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Outsiders precisarão recorrer à velha política para vingar

Especialistas apontam dificuldades de candidatos de fora da área para estabelecer projetos eleitorais de 2018 sem coligação ou tempo de TV

Por Humberto Domiciano
26/11/2017 | 07:00
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Montagem/DGABC


 A possibilidade de nomes de fora dos partidos tradicionais, os chamados outsiders, disputarem as eleições do ano que vem – seja à Presidência da República ou aos governos de Estados – já causa discussões no meio político. Dificuldades como tempo de televisão, estruturas de partidos nanicos e alianças políticas podem afetar a movimentação de nomes como o do apresentador Luciano Huck (sem partido, mas sondado pelo PPS para buscar o comando do País) ou do treinador de vôlei Bernardinho Rezende (sem partido, especulado pelo Novo para concorrer ao governo do Rio de Janeiro).

Especialistas ouvidos pelo Diário ponderam que vícios da política tradicional afetam diretamente os projetos de outsiders. O exemplo de João Doria (PSDB), apresentador de TV que se elegeu prefeito de São Paulo no primeiro turno no ano passado, mostra que ser famoso não garante o triunfo do candidato-artista. O tucano teve apoio formal de 13 partidos e contou com maior tempo de TV entre os candidatos. Com isso, teve suporte político e tempo televisivo para transmitir suas propostas.

Na visão do professor de Direito da FGV (Fundação Getulio Vargas) Michael Mohallem, é necessário diferenciar o caráter de outsiders que podem se apresentar. Ele vê diferenças nos projetos políticos de Huck e do deputado federal Jair Bolsonaro, recém-filiado ao Patriotas, por exemplo. “O Bolsonaro adota uma estratégia de um discurso de quem não faz parte da política, apesar de já ser deputado há bastante tempo. Já o Luciano Huck seria um outsider completo, que tentará aproveitar esse momento e sua taxa de conhecimento para bater os políticos considerados tradicionais.”

Mas Mohallem ressalta que, especificamente no caso de Huck, uma aliança política tradicional traria solidez à sua campanha – especula-se que o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), seria vice em sua chapa. “Apesar de estarmos nesse momento em que se busca o novo, trazer um nome da chamada velha política pode ser lido com sinalização de segurança, de que o projeto deve ser considerado sólido”, observou.

Para o cientista político Roberto Martins, possíveis coligações com nomes de fora de partidos tradicionais não devem estar no foco das grandes legendas. “Vejo que a prioridade das siglas será a reeleição de seus principais nomes. Então, nesse aspecto, personalidades públicas poderão ficar em um segundo plano”, destacou Martins, ressaltando também que as redes sociais terão peso no pleito do ano que vem.

CANDIDATURAS AVULSAS
Outro ponto debatido na esteira das eleições do ano que vem foi a possibilidade de o STF (Supremo Tribunal Federal) autorizar chapas desvinculadas de partidos políticos. Ainda restam dúvidas sobre sua aplicação no próximo pleito.

Na opinião da especialista em Direito Administrativo Karina Kufa, o tema dependeria da regulação do Supremo. “A jurisprudência deve cumprir o princípio da anualidade e não mudar regra posta depois de um ano. Contudo, o STF pode modular os efeitos para aplicar ou não para essa eleição”, constatou.

Para Alex, Huck não pode ser considerado novato no cenário
Presidente paulista do PPS, o deputado federal Alex Manente, de São Bernardo, acompanhou algumas reuniões da cúpula de seu partido com o apresentador Luciano Huck na tentativa de convencê-lo a ser presidenciável no ano que vem. Na visão de Alex, Huck não pode ser considerado outsider da política.

“O Luciano Huck tem como padrasto o Andrea Calabi (economista e secretário da Fazenda de São Paulo), tem apoio de Armínio Fraga (economista e ex-presidente do Banco Central), esteve sempre envolvido com as discussões políticas do País. A única diferença é que nunca foi candidato. Mas ele parte de um ponto inicial muito superior ao do (prefeito de São Paulo, João) Doria, por exemplo”, apontou Alex. “Doria era de TV, mas falava a um público segmentado e era muito mais conhecido no meio empresarial. O Luciano Huck é um candidato com potencial eleitoral muito forte, mas ainda resta essa dúvida (se ele será presidenciável). O convite foi feito.”

Alex declarou que o PPS não impôs prazos para definição de Huck. “Mas a Globo sim, até dezembro”, lembrou, em referência à emissora onde o apresentador trabalha. “Vejo uma eleição na qual siglas como PT, PMDB e PSDB vão sofrer muito porque o eleitor vai procurar partidos que foram coerentes contra todo tipo de corrupção dos últimos tempos. E esse partido é o PPS”, finalizou Alex.




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