Em vez de somente perceber a cultura como um produto de consumo, moradores da região recebem incentivo financeiro para se expressar sob as mais variadas formas, como artesanato, dança e literatura.

De acordo com anúncio, feito na última segunda-feira, nove projetos do Grande ABC estão entre os 300 contemplados pelo edital Pontos de Cultura, uma parceria entre o MinC (Ministério da Cultura) e a SEC (Secretaria de Estado da Cultura).

O convênio destina a cada entidade o valor de R$ 180 mil, parcelado em três anos. A região receberá R$ 1,62 milhão para o investimento em propostas artísticas que partiram de entidades civis de variados perfis.

Na próxima edição de domingo, o Diário divulgará as ações dos 11 Pontos de Cultura já existentes no Grande ABC. No total, agora serão 21 unidades.

Confira ainda entrevista com o secretário de Cidadania Cultural do MinC, Célio Turino, responsável pela idealização e gestão dos Pontos de Cultura. Turino acaba de lançar o livro Ponto de Cultura - O Brasil de Baixo para Cima (Ed. Anita Garibaldi, R$ 30, 256 págs.), no qual registra uma série de experiências vividas em unidades que estão espalhadas por todo o Brasil e critica a atuação do Estado que considera "não estar preocupado em dialogar com o povo, ainda mais este como protagonista." (Supervisão Melina Dias)

Em convívio com a arte
Uns têm origem na periferia com a proposta de desenvolver ações solidárias entre os excluídos. Outros surgem como alternativa para compartilhar experiências com públicos não habituais. Embora tenham agentes diferentes, todos os Pontos de Cultura nascem a partir de uma necessidade local.

Desenvolvido em região que possui forte concentração de negros, Jardim Santo André, o projeto Mistura & Gingada visa promover ações afirmativas para o fortalecimento da cultura afro. "Além de assistir a apresentações artísticas, o público terá acesso a oficinas", diz o produtor Neri Silvestre.

Despertar a consciência da criançada para a preservação do meio ambiente é o objetivo do projeto Na Batida da Reciclagem Musical. A ideia de produzir instrumentos alternativos surgiu diante de uma situação difícil: alunos precisavam se apresentar nas comemorações de 7 de Setembro, mas não dispunham de aparelhos.

Já o projeto Editora Livre, Popular e Artesanal aposta no resgate da história da comunidade, que passa a conhecer a própria trajetória por meio da literatura. No terceiro ano de convênio, está planejada a aquisição de laboratório tipográfico para impressão dos livros.

Raiz da Serra: o Ponto Vital de Paranapiacaba pretende fortalecer a cultura da vila histórica por meio da formação em teoria musical. "Somos a primeira e única escola das sete cidades que tem um Ponto de Cultura pela APM", aponta a idealizadora Wal Volk.

A APAP ArteCidade surgiu como Ponto de Cultura para aproveitar "o know-how de profissionais em artes visuais, teatro e dança que podem compartilhar experiências com diversas pessoas", aponta Liana Crocco, uma das idealizadoras do projeto.

Em Ribeirão Pires, o Cultura Viva na Comunidade espera expandir as visitas a escolas de bairros periféricos, onde exibem curtas e desenvolvem oficinas artísticas.

Pontão - Voltado para a qualificação dos agentes vinculados aos Pontos de Cultura, o USCS Audiovisual acaba de ser contemplado como Pontão de Cultura. O projeto agora aguarda a aprovação do Ministério de Planejamento, que faz a análise técnica. Entre as atividades previstas, estão as oficinas de Iluminação e Fotografia e Direção de Arte.

Idealizador lança livro
Exercitar o protagonismo popular é a ideia central da política pública que recebe enfoque no livro Ponto de Cultura: o Brasil de Baixo Para Cima, escrito pelo gestor e idealizador do projeto, Célio Turino.

Desde a implantação do projeto, em 2004, o autor começou a viajar por todo o Brasil para conhecer os diferentes Pontos de Cultura. Também passou a registrar uma série de experiências. No total, foram mais de 600 viagens.

Em uma das visitas, conheceu a Casa de Cultura Tainã, em Campinas, que surgiu de forma independente depois de diversas iniciativas tímidas na cidade. Na programação, havia desde o acesso à biblioteca até a ensaios com orquestra de tambores em metal.

Na obra, também é possível conferir reflexões teóricas de Turino, que é graduado em História pela Universidade de Campinas. Ele deixa claro que "cultura não é só aquilo que se vê em grandes teatros, mas também acontece nas ruas, na periferia".

Além de compartilhar o redescobrimento de infinitos modos de expressão, retrata as aflições que vivenciou ao ver a história do Brasil. "Na obra, tenho uma atitude de honestidade com o leitor", aponta.

Contemplados
Casa das Minas de Thoya Jarina
Cidade: Diadema
Iniciativa: Casa das Minas de Thoya Jarina (tel.: 4051-1664)
Atividades: congressos de umbanda e candomblé, oficinas de percussão e oficinas de richelieu (um tipo de bordado).
Público-alvo: variável de acordo com a atividade

Na Batida da Reciclagem Musical
Cidade: Mauá
Iniciativa: Corporação Musical Lyra (tel.: 4543-1533)
Atividades: oficinas de teoria musical e produção de instrumentos com materiais recicláveis.
Público-alvo: crianças entre 10 e 14 anos, moradoras de Mauá

Cultura Viva na Comunidade
Cidade: Ribeirão Pires
Iniciativa: Federação Municipal das Associações de Moradores de Ribeirão Pires (tel.: 4823-7178)
Atividades: sessões de curtas, oficinas de pintura artística e oficinas de teatro em escolas de Ribeirão Pires.
Público-alvo: jovens e adultos

Cidadãos Artistas
Cidade: Ribeirão Pires
Iniciativa: ARCA (Associação Ribeirão-pirense de Cidadãos Artistas; tel.: 4824-1884)
Atividades: encontros, mostras, festivais sobre temas diversos
Público-alvo: variável de acordo com a atividade

Mistura & Gingada
Cidade: Santo André
Iniciativa: Associação dos Moradores do Conjunto Habitacional do Jardim Santo André (tel.: 4453-6603)
Atividades: palestras, oficinas e apresentações artísticas, voltadas à divulgação da cultura afro-brasileira
Público-alvo: variável de acordo com a atividade

Raiz da Serra: O Ponto Vital de Paranapiacaba
Cidade: Santo André
Iniciativa: APM da Escola Estadual Senador Lacerda Franco (tel.: 4439-0041)
Atividades: prática instrumental em flauta, viola caipira, violão e rabeca
Público-alvo: crianças e jovens da vila de Paranapiacaba

Editora Livre, Popular e Artesanal
Cidade: São Bernardo
Iniciativa: Associação de Promoção Humana e Resgate da Cidadania (tel.: 4127-0866)
Atividades: produção de livros com anexos multimídia e oficinas voltadas para a escrita
Público-alvo: moradores do Montanhão, região de São Bernardo

Usina Socioeducativa
Cidade: São Bernardo
Iniciativa: Fundação da Criança (tel.: 4121-7513)
Atividades: oficinas variadas como de fotografia, fanzine e sonoplastia/ mixagem/ gravação.
Público-alvo: crianças e adolescentes (entre12 e 17 anos), moradores de São Bernardo

Apap Artecidade
Cidade: São Caetano
Iniciativa: Associação de Pais, Alunos e Professores da Fundação das Artes (tel.: 4238-3030)
Atividades: seminários e cursos de capacitação em áreas artísticas
Público-alvo: variável de acordo com a atividade; moradores de toda a região