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Professor completa 44
anos de profissão sem
planos de parar

Na sala de aula ou com a banda de rock, Carlos Roberto Cherighim, o Beto, educa seus alunos

Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
30/06/2013 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


Quem observa o simpático homem que usa boina e toca contrabaixo numa banda de rock and roll nem imagina que se trata de um professor linha dura que leciona Física para alunos de cursinho pré-vestibular. Aos 64 anos recém completados, Carlos Roberto Cherighim, mais conhecido como Beto, completa 44 anos de magistério, sendo 40 deles dedicados ao Singular Anglo Santo André, ambiente responsável pela coleção de amigos e histórias que o educador carrega em sua bagagem.

Foi numa tarde de segunda-feira, durante o ensaio da The Teachers Fire Band, banda formada há 31 anos em parceria com outros quatro educadores do Singular, que o professor Beto recebeu a equipe do Diário pela primeira vez. A conversa aconteceu sob a trilha sonora dos garotos de Liverpool, uma das preferidas do educador. “O rock é uma linguagem universal e tem capacidade de aproximar professores e alunos”, destaca.

Apesar de a juventude atual e o cenário musical estarem completamente diferentes dos observados em 1981, data da fundação da banda para apresentação em um festival de música interno do colégio, professor Beto destaca que muitos estudantes ainda curtem o bom e velho ritmo. “Nosso repertório é baseado nos clássicos de 1960, como Beatles e a Jovem Guarda.” As apresentações dos educadores ocorrem em eventos do Singular e em bares e associações espalhadas pelo Grande ABC.

Diferentemente da música, a paixão pela sala de aula surgiu por acaso. A formação acadêmica em Física na USP (Universidade de São Paulo) tinha como objetivo a área de pesquisa, no entanto, um bico como professor mudou o destino de Beto. “Em cada aula a gente aprende alguma coisa diferente com os alunos. Já pensei até em abandonar a carreira e virar comerciante, mas não deu certo”, lembra, aos risos.

A carreira no Singular incluiu diversos cargos durante os anos de dedicação, entre eles os de coordenador e diretor do colégio. Foi dentro da unidade, em Santo André, inclusive, que a vida pessoal ganhou mais cor, já que no local o professor conheceu a esposa, com quem está casado há 37 anos e tem dois filhos. “Já dei aula para meus filhos e entre meus melhores amigos estão os colegas de trabalho”, diz, ao relatar que continua cercado pelos ex-alunos que seguiram carreiras de Medicina, Advocacia e Odontologia, por exemplo.

Na sala de aula, a boina dá lugar ao avental sujo de giz e o contrabaixo é substituído pelo microfone. Diferentemente do ensaio, o único som que ecoa é o da voz do professor Beto. A seriedade da aula também dá espaço para exemplos criativos e que aproximam docente e alunos do curso extensivo pré-vestibular do Singular Anglo. Depois de usar seu primeiro carro, um Fusca, para explicar conceitos de atrito, ele aproveita os minutos que ainda restam antes do sinal para passar exercício extra para casa. “Deus ajuda quem estuda!”, lembra o mestre a todos os que ousam reclamar em pensamento.

“Gosto de ensinar o aluno que quer aprender. Para aprender Física é preciso ter concentração”, garante professor Beto.

Entre as principais mudanças sociais da Educação ao longo dos anos, o docente considera que a maior delas diz respeito ao material humano. Isso porque, segundo ele, faltam limite e respeito dos estudantes para com os professores. “Tem ficado complicado e, por isso, prefiro cursinho a colégio, aqui os alunos tem vontade.”

Para alunos, mestre tem coração mole

Aos olhos dos estudantes, o professor Beto é reconhecido como um dos mais experientes e dedicados mestres. Além de “pegar no pé do pessoal quando pede atenção”, o docente tem a capacidade de fazer com que o aprendizado de Física se torne menos difícil, explica a aluna do cursinho pré-vestibular Patrícia de Oliveira Guazzelli, 21 anos. Segundo ela, o professor é bem detalhista, o que facilita o aprendizado.

Na visão do estudante Ewerton Xavier, 18, o professor é do tipo linha dura com coração mole. “Ele não gosta de conversa paralela e chama atenção mesmo”, diz o jovem, que pretende cursar faculdade de Engenharia Elétrica.

PLANOS

O educador, que afirma estar sempre em aperfeiçoamento, tem planos de lançar um livro e um curso de iniciação científica na área de Exatas. As aulas, de acordo com professor Beto, são destinadas aqueles que desejam ingressar no Ensino Superior. “Observamos que, às vezes, os jovens não têm bagagem suficiente para acompanhar as teorias nos primeiros anos”, destaca.

“Apesar de a carreira docente não ser reconhecida, acredito que lecionar é um dom. Só saio do tablado morto.” 




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