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Os sinos dobram por ti
Carlos Brickmann
30/06/2021 | 00:40
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Os comandantes dos policiais que mataram Lázaro puseram o corpo na viatura e festejaram. O presidente Jair Bolsonaro, que não perde oportunidade de fazer pouco da morte dos outros, divulgou um ‘CPF Cancelado’ e fez piada: “Ué, ele não morreu de Covid”. Muita gente entrou nas redes sociais para cobrar de quem não fosse bárbaro alguma crítica à vida humana destruída.

Lázaro era bandido feroz, perigoso, impiedoso. Mas era gente: o Brasil não tem pena de morte para que a pena de morte não seja aplicada. As coisas são simples: podemos estar ao lado da civilização ou da barbárie. Ficar com a barbárie atinge a consciência; ficar com a civilização traz problemas que são difíceis de resolver. É mais fácil ficar ao lado da barbárie, eliminando as vidas que, a nosso critério, sejam repugnantes ao convívio civilizado. O mais correto é fazer com que as leis sejam cumpridas e o mal sofra punição.

Nos Dez Mandamentos, berço das religiões com base no Deus único, há a determinação ‘Não Matarás’. Houve mortes? Houve, e não poucas; vindas, porém, do mau uso de Suas palavras. O Talmud, livro de estudos da lei dos judeus, determina que quem salva uma vida salva humanidade. O belo poema do pastor anglicano John Donne ensina que nenhum homem é uma ilha; “A morte de qualquer pessoa me diminui, porque sou parte do gênero humano”.

“Por isso não pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”

Entre a civilização e a barbárie, fiquemos sempre com a civilização.

A caminho do impeachment
O presidente Bolsonaro garantiu que não compraria a Coronavac, feita em cooperação pelo laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan, de São Paulo. Foi aquele episódio em que o ministro Pazuello tinha comprado 46 milhões de doses e, graças aos protestos de um adolescente bolsonarista, que não queria crescer com uma vacina comunista, Bolsonaro o obrigou a dizer que não ia comprar vacina (ou “vachina”, como disse). A partir daí, só houve confusão. As vacinas Astrazeneca, que a Fiocruz iria produzir, se atrasaram. A Pfizer ficou na fila. A Coronavac acabou sendo comprada. E aí entrou em cena a Covachin indiana. Esta custava caríssimo, foi prometida por algo como US$ 1,5, mas saía mesmo por US$ 15,55 – 1.000 vezes mais. Não vinha direto dos laboratórios, mas de intermediários... E correu frouxa no mercado, sem que ninguém a contestasse. Ou melhor: dizem que um servidor público, irmão de um parlamentar bolsonarista, foi ao presidente e fez a denúncia. E daí? Daí, o maninho botou a boca no trombone e está dificílimo segurar os escândalos em série. Já há representações ao Supremo, já se prepara um superpedido de impeachment, o deputado diz que ele jamais gravaria o presidente da República, mas que, afinal de contas, ele não estava sozinho na conversa com Jair Bolsonaro e não sabe se outra pessoa andou gravando.

As pedras no caminho
Vale a pena prestar atenção no texto dos jornais que andam publicando as informações sobre possíveis irregularidades nas negociações do governo Bolsonaro. “Informações a que este jornal teve acesso” querem dizer que pessoas do poder estão envolvidas na distribuição de notícias. Isso quer dizer que tiveram, sim, e é melhor não perder tempo com desmentidos.

E quando começam a aparecer os parentes dos réus, aí é sinal de que a vaca se dirige rapidamente ao brejo. A oferta de um depoimento sobre seu ex-marido, proposta há poucos dias pela ex-senhora Pazuello, pode ser uma iniciativa devastadora. Mulheres o marido troca, mas ex-mulheres são para sempre.

Poeta do passado
Há uns 70 anos, José Alcides, Sátiro Francisco e Tancredo Silva criaram um ponto de macumba que, na voz de Blecaute, virou sucesso nacional. Na época nem havia um general famoso chamado Mourão, mas escolheram seu nome: “Chegou o general da banda ê ê; chegou o general da banda, ê a; Mourão, Mourão, vara madura que não cai; Mourão, Mourão, Mourão, catuca por baixo que ele vai”
https://www.youtube.com/watch?v=DVmYJif36yw

Em 64, 14 anos mais tarde, um Mourão, com o mesmo nome do general da banda, foi catucado por baixo e levou suas tropas ao Rio para derrubar o presidente João Goulart. Derrubou-o sem disparar um tiro e, embora trouxesse sua tropas, entregou o Ministério da Guerra ao general mais antigo, Arthur da Costa e Silva. Agora, surge um problema conhecido: para fazer o impeachment do presidente, é preciso ter o apoio do vice, anda mais quando o titular ameaça usar tropas para manter-se no cargo. Será que o vice, várias vezes desautorizado pelo presidente da República, estará ou não disposto a ser destratado mais vezes e ignorado na execução de tarefas que lhe foram designadas pelo próprio presidente? 




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