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Jude Law estreia seu Hamlet na Broadway
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10/11/2009 | 07:00
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Tinha mais mulher feliz e namorado contrariado do que em show do Chico Buarque. Uma hora antes do espetáculo, na quinta-feira, elas já começaram a fazer uma ruidosa fila à frente do Broadhurst Theatre, na Rua 44, para ver a peça. Ok, tá certo que na Broadway o povo entra em fila até para injeção na testa, mas essa fila certamente era diferente das outras - mais perfumada, maquiada e repleta de saltos altos. E vai se repetir até 6 de dezembro, quando o ator inglês Jude Law, 37 anos, estrela a última de 12 apresentações lotadas de "Hamlet", de Shakespeare, na versão de Michael Grandage.

"Jude é bonito, mas Shakespeare é melhor", jurou na calçada do teatro, após a sessão, Chelsea Trowbridge, estudante de Inglês que foi ao teatro acompanhada da amiga Danielle Burkee. "Não tenho tanto conhecimento de teatro para julgar as interpretações, mas me parece que ele foi muito bem, assim como todo o elenco".

Me engana que eu gosto, Chelsea! Jude não tira a camisa nem mostra as partes em cena, mas quando brinca como um acrobata nos ombros de dois companheiros de cena, exibindo a forma física de um Diego Hipólito, arranca aplausos emocionados das moças (bom, ele arranca aplausos até quando a fala não é dele...). "Jude é um ator muscular, visceral, e tem uma conexão direta com as emoções mais cruas", defendeu o diretor Michael Grandage.

Bom, ao menos bem treinado Jude Law é. Mas não faz um "Hamlet" exibicionista, muito ao contrário. Somente às vezes mostra seu coté hollywoodiano, como quando duela com espadas de esgrima com o oponente Laertes. Parece cena de "O Gavião do Mar" (quando não sugere um clima meio Juventude Transviada). É uma ousadia para o velho Broadhurst Theatre, aberto em 1917 com Misalliance, de George Bernard Shaw. Mas quem está por trás dessa montagem não dá tiro a esmo: trata-se da poderosa Donmar Warehouse, empresa que já produziu espetáculos que ganharam 14 prêmios Tony, 35 prêmios Olivier, 20 prêmios Critics' Circle.

Descalço em cena a maior parte do tempo, parecendo que veste um pijama da Gap, Jude Law faz um Hamlet casual, falsamente ordinário, que até imita macaco e caranguejo (Alô, pessoal do Pânico, o homem aprendeu!). E faz uma piadinha levemente homofóbica ao acariciar o braço de Horatio (Matt Ryan) e soltá-lo de supetão ("Isso está ficando esquisito").

As dezenas de casais gays na plateia não chiaram porque, no final, Horatio beija a testa de Hamlet enquanto este morre em seus braços (não era para contar o final? Ah, come on, é Shakespeare!).

O "Hamlet" de Jude Law e Michael Grandage é um Shakespeare vestido às vezes com roupas da Barneys, noutras com Oscar de La Renta e Dolce & Gabbana e gelzinho para espetar o cabelo. É Shakespeare de casaco de couro tingido com as cores do humor ou algo parecido. Todos riem do contraponto entre tragédia e comédia que Grandage criou, mas é um tanto sem graça. Tem um momento, quando Hamlet descobre o assassinato do pai, o Rei da Dinamarca (o bom ator veterano americano Peter Eyre), e berra: "Vingança!". Jude vai ao fundo do palco e encobre o rosto, e fica todo mundo tenso, calado. Mas ele levanta o rosto e diz: "Que bundão que eu sou!", e todo mundo ri como se concordasse.

A versão em dois atos do Hamlet de Shakespeare de Jude Law e Grandage usa buzinas de carro em cena e inverte expectativas. Hamlet diz a famosa frase "To be or not to be" debaixo de uma tempestade de neve. Se é bom? Muita gente parece que vai pensando que esse tal Shakespeare é um novo roteirista rico de Beverly Hills.




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