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São Caetano registra as memórias de seus moradores

Fundação Pró-Memória assina convênio com a USCS para projeto de História oral

Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
18/08/2013 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


Uma entrevista ‘meio’ diferente, com poucas perguntas e na qual a proposta é mais escutar que falar, dando tempo para o silêncio fazer o seu trabalho. A definição é do jornalista e especialista em história oral Ricardo Santhiago, convidado do lançamento do projeto Lembranças da cidade: memórias e histórias da gente de São Caetano, na quinta-feira.

Fruto de parceria entre a Fundação Pró-Memória e o Memórias do ABC/Laboratório de Hipermídias da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), o projeto prevê fazer exatamente isso: ouvir e registrar, por meio de áudio e vídeo, histórias de vida de moradores e pessoas atuantes nos mais diversos ramos, que são agentes de transformação e construção da história do município.

Conforme a presidente da Fundação, Sonia Xavier, o trabalho de recolher depoimentos já vem sendo realizado, mas sem o rigor técnico e metodológico proporcionado pela história oral. “Nossas gravações eram feitas de forma rudimentar, com pequenos gravadores. Depois, fazíamos a transcrição, pedíamos autorização e publicávamos os depoimentos, geralmente na Revista Raízes.”

A meta agora é contar com a experiência do Laboratório de Hipermídias da USCS, que dará capacitação para os funcionários da Pró-Memória e demais interessados em participar da coleta de dados, como estudantes, pesquisadores, professores, agentes públicos, entre outros. As oficinas serão realizadas nos dias 26 de agosto e 2 e 9 de setembro.

“Assim que concluírmos a capacitação, temos uma lista de personagens que pretendemos ouvir. Um deles é o senhor Antonio Rosa Alves, tintureiro que mora no bairro Fundação e tem como hábito doar objetos antigos para o Museu Municipal, como ferros de passar, entre outros”, destaca Sonia.

Para a professora coordenadora do Laboratório de Hipermídias da USCS, Priscila Ferreira Perazzo, o convênio é a concretização de uma parceria cujo embrião nasceu há pelo menos cinco anos. “É uma forma de sair um pouco do mundo acadêmico e entrar em contato direto com a comunidade na qual estamos inseridos.”

DIGITAL
A ideia para o futuro próximo é disponibilizar o resultado do trabalho em plataforma digital, como uma espécie de Museu da Pessoa são-caetanense. “Vejo a história oral como uma revolução no modelo da História oficial, baseado em documentos e contado a partir de grandes personalidades. Essa forma de preservar a memória traz à tona o sentimento, o envolvimento e a pluralidade da vida e da formação da cidade. É uma forma de resgatar o espírito de cidadania de quem participa”, garante Sonia. A história da gente de São Caetano está nas ruas. É só manter o ouvido atento e ligar o gravador.

História oral é ramo recente da pesquisa e documentação - A prática da História oral é recente no Brasil. O marco da criação dessa metodologia de captação de depoimentos, que serve como fonte de pesquisa e documentação, data dos anos 1970, quando grupo de pesquisadores internacionais desembarcou no Rio de Janeiro e ofereceu curso sobre o tema.

Em 1994, foi criada a Associação Brasileira de história Oral, que define a prática como a realização de entrevistas gravadas com personagens que viveram ou testemunharam acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida, ou outros aspectos da história contemporânea. O jornalista e mestre em história Social Ricardo Santhiago atua nas áreas de história oral, história intelectual, música e literatura no Brasil e é autor dos livros Solistas Dissonantes: História (oral) de Cantoras Negras e Alaíde Costa: Faria Tudo de Novo.

Em 2012, foi vencedor do prêmio bienal da Associação de história oral, concedido a trabalhos que oferecem contribuição teórica, metodológica e temática significativa à área de História Oral. Sua tese de doutorado Método, metodologia, campo: a trajetória intelectual e institucional da história oral no Brasil tratou do desenvolvimento da área no País, dos anos 1950 até os dias atuais.




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