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Praça preservada por moradores do IAPI é colocada à venda pelo INSS

Sem aviso prévio, instituto marcou leilão da área, avaliada em R$ 20,8 mi, para amanhã

Por Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
22/11/2017 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


 Praça de aproximadamente 9.000 metros quadrados localizada no conjunto habitacional IAPI (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriais), na Vila Guiomar, em Santo André, foi colocada à venda pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) com valor mínimo de R$ 20,8 milhões. Atualmente preservado por iniciativa de moradores que residem no entorno da área verde, o espaço irá a leilão amanhã, na Capital.

A venda, que integra medidas emergenciais adotadas pelo INSS na tentativa de angariar recursos em momento de contenção de gastos do governo federal, segundo moradores, tem colocado em risco a destinação da única área de lazer hoje existente na comunidade, que abriga cerca de 1.000 pessoas.

“Sabemos que o INSS é proprietário da área, mas em nenhum momento fomos chamados para discutir esse projeto. Somos as pessoas mais importantes desse processo, mas eles nos trataram como indivíduos de segunda categoria. Eles sequer fazem a manutenção dessa área”, destaca o presidente da Amprevia (Associação dos Moradores dos Prédios Velhos do IAPI), Roberto Gomes da Silva, 62 anos.

Com uma pista para caminhada e uma quadra de basquete construída no espaço, a praça é hoje simbolo do trabalho feito pela comunidade no local. “Antes, isso aqui era um local para descarte de lixo. Só depois de árduo trabalho nosso, junto à Prefeitura, é que eles transformaram essa área em um espaço de lazer”, lembra a aposentada Eunice Pedroso, 78, que há seis décadas vive no conjunto habitacional.

Na tentativa re reverter a possível venda da área, grupo de moradores se reuniu ontem com representantes da Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária de Santo André. A ideia é que o grupo entre ainda hoje com ação coletiva para barrar o certame. “Queremos que esse projeto seja discutido junto à comunidade e à Prefeitura para que, quem sabe, a área seja preservada”, destaca Tania Regina Lacerda, 60, vice–presidente da associação dos moradores do bairro.

Segundo o INSS, o leilão, que tem 18 lotes à venda, segue determinações legais. “Esses imóveis fazem parte do Fundo Geral de Previdência Social e, de acordo com a legislação, não podem ser doados ou cedidos gratuitamente.”

Em nota, o instituto afirma que a área chegou a ser disponibilizada para órgãos públicos (federais, estaduais e municipais) em 22 de setembro, porém, até o momento, não apareceram interessados.

De acordo com a Prefeitura de Santo André, no entanto, em nenhum momento a atual administração recebeu qualquer proposta para destinação do local. “Até então (o Paço) não tinha ciência quanto ao interesse do INSS em negociar o terreno.”

Conforme a Prefeitura, a atual administração irá se colocar à disposição para mediar uma negociação entre INSS e a associação de moradores.

 

À VENDA

Ainda está prevista no leilão de amanhã a venda de outro lote, em Santo André, desta vez de área localizada na Rua Princesa Isabel, na Vila Guiomar. Segundo o INSS, a venda ocorre somente agora porque anteriormente houve interesse na aquisição do terreno pelo Ministério das Cidades, que desistiu. O valor mínimo do lote é de R$ 880 mil.

 

Conjunto habitacional é símbolo da industrialização na região

Criado em 1942, o conjunto habitacional IAPI (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriais) na Vila Guiomar, em Santo André, é um retrato do crescimento da industrialização no Grande ABC, na década de 1940.

Naquele período, havia em Santo André 443 estabelecimentos industriais, que empregavam cerca de 27 mil pessoas. A cidade concentrava mais da metade dos operários da região na época (46 mil) e também do total de empresas (741). A necessidade de abrigar os operários do município deu impulso à construção do conjunto de prédios na área próxima ao Centro da cidade.

“Trata-se do primeiro conjunto habitacional destinado para operários no País. O IAPI é um símbolo para a região”, destaca o presidente da Amprevia (Associação dos Moradores dos Prédios Velhos do IAPI), Roberto Gomes da Silva. “Criamos um sentimento de pertencimento a toda essa região. Hoje zelamos pelo bem–estar da vegetação do bairro e de todos que vivem e cresceram aqui”, comenta.

Prédios de três andares e construídos no estilo chamado caixote abrigam 384 famílias em área privilegiada pela vegetação nativa do bairro. “Aqui todo mundo se conhece. Temos eventos na praça, é um clima único”, relata Miriam Fonseca de Mattos, 55, que mora na região desde que nasceu.

 

 




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