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O voto entre o Céu e a Terra

O que importa é a opinião de Deus sobre Serra e Dilma

Carlos Brickmann
10/10/2010 | 00:00
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O que importa é a opinião de Deus sobre Serra e Dilma. A opinião de Serra e Dilma sobre Deus, desculpem-me ambos, desculpem-me seus mais fanáticos seguidores, não tem para este colunista a mais remota importância.

Discutamos, portanto, o Brasil, e não os desígnios do Senhor. Os rumores de que a posição de Marina Silva a respeito do aborto e da união de gays inflaram seus votos não são reais (até porque o Partido Verde, de Marina, está entre os mais liberais em termos de comportamento). O que inflou o desempenho de Marina foi algo mais profundo: a imagem que transmitiu ao eleitor de que ela era assim mesmo, era verdadeira, falava aquilo que pensava. Ninguém sequer imaginou ver Marina dançando rebolation, cantando Luiz Gonzaga ou outras ridicularias que, na opinião de alguns candidatos, seriam importantíssimas. Marina se vestiu como costuma se vestir, comportou-se como se comporta habitualmente, falou aquilo que pensa. E com isso se transformou na grande surpresa da eleição.

Este fator, a propósito, torna impensável a transferência dos seus votos para qualquer outro candidato. Seu PV pode apoiar quem quiser, e o fará; Marina, mesmo que apóie alguém (o que é difícil), não vai convencer o eleitor de que Serra ou Dilma, com imagem moldada por especialistas, da roupa ao sorriso falso, ocuparão seu lugar, de quem se apresentava da forma como é na realidade.

Aborto? Dilma já disse que é favorável a que deixe de ser crime, Serra já criou normas para realizá-lo em hospitais públicos. Já têm posição. Por que mentir?

SEU SANTO NOME
E, já que estamos numa eleição, vamos discutir políticas públicas, competência administrativa, honradez no trato do dinheiro dos contribuintes, vigilância para verificar se os subordinados se comportam com diligência, zelo e honestidade. Religião não deve se transformar em arma de captação de votos. Como reza o Terceiro Mandamento, "não tomarás o nome do Senhor seu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente aquele que tomar o Seu nome em vão."

CRISTÃO X CRISTÃO 1
A busca obsessiva de votos entre setores religiosos pode conduzir uma candidatura a caminhos complicados. Dilma, certa vez, declarou-se devota de Nossa Senhora. É ótimo entre os católicos; mas não é bom entre os protestantes das diversas denominações, que não atribuem a Nossa Senhora a mesma posição que tem entre os católicos. Isso vale também entre os evangélicos: o acordo de Lula com o senador Marcelo Crivella, da Igreja Universal, sobrinho do bispo Edir Macedo, não impediu a migração de boa parte do voto evangélico para Marina.

CRISTÃO X CRISTÃO
Da mesma forma, o acordo entre PSB e PT que levou o paulista Gabriel Chalita, católico da Igreja Canção Nova, a ter votação para deputado federal inferior apenas à de Tiririca, não impediu uma briga brava do PT com os religiosos. O PT entrou com ação no TSE contra a TV Canção Nova, pedindo direito de resposta contra um padre que pediu aos fiéis que não votassem em Dilma. A Canção Nova, carismática, é uma das igrejas católicas que mais crescem no País.

AS LENDAS...
Há certas crendices curiosas em campanhas eleitorais. Uma delas é que o eleitor teme o fim da criminalização do aborto e o casamento gay. Bobagens: primeiro, porque nenhum dos dois temas depende do presidente da República. Segundo, porque, independentemente do que dizem aos pesquisadores, muitos e muitos eleitores já tiveram de recorrer ao aborto e preferem que seja feito em locais adequados, longe dos porões da clandestinidade e das aborteiras com garrafadas e agulhas de tricô. Terceiro, porque um grupo que reúne mais de um milhão de pessoas numa parada em São Paulo, sem perturbação da ordem pública, não só tem votos próprios como não desperta a animosidade da população.

...ELEITORAIS
Outra lenda urbana diz que, como os partidos ligados a Dilma elegeram ampla maioria na Câmara e no Senado, só ela terá condições de governar o País, já que Serra enfrentaria forte oposição parlamentar. Apenas acredita nisso quem não conhece este País: quem quer que ganhe as eleições terá maioria no instante seguinte, só pelo fato de ter sido eleito. E, se manejar bons argumentos, a maioria será avassaladora. Nada fisiológico, entende? Apenas o sentimento patriótico de garantir a governabilidade. Romero Jucá foi líder do governo Fernando Henrique e do governo Lula. Se Dilma ou Serra se elegerem, pode ser líder também.




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