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Os juros e a produção

Muito se comenta sobre a taxa básica de juros, mas pouco se fala sobre as taxas finais aplicadas ao consumidor

Por Cíntia Bortotto
15/03/2012 | 00:00
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Tenho acompanhado quase que diariamente a imprensa comentando a política de juros gerenciada pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central. Na semana passada, foi anunciado que a entidade reduziu a taxa básica Selic em 0,75 ponto percentual, ficando em 9,75% ao ano.

O interessante é que muito se comenta sobre a taxa básica de juros, mas pouco se fala sobre as taxas finais aplicadas ao consumidor. Li pesquisa recente, realizada pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), segundo a qual os juros cobrados do consumidor recuaram mais que a Selic. De acordo com o estudo, de janeiro de 2010 a janeiro de 2012, a taxa ao consumidor caiu 9,45 pontos ao ano, enquanto que a Selic caiu apenas 0,25 (de 10,75 para 10,50 ao ano).

É um absurdo o montante de juros que o consumidor final paga para qualquer empréstimo que seja. Os bancos, lojas e financeiras estão reduzindo os juros além do corte no custo da captação de recursos para custear financiamentos, mas a taxa cobrada está muito elevada.

Para se ter ideia, a taxa do cartão de crédito em janeiro ficou em 10,69% ao mês, o campeão dos juros! Ao ano, o valor chega a 110,52% (a Selic está em 9,75% ao ano!). Esta taxa altíssima é seguida da taxa do cheque especial (8,34%), empréstimo pessoal em financeiras (8,29%), comércio (5,05%) e pelo empréstimo pessoal em bancos (3,99%). Estes valores são extremamente elevados e, embora tenham caído mais do que a taxa básica de juros, ainda são exorbitantes.

Esta distância entre a taxa básica Selic e o valor dos juros ao consumidor dá por custos e margens de ganho que compõem a taxa final, como impostos, despesas administrativas, risco de inadimplência e a margem de ganho do sistema financeiro.

Neste contexto, o que vemos como resultado da alta taxa de juros é a queda do crescimento do PIB, que em 2011 ficou em 2,7% (no quarto trimestre com crescimento de apenas 0,3%). Este indicador tem sido prejudicado consideravelmente pela queda na produção industrial. Segundo a pesquisa industrial mensal recém divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a indústria nacional começou o ano mal, com queda de produção no mês de janeiro (2,1% inferior a dezembro). A produção de bens de capital despencou 16%. Este foi o pior desempenho desde dezembro de 2008, o auge da crise internacional.

Analistas apontam que a queda se deu em especial ao recuo na produção de veículos, com destaque para o recuo da fabricação de caminhões, que a partir de janeiro precisam se adaptar à nova regulamentação ambiental dos motores para emitirem menos enxofre e também às chuvas do período.

Mas seriam estes os únicos motivos? Neste cenário, fico pensando. Reduzir os juros é sem dúvida uma forma de aquecer a economia, todos já sabemos disso. Se for mais vantajoso emprestar dinheiro do que colocá-lo na produção, por que alguém vai investir na economia? É preciso reduzir os juros básicos sim, mas isso não basta. Reduzir os juros ao consumidor também se faz necessário. Precisamos diminuir os encargos ao consumidor final, para aquecermos as vendas e movimentarmos toda a cadeia. Medidas precisam ser tomadas neste sentido. Com juros altos, a produção industrial sem vazão fica estacionada e o PIB despenca e o crédito ao consumidor também tem papel importante neste contexto.




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