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O Brasil fora da lei

Legalmente, fazer campanha nesta época é crime eleitoral. Na prática, a campanha eleitoral se faz abertamente

Carlos Brickmann
18/10/2009 | 00:00
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Legalmente, não estamos em campanha eleitoral. Legalmente, fazer campanha nesta época é crime eleitoral. Na prática, a campanha eleitoral se faz abertamente. E outra ilegalidade, campanha com dinheiro público, ocorre ao mesmo tempo. Tribunais? Ministério Público? Até agora, quedam-se em silêncio.

A visita do presidente Lula às obras de transposição do Rio São Francisco, levando a tiracolo dois possíveis candidatos - Dilma Rousseff, plano A, e Ciro Gomes, plano B - é campanha eleitoral. A promessa da ministra Dilma, de construir mais domicílios, a fiéis que transportavam miniaturas de casas na procissão do Círio de Nazaré, é campanha eleitoral. A massacrante propaganda da Petrobras, Redenção Suprema do Povo Brasileiro, é campanha eleitoral. E fora da lei.

Os aliados do presidente Lula não estão sozinhos na prática de ilegalidades. O discurso de José Serra, o mais provável candidato do PSDB à Presidência, na Basílica de Aparecida, no Dia da Padroeira, procurava ensinar aos fiéis as virtudes do bom governante. A Sabesp, estatal paulista de saneamento básico, fez campanha nacional pela TV - e, no entanto, só atua em São Paulo.

E é dinheiro público que promove festas como a do sanfoneiro Dominguinhos, ao lado de quem o governador Serra, como se fosse Suplicy, pôs-se a cantar.

Este colunista acha que campanha não deveria ter datas marcadas. Quem quisesse começar cedo que gastasse seu dinheiro e ficasse ao sol e ao sereno. Mas a lei existe para ser cumprida. E os encarregados de defendê-la, por onde andam?

NÓS E ELES
João Reis Santana (PMDB-Bahia), secretário executivo do Ministério da Integração Nacional, falava num auditório com ar-condicionado sobre a transposição do Rio São Francisco, enquanto os trabalhadores da obra e suas famílias aguardavam do lado de fora, sob 35º C. Quando alguém lhe fez sinal para encerrar, depois de 50 minutos de exposição, Santana reagiu: "Não estou preocupado. Quem manda é o presidente Lula. O resto que se exploda".

MEIA NOTA
O presidente nacional do PMDB, Michel Temer, fechou o ‘pré-acordo' para apoiar a candidatura de Dilma Rousseff (PT). Temer deve cumprir sua parte, como o tempo de TV. Mas não tem como entregar boa parte da legenda. Em Minas, o PMDB tende a fechar com o PSDB: em SP, RS, PR e PE, o PMDB já apoia o PSDB. No Paraná, o governador Roberto Requião decidiu lutar por candidatura própria. Pode acabar apoiando Dilma, mas isso é apenas uma possibilidade.

CINEMA PARA TODOS
O filme Lula - o filho do Brasil entra em cartaz em 1º de janeiro, bem antes do início legal da campanha. A verba de propaganda da película é de R$ 4 milhões. Além disso, do esforço de massificação participam sindicatos, centrais, os chamados movimentos populares, todo o aparato lulista.

BOLA EM JOGO
O PSDB diz que vai representar à Justiça Eleitoral contra o PT, por campanha antecipada. Talvez seja só bravata: é o roto falando do esfarrapado. E para ir à Justiça entregar a representação é preciso descer do muro. Como isso cansa!

AS CUECAS DO SENADOR
A melhor definição da cena constrangedora ocorrida no Senado, do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) desfilando de terno e cuecas, vermelhas, para o Pânico na TV, a pedido da comediante Sabrina Sato, saiu no blog de Josias de Souza (http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/): "O homem não é senão um ridículo em recesso, esperando para acontecer".

INJUSTIÇA
Muitas críticas ao Senado por ter aprovado proposições equivalentes à metade das aprovadas pela Câmara. Grande injustiça: o ex-governador Hélio Garcia (MG), que passou boa parte do mandato em sua fazenda, dizia que cada resolução que ele não assinava representava economia para a população.

TUDO PELO SOCIAL
Aprenda, caro leitor: as paredes de três metros de altura, de aço, concreto e policarbonato à prova de bala que a prefeitura do Rio começa agora a construir para separar as favelas das vias expressas, não são muros. São, conforme explica o prefeito Eduardo Paes, do PMDB carioca, "barreiras acústicas". E têm como objetivo, segundo ele, proteger as favelas do barulho do trânsito. Deve ser maravilhoso poder contar com autoridades tão preocupadas com o bem-estar da população mais carente!

COXA DE FORA
O lendário negociador Eduardo Rocha Azevedo, Coxa, que foi presidente da Bolsa paulista, vendeu sua corretora Convenção à Tullett Prebon Plc, especializada em renda fixa e derivativos. Coxa, que teve duelos memoráveis com adversários do porte de Naji Nahas, levou sua corretora, em 35 anos, ao grupo das cinco maiores do Brasil.




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