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Brinde à arte de bem viver
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
08/07/2010 | 07:00
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Divulgação


Nada de Santo André, São Bernardo ou São Caetano. Quando se fala em ABC na França, esse casamento de letrinhas remete a outra região, bem mais charmosa e igualmente promissora: Alsácia, Borgonha e Champanhe.

As semelhanças, no entanto, acabam nas iniciais. Enquanto o nosso ABC firmou-se nacionalmente como importante pólo industrial automotivo, o ABC francês deve as raízes de seu desenvolvimento às cobiçadas produções viníferas. É de lá que vêm pérolas como o vinho branco típico da Alsácia, os grands crus borgonheses e, como o próprio nome indica, o autêntico champanhe, que só pode ser assim denominado nesta região da França - nas outras partes do país e em todo o resto do mundo, a versão gaseificada do vinho deve contentar-se com o termo "espumante", embora na linguagem popular todos acabem sempre por chamá-la de champanhe.

Além de ser considerada meca de enólogos de todo o mundo, a região europeia ainda alia os requintes da boa mesa às belíssimas paisagens do Nordeste francês, compostas por extensas plantações de uva, castelos, mosteiros, colinas que mais parecem ter sido retiradas de uma pintura impressionista e relíquias arquitetônicas de indiscutível valor histórico, como a vila medieval de Troyes, a Igreja de Notre Dame e a majestosa Catedral de Reims, palco da coroação de 24 monarcas franceses.

E não é só na base da economia ou no contraste das paisagens que as duas localidades diferem entre si. Em alguns quesitos, elas são tão distintas que até poderiam se completar, como no caso do turismo: de um lado, o ABC tupiniquim, quinto maior polo emissor de turistas do Brasil (perde apenas para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte em potencial de consumo), com seus mais de 2,6 milhões de habitantes; do outro, o hospitaleiro ABC francês, considerado uma das regiões mais visitadas por gourmets da França, com a imensidão verde dos vales a imperar absoluta entre as pequenas cidades e vilarejos.

De incomparável, só mesmo a imponência dos castelos da Alsácia, o charme romântico das ruas medievais da Borgonha e o glamour que tornou a bebida criada em Champagne sinônimo de grandes momentos festivos. Um brinde a este outro ABC e à arte de bem viver, com A de arquitetura, B de belezas naturais e C de muito, muito champanhe. Salut!

Gula sob as bênçãos de Baco

Para os franceses, chega a ser uma heresia considerar as refeições como mero alimento. Lá, gastronomia é coisa séria, e o momento de sentar à mesa, um ritual, geralmente regado a vinho. Esse costume já está tão arraigado na população que muitos estudiosos atribuem a baixíssima incidência de problemas cardíacos entre os franceses ao hábito de se comer com calma e, principalmente, de se tomar vinho - desde que ingerido com moderação.

Cada cidade do interior, por menor que seja, tem seu prato e vinho próprios. Estrasburgo, capital da Alsácia, conserva os traços germânicos na culinária, com o tradicional chucrute e outras especialidades compostas por linguiças e salsichões. Para acompanhá-las, pode-se manter a influência alemã tomando uma cerveja gelada ou recorrer a um dos vários vinhos brancos típicos da Alsácia, importados pelos romanos.

Com a maior concentração de restaurantes três estrelas da região, a Alsácia é também conhecida pelo brioche e pela tarte alsacienne.

Já Dijon, na Borgonha, ostenta o título de capital da mostarda, do pão de especiarias e do kir, espécie de vinho branco de cassis. Entre seus pratos típicos destacam-se especialidades à base de escargot, o coq au vin (galo ao vinho) e o boeuf bourguinon (espécie de ensopado de carne cozida lentamente no vinho).

E como não poderia deixar de ser, nos mais de 400 restaurantes da região de Champagne-Ardennes as grandes estrelas gastronômicas ficam por conta dos pratos que trazem champanhe entre os ingredientes. Outras iguarias marcam seu caráter peculiar agregando o nome do local de origem, como o presunto e a truta de Ardennes, as trufas de Haute-Marne, o biscoito rosa de Reims e os queijos de Langres.

Queijos, aliás, são capítulo à parte na cozinha local. Os franceses costumam dizer que possuem um queijo para cada dia do ano. Pura modéstia! Na verdade, há mais de 2.500 tipos no país. Os mais apreciados são os macios, como o camembert e o chèvre, feito com leite de cabra. Mas, dependendo do menu, pode-se recorrer a tipos mais pesados, como o blue e o rochefort, ou a uma boa salada gourmand com queijo brie.

Com tantas opções e sabores refinados, não há mesmo como reduzir o ritual das refeições francesas a um simples fast-food...




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