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Filippi é acusado de ter recebido R$ 2,4 mi na forma de propina

MPF pede prisão do ex-prefeito de Diadema, mas juiz Sérgio Moro nega; policiais vão à casa de petista

Por Júnior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
05/03/2016 | 07:00
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Ex-prefeito de Diadema e potencial candidato do PT ao Paço em outubro, José de Filippi Júnior (PT) foi acusado pelo MPF (Ministério Público Federal) de receber R$ 2,4 milhões oriundos de desvios da Petrobras, em contratos da estatal com a UTC Engenharia e o Consórcio Quip S.A, que integram as empreiteiras Queiroz Galvão, Iesa e a própria UTC. O petista também foi levado, por meio de condução coercitiva, para prestar depoimento ontem pela manhã, na superintendência da PF (Polícia Federal), na Lapa, na 24ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Aletheia. Filippi nega os crimes.

Na denúncia, à qual o Diário teve acesso, a promotoria relata que Filippi, como tesoureiro da campanha do ex-presidente Lula, em 2006, recebeu recursos de forma ilícita para financiar a candidatura do ex-presidente à reeleição. O MPF também pediu a prisão temporária do petista por entender ser “imprescindível às investigações”. A solicitação, entretanto, foi negada pelo juiz federal Sérgio Moro, que frisou a necessidade de se coletarem provas. “Mais apropriado nessa fase o aprofundamento da colheita dos elementos probatórios, sem a imposição da prisão temporária. Não obstante, entendo que se justifica a condução coercitiva dos indicados para que prestem esclarecimentos nas mesmas datas das apreensões”, escreveu Moro em seu despacho.

“É necessário repisar que Filippi ocupou a presidência do Instituto Lula entre 7 de janeiro de 2011 e 24 de outubro do mesmo ano, e que recebeu um dos maiores valores em espécie da UTC em 29 de setembro de 2011. Ou seja, enquanto era presidente da entidade, recebeu recursos oriundos dos graves ilícitos de lavagem de dinheiro e de corrupção praticados em detrimento da Petrobras”, afirma a denúncia do MPF.

A promotoria cita ainda delação premiada do ex-diretor financeiro da UTC Walmir Pinheiro, que relatou que Filippi teria recebido propina de R$ 750 mil “em espécie” quando presidente do Instituto Lula, em 2011 (deixou o cargo para se dedicar ao mandato de deputado federal), pagamento este supostamente feito em decorrência do contrato celebrado pela UTC com a Petrobras para as obras do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).

“Tais entregas foram efetuadas até 30 de maio de 2015, ou seja, em um período no qual a fase ostensiva da Lava Jato já havia sido deflagrada e as investigações estavam em pleno desenvolvimento. Tal circunstância não foi suficiente para inibir a atuação ilícita de Filippi”, destaca o documento, assinado por cinco procuradores da República.

 

DEFESA

Por meio de sua assessoria de imprensa, o ex-prefeito negou as acusações, alegou nunca ter exigido recursos em benefício das campanhas das quais foi tesoureiro e que as contas da coligação petista de 2006 e de 2010, na primeira eleição da presidente Dilma Rousseff, foram apresentadas e aprovadas pela Justiça Eleitoral.

 

Operação coloca em xeque candidatura em outubro

 

A atuação da PF (Polícia Federal) na manhã de ontem, que impôs ao ex-prefeito de Diadema José de Filippi Júnior (PT) condução coercitiva (quando é obrigado por agentes policiais a prestar depoimento), para dar esclarecimentos acerca das acusações de que teria recebido propina oriunda de corrupção da Petrobras, coloca em xeque, a sete meses da eleição municipal, a possível candidatura do ex-prefeito ao Paço diademense.

Desde o início das discussões internas no PT diademenses sobre o processo eleitoral deste ano, Filippi já havia externado o desejo de não disputar o pleito. Oficialmente, o discurso era de que o PT de Diadema precisava apostar em novas lideranças. Internamente, porém, petistas admitiam que a recusa se dava em decorrência dos possíveis desdobramentos da Operação Lava Jato.

Com a ausência do petista, três pré-candidaturas ascenderam no PT: a dos vereadores Manoel Eduardo Marinho, o Maninho, e José Antônio da Silva, além da do deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, o que conduziria a discussão sobre o candidato do PT ao Parque do Paço às prévias. Os dois últimos, porém, renunciaram ao pleito para apoiar o nome de Filippi no páreo.

Em entrevista ao Diário, no mês passado, o ex-prefeito mudou o discurso e admitiu poder tentar representar o partido na disputa contra o prefeito Lauro Michels (PV). “Esse movimento do Vicentinho e do Zé Antônio (de desistirem de disputar a candidatura) faz com que o debate mude, mas que envolva todo o diretório”, revelou o ex-prefeito na ocasião.

A estratégia de Vicentinho e de Zé Antônio, internamente, é de acenar aos caciques do partido no Estado a forçarem Filippi a assumir a candidatura a prefeito em Diadema, considerada crucial para o partido no Grande ABC – foi o primeiro município onde o PT governou, a partir de 1982. Sem Filippi no páreo, o nome de Maninho se fortalece para a disputa. O parlamentar tem dito aos correligionários que não deseja mais disputar cargo no Legislativo.

Três vezes prefeito de Diadema (1993-1996, 2001 a 2004 e 2005 a 2008), Filippi foi tesoureiro das campanhas de Lula à reeleição, em 2006 e da primeira vitória da presidente Dilma Rousseff, em 2010. Naquele ano, foi eleito deputado federal com 149.525 votos. Na última sondagem do DGABC Pesquisas, publicado pelo Diário em dezembro, Filippi aparece como líder isolado, com 31,8% dos votos.

 

Ex-vice afirma que põe ‘as duas mãos’ no fogo pelo colega de sigla e governo

 

O ex-vice-prefeito de Diadema Joel Fonseca (PT) criticou a atuação da PF (Polícia Federal) na casa do ex-prefeito de Diadema José de Filippi Júnior, na manhã de ontem.

Para o petista, que foi vice de Filippi nas duas últimas gestões do ex-prefeito (2001 a 2004 e 2005 a 2008), a presença de policiais nas casas do colega de gestão, do ex-presidente Lula e de outros correligionários “é golpe em curso”.

“Trabalhei oito anos com o Filippi (na Prefeitura). É um homem honesto. Coloco minhas duas mãos no fogo por ele. Fazem isso porque sabem que, em 2018, o Lula será candidato à Presidência. É o golpe em curso”, avaliou Joel, que foi à casa do petista depois da operação da PF.

A Polícia Federal chegou à casa de Filippi, no Centro de Diadema, por volta das 6h. O ex-prefeito foi conduzido para prestar depoimento na superintendência da Polícia Federal em São Paulo, na Lapa, na Zona Oeste da Capital, onde permaneceu até o fim da tarde e foi liberado. O ex-prefeito estava em casa com a mulher no momento em que os agentes da Polícia Federal chegaram. Ele teria ido à sede da PF em seu próprio carro, acompanhado do advogado. Durante a ação da PF no local, tumulto foi protagonizado por militantes do PT diademense e por pessoas ligadas ao prefeito Lauro Michels (PV). Filippi é potencial adversário do verde na eleição de outubro.

Primeira pessoa que saiu da casa de Filippi depois da atuação da PF , a ex-primeira-dama Débora Baptista, mulher do ex-prefeito Mário Reali (PT) – sucessor de Filippi –, criticou o fato de o petista ter sido alvo de condução coercitiva. “Esse dispositivo só deve ser usado em caso de resistência, o que não era o caso. Filippi sequer foi intimado a depor e, se fosse, iria. Estamos assistindo à ruptura dos direitos humanos e da ampla defesa”




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