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S.Bernardo tem 'zona franca' do crime
Danilo Angrimani e Artur Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
13/07/2005 | 07:55
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Álcool, drogas e pedofilia formam uma combinação perigosa nas noites de domingo no triângulo formado pelas ruas Santa Filomena, Ernesta Pelosini e travessa Marechal Deodoro, Centro de São Bernardo. Entre 19h30 e 23h, o espaço se transforma em uma espécie de zona franca do crime.

Ambulantes armam barracas e servem bebidas alcoólicas (uísque, conhaque, licores, pinga, batidas) para menores a preços que variam entre R$ 1 e R$ 3 o copo (de plástico). Traficantes vendem maconha e cocaína. Um repórter do Diário demorou menos de cinco minutos até encontrar um traficante que lhe ofereceu R$ 10 de maconha. As drogas são consumidas abertamente, no meio da rua. Nesse espaço sem lei, há pedófilos que atuam em busca de meninos.

O triângulo do crime fica a menos de 1 km do Paço Municipal de São Bernardo. O Diário esteve naquele local por dois fins de semana seguidos e constatou a total ausência de fiscalização. Às vezes, uma viatura da Guarda Civil e vez ou outra um carro da Polícia Militar passavam pelas ruas. Passavam em baixa velocidade e seguiam sem se deter ninguém.

O ponto é freqüentado por gays e lésbicas, que reclamam da ação de criminosos e provocadores. O casal de lésbicas Suzana, 18 anos, e Rafaela, 17, (elas não quiseram dar o sobrenome) disse que falta segurança no local. "A gente acha que deveria ser proibido, de fato, a entrada de menores nos bares. Essas barraquinhas, servindo bebida alcoólica, também são preocupantes."

Suzana e Rafaela, que moram na Vila São Pedro, afirmaram que o triângulo é alvo de nóias. "Eles desrespeitam as meninas, arrumam confusão nos bares. Isso incomoda muito, porque aqui é um dos poucos lugares da região que é point de lésbicas e nos encontramos."

O mecânico Almir Aguiar de Souza, 42 anos, morador no Jardim Silvina, também reclama da falta de segurança e fiscalização: "A gente vê meninas de 13, 14 anos ficarem muito loucas. Elas tiram a roupa na rua. É muito cruel. Teria de ter uma autoridade que impedisse essas barraquinhas de venderem bebida para todo mundo".

A reportagem flagrou vários adolescentes comprando todo tipo de bebida alcoólica. Em nenhum momento, o ambulante procurou saber se o comprador era maior de idade. A Prefeitura afirma que irá intensificar a fiscalização na área. Os comerciantes ilegais já teriam sido retirados várias vezes do local e acabaram, segundo a administração.

Uma cena de violência ainda está presente na memória do mecânico Souza. "Vieram uns caras vestidos de preto, com correntes, que a gente chama de bate-cabeça. Eles pegaram um gayzinho e bateram muito no menino. Jogaram o coitado no chão, chutaram a cabeça dele. A gente via o cara rolando no chão, sangrando muito, gritando, e não podia fazer nada. Falta segurança."

Pedofilia - Falta segurança e sobra gente querendo se aproveitar da situação. Um pedófilo, de cerca de 50 anos, disse que freqüentava o local, em busca de meninos. "Não gosto de pessoas da minha idade. Venho aqui atrás de garotinhos." Ele revelou que, às vezes, consegue arrumar "alguma coisa".

A reportagem presenciou a conversa entre o homem e um rapaz de cerca de 20 anos. O pedófilo apontava garotos que aparentavam ter entre 13 e 16 anos e o rapaz ia dizendo se eram menores, maiores, fáceis ou difíceis. "Vou te apresentar aquele lá de boné vermelho. Acho que ele curte coroa", dizia o rapaz ao homem de meia-idade.

Muito mais fácil que arrumar "garotinhos" é conseguir drogas. Negociações nada discreta entre traficantes e usuários parecem ser comuns. A reportagem perguntou a freqüentadores do local sobre o assunto. Não demorou até que o repórter fosse abordado por um rapaz:

- É você que está querendo um baseado, perguntou o traficante.

- Quanto?

- Eu cobro R$ 10. Mas esse aqui é dois por um (droga mais potente), do bom mesmo. É o último, já vendi tudo hoje e estou indo buscar mais na favela.

- E cocaína?

- Isso é com outra pessoa...




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