de 50 anos e são prioritariamente descendentes de famílias de origem japonesa.

LÍNGUA
As aulas da língua do país do sol nascente são destaque nas atividades da Associação e acontecem de segunda, quarta e sexta-feira, das 8h às 10h e das 14h às 16h. Aos sábados, o horário é das 9h às 11h. O curso pode ser feito por qualquer pessoa, não precisa ser associado.
"Não existe um período mínimo para conclusão do curso, cada um tem seu tempo de aprendizado. As pessoas sentem dificuldade porque o alfabeto é muito diferente, assim como a gramática e escrita, feitas por meio de diagramas", explica a professora Neusa Fujii, 58. Há 18 anos ela dá aulas na Associação.

FESTIVIDADES
No calendário da entidade ainda há espaço garantido para as festas. No próximo domingo, dia 18, a partir das 11h, os visitantes podem saborear pratos típicos na Festa do Yakisoba. A entrada é gratuita e a renda será revertida para projetos da Associação. Em agosto, a Festa das Cerejeiras celebra a florada da árvore símbolo do Japão. A Associação Cultural de Mizuho fica na Praça Tokuyama, 2.


Zona rural, ambiental e urbano-industrial


Ademir Medici

Parque das Árvores figura entre os pontos novos da geografia urbana de São Bernardo. A referência coletiva mais visível é a capela Nossa Senhora das Graças, da Rua Jatobá, que faz parte da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, do bairro Alves Dias. Historicamente, seu território pertenceu ao bairro Alvarenga, um dos mais antigos do Grande ABC.


Também pertenceu à Fazenda Jurubatuba, dos monges beneditinos, desapropriada pelo Império em 1870. Passou a integrar o espaço entre as Linhas Jurubatuba e dos Camargo, oriundas do Núcleo Colonial de São Bernardo, de 1877.

Hoje essas referências são substituídas por equipamentos contemporâneos como o campus da FEI (Fundação Educacional Inaciana), erguido nos anos 1960 em terras cedidas pelo casal Lauro Gomes e por Mizuho, nome do bairro Cooperativa, que foi espaço colonial cultivado pelos imigrantes italianos e, em 1935, por famílias japonesas que se estabeleceram na então zona rural.

Esta começou a morrer nos anos 1970, quando se dá a revolução urbana no espaço entre a Via Anchieta e a Rodovia dos Imigrantes, primeiro com a criação do Parque Industrial dos Imigrantes; depois com a oficialização do fim da zona rural (1980); por fim, com abertura de novos loteamentos.

O acompanhou esta metamorfose. Cobriu, desde os tempos do News Seller, a festa Undokai, gincana poliesportiva que se realizava em maio. Há 30 anos, eram as indústrias se instalando, para contrariedade de lideranças como a de Riuichi Matsumoto, um dos fundadores do Mizuho. A Lei de Proteção aos Mananciais não brecou o desenvolvimento industrial. E o bairro mudou de cara.




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