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As mortes no morro

A história dos três jovens assassinados numa favela carioca tem duas versões

Por Carlos Brickmann
18/06/2008 | 00:00
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A história dos três jovens assassinados numa favela carioca tem duas versões:

1 - Um grupo de militares capturou os três num morro e, por algum motivo, matou-os e jogou os corpos no lixo;

2 - Um grupo de militares capturou os três num morro e, por algum motivo, entregou-os a traficantes de outro morro, comandado por traficantes de um grupo rival. Os traficantes os mataram e jogaram os corpos no lixo.

Qualquer que seja a versão correta, a culpa é dos militares envolvidos no caso. Ou mataram os jovens - não importa o motivo, já que há mecanismos legais para puni-los, caso tenham infringido a lei - e são assassinos; ou mantinham relacionamento com os traficantes a quem dizem ter entregue os rapazes, e são, além de coniventes com o tráfico de entorpecentes, cúmplices de assassinato. Mas o problema principal não é este, nem se circunscreve ao grupo de militares envolvidos no caso. O problema é que as Forças Armadas têm como suporte a hierarquia e a disciplina. Hierarquia e disciplina foram violadas, não apenas no episódio dos homicídios, mas ao longo do tempo, na medida em que o contato com traficantes passou despercebido ou foi deliberadamente ignorado. Numa Força Armada, cada comandante é responsável por seus subordinados. Até o momento, não se viu nenhum ato tendente a restabelecer a disciplina; nenhuma cobrança pública foi destinada ao comandante dos indisciplinados.

Há comandante do Exército, há ministro da Defesa. Por que não se mexem?

AH, SE ELE PUDESSE!
Luiz Inácio Lula da Silva também se declarou abaladíssimo com os assassinatos. Se ele estivesse na Presidência, certamente tomaria rigorosas providências.

MÃE JOANA
A Comissão de Infra-estrutura do Senado convidou para depor, nesta quarta-feira, quatro personagens-chave da venda da Varig à sua antiga subsidiária VarigLog: os três sócios brasileiros da VarigLog, Marco Antônio Audi, Luiz Eduardo Gallo e Marcos Haftel, e Roberto Teixeira, primeiro-compadre do presidente Lula e advogado de Lap Chan, o sócio estrangeiro da empresa. Haverá depoimento? Depende: todos, alternadamente, confirmaram e desmentiram seu comparecimento.

O VILÃO OCULTO
A inflação ameaça fugir de controle - e, por incrível que pareça, o Brasil é um dos países que mais têm feito para garantir a estabilidade da moeda. No mundo desenvolvido, o temor de uma explosão inflacionária se espalhou por toda parte. Mas, curiosamente, pouco se fala de um dos grandes vilões da inflação: a alta do preço do petróleo. O petróleo é puxado não apenas pela Opep, o cartel dos países exportadores, como pelas grandes empresas petrolíferas internacionais, conhecidas como Sete Irmãs (embora já não sejam sete). O preço do petróleo não influi apenas sobre os combustíveis: também multiplica o custo dos fertilizantes (e, portanto, dos alimentos) e da petroquímica (e, portanto, dos bens de consumo).

A FOTO DA SEMANA
Vale a pena pesquisar, na Folha de S.Paulo de segunda-feira, a foto de Geraldo Alckmin assistindo ao jogo entre Brasil e Paraguai: camiseta da Seleção brasileira em cima da camisa social, com as mangas arregaçadas, olhando para a TV com ar de atenção, tentando descobrir por que diabos ninguém passava a bola para o atleta de apito na boca, sempre livre de marcação. Mas Alckmin também tem relação com o futebol: se eleito, será com certeza o Dunga dos prefeitos.

IMPRENSA AMEAÇADA
O Ministério Público e a Justiça Eleitoral estão entendendo como propaganda eleitoral antecipada o noticiário sobre as eleições municipais deste ano. Sete veículos de comunicação já foram punidos ou impedidos de publicar matérias: Gazeta Regional e Gazeta de Pirajuí (SP); Agosto, de Ribeirão Bonito, (SP); Periódico O Povo, Ituporanga (SC); Grupo Estado, São Paulo (SP); Sistema Correio, João Pessoa (PB); Tribuna das Águas, Águas de Lindóia (SP); e o blog do jornalista Pedro Dória. Há também processo contra a Folha de S. Paulo. Censura, venha de onde vier, é censura; e proibida pela Constituição.




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