Cultura & Lazer Titulo Música
Êxodo musical

Celeiro de talentos, região observa a migração de artistas;
principal motivo é falta de espaço para divulgar trabalhos

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
04/03/2012 | 07:00
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Celeiro de tantos talentos da música de variadas vertentes, a região observa a migração de seus artistas. O principal motivo, segundo eles, é a falta de espaço para divulgar seus trabalhos. Além desse, outro fator que contribui para que os músicos peguem seus instrumentos e, em seguida, a estrada, é a pouca estrutura oferecida aos artistas nos espaços existentes.

Essas dificuldades são vividas por artistas que apostam na música autoral, compositores que carregam discografia nas costas, quebram pedra há anos e são obrigados a dar seus pulos em busca de um pedaço de vitrine em outros cantos.

Alguns conjuntos que já exploraram territórios - e continuam explorando - ainda não desistiram do lugar de onde saíram, caso do grupo de ska Sapo Banjo, de São Bernardo. Ativa há 15 anos e com quatro discos gravados, a banda já rodou por outras cidades e hoje busca - novamente na região - locais para tocar.
"Hoje, no Grande ABC, o que temos são os shows secretos (estúdios abrem espaço para bandas, geralmente para público conhecido). Fizemos um em São Caetano e estava lotado, cerca de 200 pessoas", conta Eduardo Zambetti, contrabaixista do Sapo Banjo.

Segundo Eduardo, outro fator negativo é a falta de estrutura oferecida ao músico e ao público. "Em lugar que não tem estrutura não vai muita gente. A pessoa seleciona aonde ir. A aparelhagem geralmente é ruim e quando o público chega, quer ouvir o que a banda irá tocar", diz.

Há ainda gente que foi embora de mala e cuia, caso de Adolar Marin. O paulistano que cresceu e iniciou carreira em São Bernardo, hoje reside em São Paulo, onde tem agenda de apresentações concentrada. O violonista, cantor e compositor consegue explorar também outras regiões do Brasil. "Me mudei porque ficou difícil trabalhar no Grande ABC. Caíram os espaços para tocar, não tem bar, não tem lugar para show", afirma.

Criador dos álbuns 'Qualquer Estação', 'Atemporal' e com o terceiro disco programado para ser lançado em maio - com show de lançamento em São Paulo -, Adolar acredita que existam pessoas interessadas em apreciar música. "Tem público, se você fizer uma apresentação no Parque Engenheiro Salvador Arena, em São Bernardo, vai gente. O que falta é movimentação, pouco se faz e pouco se fala", diz.

Sapopemba, figura da região que se dedica à música de raiz, - "ao moçambique e batuque", como ele mesmo diz -, sente dificuldade em mostrar seu trabalho por aqui. Para ele, o que falta são locais que comportem a música que faz. "O povo de Santo André gosta de música de qualidade, mas não tem espaço, daí corremos para outros territórios, vou para São Paulo", explica o músico, que hoje encabeça o projeto 'Centenário Gonzagão', em comemoração ao centenário de Luiz Gonzaga

CLASSE DESUNIDA
Difícil ter melhora se a classe musical se cala e nada faz para mudar esse cenário. Ricardo Penachi de Camargo, titular da cadeira de música do Conselho Municipal de Política Cultural de São Caetano, expressa seu descontentamento com o grupo. "Em São Caetano, a classe musical é desunida. No meio do ano passado tentei fazer reunião e não vieram nem dez pessoas. Há o descrédito do músico para o outro músico. Lutamos 30 anos para ter o Conselho de Música na cidade e quando temos, os artistas somem", diz.  

Ainda restam opções  
Aberto há dois anos e com agenda tomada até outubro, o Espaço de Artes e Convivência Gambalaia, em Santo André, é boa pedida para apreciar músicos regionais de variadas vertentes. Segundo Humberto Alex de Lima, idealizador do Gambalaia, a procura é grande e restam poucas vagas para grupos agendarem.

Com 80% do tempo tomado por música autoral, o Gambalaia aposta em entrada barata como estímulo ao público. "Não temos burocracia e não colocamos obstáculos, prefiro facilitar a divulgação dos músicos. Nossos ingressos também são acessíveis", revela Alex.

Outra opção na região é o Cidadão do Mundo, em São Caetano. Bandas independetes disputam o palco e festivais organizados pela casa. Além da tradicional participação no festival de porte nacional Grito Rock, o Grito Ska é outro que figura entre as atrações do recinto.

De estrutura invejável, as unidades São Caetano e Santo André do Sesc são ótimas referências e têm que ser lembradas. Artistas e bandas da região, como Nitrominds, Marcia Cherubin e Iamuhu Quarteto, já apresentaram seus trabalhos por lá. A Prefeitura de São Bernardo também disponibiliza algumas opções, como os teatros Elis Regina e Lauro Gomes, cujos editais de seleção estão disponíveis até o dia 25.

Com trabalho de formiguinha, o Gambalaia consegue atrair público aos poucos. Alex conta que as pessoas utilizam o espaço para escutar música. "O público não está habituado com esse formato de espaço. Aos poucos estamos quebrando a resistência e agora as pessoas vêm pelos grupos, afirma.




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