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Violência crua
Por Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
02/08/2009 | 07:00
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Comparar o independente "Rota Comando" a "Tropa de Elite" é inevitável: ambos falam sobre grupos especiais da polícia, foram baseados em livros que descrevem a rotina desses profissionais, têm um protagonista de ética peculiar e contaram com a pirataria como uma das principais fontes de propaganda. Mas, pede o diretor estreante Elias Junior, não é boa ideia apostar nas semelhanças. "Chega a ser covardia. Meu filme custou R$ 560 mil, não tive um elenco consagrado... Eu tinha uma equipe de cinco pessoas para fazer tudo".

As limitações do longa estão explícitas na telinha - por falta de patrocínio, o filme foi lançado diretamente em DVD há um mês. "Fiz na raça, com ajuda apenas de dois apoiadores e das comunidades onde filmei. Os moradores ofereciam comida, suas casas", afirma Elias, que vem de um passado de cinegrafista amador.

O filme nasceu da admiração de Elias pela Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), o Bope paulista. "Sou da periferia e lá a Rota era a única instituição que a bandidagem tinha medo de verdade. E confirmei isso nas entrevistas que fiz", conta ele, que também é atirador. O roteiro foi inspirado em episódios do livro Matar ou Morrer, do deputado Conte Lopes, tenente da Rota entre 1974 e 1984. O título foi escrito como resposta a "Rota 66 - A História da Polícia Que Mata", de Caco Barcellos.

Se a equipe de José Padilha enfrentou problemas nos morros cariocas, a de Elias também encarou a resistência. "Fomos expulsos de uma favela da Zona Norte quando descobriram que o filme era sobre a Rota. Perdi todo o material que rodei lá".

O elenco, a maior parte de não profissionais, não teve cachê. O Tenente Conte (o equivalente ao Capitão Nascimento), por exemplo, é interpretado por Maurício Bonatti, que está no elenco de apoio de "A Praça É Nossa". "Um ator que interpretaria um policial acabou desistindo por medo de sofrer represália no bairro", conta.

Elias dedicou dois anos à produção do filme - foi roteirista, diretor, diretor de fotografia, editor e até fez uma ponta como ator. Lamenta agora a onda de pirataria que tem atrapalhado seu negócio. "Investi em toda a tecnologia possível para bloquear as cópias. Vendi até agora 6.000 das 20 mil que mandei fazer e o filme ainda está longe de se pagar", conta.

Conte Lopes faz uma ponta e foi consultor no treinamento dos atores. Gostou bastante do tratamento que Elias deu à carreira da qual se afastou para se candidatar em 1986. "São ocorrências em que estive e que retratam bem a rotina. Gostei bastante", afirma.

Por esse viés real, o longa também não é recomendado a quem tem estômago fraco. Há cenas de estupro, tiroteio e espancamento de criança. Por mais amador que possa parecer em alguns momentos, ainda consegue meter horror.




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