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Quatro a cada dez cursos universitários da região são reprovados no Enade

Das 98 graduações avaliadas, 38 tiveram nota entre 1 e 2 e podem ser punidas pelo MEC; Grupo Anhanguera registra o pior desempenho

Por Yasmin Assagra
Do Diário do Grande ABC
21/10/2020 | 00:01
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Pixabay


Quatro de cada dez cursos de graduação em faculdades, centros universitários e universidades do Grande ABC apresentaram resultado insatisfatório na edição 2020 do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). Dos 98 cursos avaliados, 38 receberam notas 1 ou 2, em escala que vai até 5, de acordo com dados divulgados ontem pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).

Na edição deste ano – que corresponde ao exame realizado em 2019 – foram avaliadas 29 áreas da graduação, como arquitetura e urbanismo, enfermagem, nutrição, medicina veterinária, engenharia ambiental, civil e produção. A nota do Enade é um dos pilares de avaliação do MEC (Ministério da Educação) sobre a qualidade das instituições de ensino superior.

As graduações que apresentam índices 1 ou 2 passam por supervisão técnica do MEC e podem sofrer sanções caso não apresentem tendência de melhora nos próximos meses. Entre as punições previstas pelo governo federal estão impedimento de participar de programas como o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e o Prouni (Universidade para Todos).

De acordo com os dados de 2018, divulgados em 2019, foram 41 cursos da região reprovados, entre 109 avaliados, mas apenas um apresentou nota 1. Desta vez, dos 38 que não passaram pelo crivo, oito receberam a nota mínima. Os piores desempenhos foram das unidades de Santo André e de São Bernardo do Grupo Anhanguera, já que 23 foram reprovados, ou seja, 60,5% da lista (veja as piores notas da região na arte ao lado).

Do outro lado, quatro graduações conseguiram nota máxima nos testes do Enade: engenharia ambiental da UFABC (Universidade Federal do ABC), em Santo André; engenharia de produção da UFABC, em São Bernardo; engenharia elétrica do Centro Universitário FEI, de São Bernardo; e engenharia de produção do Instituto de Tecnologia da Mauá, de São Caetano. Outros 20 cursos alcançaram a nota 4.

JUSTIFICATIVAS
A FSA (Fundação Santo André), que teve sete cursos entre os piores, declarou que aguarda a publicação do CPC (Conceito Preliminar de Curso) – que ocorre sempre no ano seguinte ao do Enade – que engloba, além da nota do exame, a avaliação dos professores e infraestrutura da unidade para traçar um diagnóstico. “Quanto ao indicador exclusivo da prova Enade, apuramos baixo engajamento e estudo do corpo discente o que resultou no desempenho obtido. Reforçamos que a reitoria tem envidado esforços para melhoria promovendo maior envolvimento dos corpos docente e discente, bem como novas avaliações em sala de aula no estilo Enade”, comentou o reitor, Rodrigo Cutri.

Já a Universidade Metodista, de São Bernardo, que teve três notas baixas, explica que “iniciou projeto de avaliação interna para verificar e melhorar o desempenho de seus cursos e da universidade em diversas dimensões e que será aplicado a partir de 2021”.

A Anhanguera ressaltou que "prezam pela qualidade de ensino e desenvolvimento de seus alunos, trabalhando para a melhoria contínua dos cursos ofertados na unidade". Sobre a nota obtida no Enade 2019, a instituição informou que o índice não reflete a solidez do trabalho educacional, já que avalia apenas o momento do estudante durante o exame, "sem contemplar a formação global do aluno como cidadão e como um profissional esperado, além do desenvolvimento de seus projetos de vida", detalham. Segundo a Anhanguera, a instituição conta com programas acadêmicos que visam acompanhar o desempenho dos estudantes em todas as graduações. 

As demais instituições que constam na lista foram procuradas, mas não responderam até o fechamento desta edição.

Especialista aponta estagnação nos investimentos

Doutor em educação, o professor Roger Marchesini destaca que, diante dos resultados do Enade, pode-se concluir que não houve crescimento significativo das notas em relação ao ano passado, quando 41 cursos apareceram no levantamento com notas entre 1 e 2 de 109 graduações avaliadas. Para o especialista, houve “congelamento dos investimentos” nos cursos nas instituições.

“Claro que de um ano para outro, os cursos mudam neste levantamento e, talvez, não dê para compararmos muito, porém, minha percepção é a de que não houve um crescimento no investimento, mesmo sendo em universidades privadas”, detalha.

Marchesini avalia que o reflexo pode estar diretamente ligado ao desempenho dos estudantes nos cursos, já que são graduações que necessitam de laboratórios e espaços para atividades práticas. “Vemos que, na região, os cursos com notas baixas são na área da saúde ou tecnologia, por exemplo, graduações que demandam investimentos maiores”, detalha o professor.

Por causa da pandemia, a prova do Enade de 2020 foi cancelada. O próximo balanço só sairá em 2022, com o desempenho de 2021. Mas os reflexos da Covid devem aparecer, já que as aulas precisaram ser adaptadas ao ensino remoto.

No Enade 2019, apenas dois cursos a distância entraram no levantamento, sendo os dois em São Bernardo, da Universidade Metodista, um de tecnologia em gestão hospitalar e outro de tecnologia em gestão ambiental, com notas 3 e 2, respectivamente. “Acredito que no pós-Covid haverá migração maior de cursos ao EAD, não pelos alunos, mas pelas universidades. Uma quantidade maior de cursos híbridos, ou seja, presencial e remota”, declara Marchesini. “Infelizmente, todas as universidades foram pegas de surpresa e fizeram essa adaptação para o on-line, mas a estrutura do EAD é diferente e acredito que isso vai aumentar”, finaliza.
 




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