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Peter Pan faz 100 anos nesta segunda-feira
Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
27/12/2004 | 12:57
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Nesta segunda-feira, a história de Peter Pan, criada pelo escocês James Mattew Barrie (1860-1937), completa 100 anos. Escrita originalmente como peça, foi levada ao palco do teatro inglês Duque de York em 27 de dezembro de 1904. E, antes tarde do que nunca, o cinemão que tanto lucrou com a fábula do menino que não queria crescer fez justiça ao pai da criança. O filme 'Em Busca da Terra do Nunca', com Johnny Depp no papel do dramaturgo e escritor, estreou no último dia 12 nos Estados Unidos. Por aqui, entrará em grande circuito em fevereiro.

A idéia do filme é recriar o ambiente que teria inspirado Barrie a conceber Peter Pan. É uma adaptação da peça The Man Who Was Peter Pan, em que o dramaturgo Allan Knee apresenta conversas imaginárias entre Barrie e os herdeiros da família Llewelyn Davies. Acredita-se que Barrie inventava histórias para divertir esses meninos, órfãos adotados por sua amiga Sylvia Llewelyn Davies. O personagem apareceu pela primeira vez em 1902 num livro chamado O Pequeno Pássaro Branco, em que ele relatava sua convivência com os garotos.

Anos depois, Barrie adaptou a peça teatral e a converteu numa fábula, publicada em 1911 com o título Peter & Wendy, que com o tempo se transformou em Peter Pan. O nome do herói infantil foi emprestado do filho mais novo dos Davies. Pan é uma referência ao travesso deus grego dos bosques e da fertilidade, que persegue ninfas e protege os pastores.

Muito ainda se falará deste novo filme: a estratégia da Miramax de lançá-lo antes do dia 31 deste mês o inclui na corrida ao Oscar, e Depp já está entre os cotados. Cabe aqui aproveitar a data e lembrar ao leitor que a história original de Barrie está disponível em nossas livrarias em grande estilo.

Com tradução e adaptação de Paulo Mendes Campos (1922-1991) Peter Pan (Ediouro, 104 págs., R$ 24,90), relançado neste ano, é uma pequena jóia para se ostentar em qualquer biblioteca que se preze. Campos, ao lado de Fernando Sabino, Otto Lara Resende e Hélio Pellegrino, ficou conhecido como um dos Quatro Mineiros. Jornalista, cronista e dono de uma significativa obra poética, firmou-se também como notável tradutor.

"Traduzir é meu jeito de descansar carregando pedras", brincava ele. Campos nos legou versões de autores como Shakespeare, Oscar Wilde, John Ruskin e Philip Larkin. No caso da obra-prima de Barrie, sua sensibilidade manteve intocadas as nuanças da prosa do escocês. Estão lá a irreverência, o humor, a inocência e a espontaneidade de Peter e sua turma. Há também algo de crueldade, daquele tipo só visto na infância. É uma prosa ideal para ser contada e interpretada para as crianças. Aos poucos, a marcante imagem do desenho da Disney nos abandona, para depois retornar com toda força em passagens que foram fiéis ao livro. Os detalhes encantam e envolvem. Entramos no dia-a-dia de Peter, Wendy, Miguel, João e os meninos perdidos.

Em Peter Pan, ao valorizar a infância Barrie expõe o modo como via o mundo adulto. Peter Pan foi um menino que decidiu fugir de casa no dia em que nasceu, após ouvir seus pais fazendo planos para seu futuro. "Queria ficar sempre criança para brincar o tempo todo". Uma utopia que encontra eco em qualquer adulto que teve uma infância saudável.

Na fábula de Barrie não há rancor contra os adultos, tanto que as passagens mais comoventes são entre a maternal garota Wendy e os meninos perdidos da Terra do Nunca. Eles, ávidos por uma mãe que lhes cuide e conte histórias. Ela, fascinada pela iminência de deixar de ser menina e tornar-se mãe-mulher.

James Barrie acreditava que nada do que nos acontece depois dos 12 anos importa, o que o fazia ser visto como figura estranha na sociedade inglesa edwardiana. Sua preferência ostensiva pela companhia das crianças chegou a render rumores sobre pedofilia. Também não ajudou muito recentemente Michael Jackson ter declarado ser seu fã, lá de seu rancho chamado Terra do Nunca.

O fato é que quando sua peça estreou no começo dos anos 1900, aquele bando de meninos que tomava as rédeas de suas vidas, combatia piratas, índios e crocodilos e sobrevivia com muita diversão em uma ilha encantada causou sensação no comedido público inglês. Pouco antes de morrer, o autor doou os direitos de Peter Pan para o hospital infantil de Great Ormond Street. Isso significa que parte do arrecadado com peças, desenhos, filmes, montagens da Broadway, livros e brinquedos ajudou e ainda ajuda crianças. E, um século depois, Peter Pan proporciona a pequenos e grandes uma ótima leitura para antes de dormir.




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