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Quase 15% dos docentes não têm ensino superior

Professores da região enfrentam desafios, como falta de tempo e de recursos, para se aperfeiçoar

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
24/06/2019 | 07:00
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Dados do Censo da Educação de 2019 compilados pelo Observatório da Educação da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) mostram que quase 15% dos 30.927 professores da educação básica das redes pública e privada do Grande ABC não têm ensino superior completo. Entre os que são licenciados em alguma disciplina ou bachareis, 54,9% têm apenas a graduação.

Especialistas apontam que a lei brasileira determina que todos os profissionais tenham curso superior e que os alunos que não contam com professores com a formação adequada estão em situação de desigualdade. Pesquisadores da área de educação apontam, ainda, que a atualização constante é vital no processo de aprendizagem dos estudantes, mas que faltam tempo e recursos para que os educadores possam se capacitar.

Coordenador do curso de pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ítalo Curcio destacou que, há cerca de uma década, houve grande esforço para capacitação dos docentes no Estado de São Paulo para que os profissionais tivessem ao menos o curso superior. “Atualmente, essa situação é mais rara nas redes municipais, mas na estadual, ainda é frequente”, detalhou.

Para o especialista, o esforço foi bem sucedido, haja visto o grande número de profissionais graduados, mas que a necessidade de atualização é constante. “Temos aí dois problemas: a falta de remuneração que permita a realização de cursos de prós-graduação, que em boas universidades é caro, e a falta de tempo, uma vez que para driblar os baixos salários, muitos acumulam aulas em escolas e redes distintas”, citou.

Curcio apontou que uma saída são convënios das prefeituras e do governo do Estado com instituições que possam ofertar os cursos gratuitamente. “É um investimento que retorna na qualidade o ensino”, pontuou.

A avaliação é corroborada pelo coordenador do Observatório de Educação da USCS, Paulo Garcia. “O professor é o principal elemento de aprendizagem do aluno. Sem a formação adequada, que passa pela capacidade de planejar, selecionar conteúdos, gestão em sala de aula, o processo de aprendizagem vai ser afetado”, afirmou.

Ainda que os números do Grande ABC não possam ser olhados apenas pelo viés negativo, afinal, são mais de 80% de profissionais graduados, Garcia apontou que, por ser uma das regiões mais ricas do País, os profissionais deveriam ter condições de avançar na qualificação. “O esforço docente, ou seja, o trabalho em várias redes, compromete essa possibilidade tirando o tempo do professor para se especializar”, relatou. “Para esse profissional, não ter a formação adequada compromete o seu conhecimento das teorias de sua área e o afasta, por exemplo, da pós-graduação”, concluiu.

EM SALA
As mulheres são o maior contingente entre os profissionais de educação básica na região, e respondem por 83,4% dos professores. Para quem já tem ou para quem está buscando o avanço na formação, o objetivo é o mesmo: melhorar o trabalho em sala de aula, desde o bercário, até o fim do ensino fundamental.

Professora da rede municipal de Santo André, Paula Margues, 25 anos, é mestra em educação e finaliza pós-graduação. O mestrado foi conseguido por meio de bolsa federal e o acréscimo que teve no rendimento por essa qualificação foi o que permitiu cursar a pós-graduação. “Sem a bolsa, teria sido impossivel cursar o mestrado. É de suma importância que tenhamos acesso a cursos gratuitos, amplos e de qualidade para que possamos contribuir com as questões e reflexões pedagógicas”, ponderou.

Também professora da rede municipal andreense, Eliane Chagas, 41, lembra que foi com dificuldades que conseguiu alcançar a graduação, mas isso não a impediu de estudar. Ela acumula quatro cursos de extensão na UFABC (Universidade Federal do ABC). “É bem explícito o quanto ser uma mulher preta me afastou, por anos, da universidade, porque tem toda uma sociedade que me manteve alijada disso”, relatou. Atualmente, Eliane cursa pós-graduação sobre história e cultura africana e indígena. “Existe uma engrenagem que, muitas vezes, poda o profissional na sua capacidade de produção teórica. Ainda é muito novo admitir que o professor de educação infantil pode ser pesquisador. Isso também é uma coisa que dificulta o avanço na formação.” 




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