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Dez dicas sobre o que nunca fazer

Esses dias, em reunião com a equipe de comunicação...

Carlos Ferrari
10/10/2012 | 00:00
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Esses dias, em reunião com a equipe de comunicação da Organização Nacional de Cegos do Brasil, conversávamos sobre os tais textos que trazem dicas de ‘como lidar com pessoas com deficiências'.

Pessoalmente, me manifestei dizendo que não sou muito fã da ideia de saber que existem, espalhados por aí, manuaizinhos destinados à ‘operação de hardwares', dentre os quais eu me incluo. Também ponderei que não podemos desconsiderar a contribuição de tais textos, para melhorar ou mesmo ressignificar o comportamento de inúmeras pessoas.

Chegando em casa, sentei para escrever e veio a ideia: por que não pensar em dicas sobre o que não fazer? Creio que muitas delas até já estejam espalhadas nos tais ‘manuais', mas mesmo assim me encorajei a apresentar a você ao menos dez, que garanto poder usar sem medo.

Para esta semana, seguem as cinco primeiras:

1 - Não se dirija às pessoas adultas como se fossem crianças. Cegos, anões, cadeirantes, dentre tantos outros segmentos de deficiências, crescem e amadurecem. Tratá-los como se fossem crianças, muitas vezes pode - mesmo sem intenção - parecer uma postura de alguém que se sente superior, alguém que quer cuidar. 

2 - Não banalize seu entendimento quanto à acessibilidade, às vezes o que está bom para um pode não atender o outro. Cada área de deficiência acaba demandando eliminação de barreiras específicas. No entanto, sempre lutamos na perspectiva do desenho universal, ou seja, que tudo passe a ser pensado para todos. Contudo, na ausência dessas condições, para seguir tal dica, ninguém precisa ser expert no assunto, tente sempre recorrer ao bom senso. 

Certa vez, um amigo deixou de fazer uma reserva em um hotel para mim, pois lá não havia banheiros adaptados. Notem que as adaptações em banheiros têm por principal objetivo atender às demandas de cadeirantes, ou outras deficiências físicas. Para mim, as principais adaptações em um hotel seriam cardápios em Braille, identificação dos andares no elevador e na parte externa, numeração em relevo nas portas dos quartos e arrumação padronizada.

3 - Não faça algo para alguém sem perguntar antes o que a pessoa deseja. Certa vez, eu estava aguardando um amigo em uma esquina da Rua Domingos de Moraes, em São Paulo, e veio um cara me puxando pelo braço dizendo para correr, pois já dava para atravessar. A solidariedade de nosso povo faz de nosso País um dos melhores do mundo para se viver, mas não custa nada perguntar antes. Não é?

4 - Não desorganize o idioma em nome do politicamente correto. Um dia alguém me falou ‘vamos ouvir um filme'. Fiquei até comovido, a pessoa deve ter se desdobrado para ser mais ‘adequada'. Contudo tive que dizer que os filmes foram feitos para serem assistidos, ouvi-los seria, para mim, a forma pela qual poderia assistir. 

Esse assunto, assim como os outros, daria separadamente um artigo, mas por hora, lembre-se: se for encontrar um cadeirante e estiver em cima da hora, não fique constrangido(a) em dizer que precisa correr para chegar logo no compromisso.

5 - Não ofereça ajudas vazias. Ajuda boa é aquela que realmente contribui, não é? Nunca vou esquecer de um dia em que estava em uma rua supermovimentada com muito barulho de carro. De repente, ouvi ao longe ‘cuidado, cuidado, olha o buraco, vira para lá'. Imaginem que simplesmente travei. Buraco? Para lá!? Informações totalmente irrelevantes para quem não está vendo. Se para lá é esquerda ou direita.

*Carlos Ferrari é presidente do CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social) e vice-presidente da Fenavape (Federação Nacional das Avapes).




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