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Stones
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
31/12/2005 | 08:32
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Remova toda parafernália que faz as turnês dos Rolling Stones se assemelharem a uma versão rocker de um parque de diversões (telões, iluminação de alta tecnologia, toneladas de equipamentos e um sem-número de efeitos especiais). E, então, o que vai sobrar? A resposta está no CD Rarities 1971-2003 (EMI R$ 36 em média), coletânea de lados-b, remixes, e (como o próprio título denota) raridades de uma da mais produtivas e longevas instituições do showbusiness.

Capturados em momentos espontâneos e desprovidos de todo o aparato monumental, os Stones são (e sempre foram) uma excepcional blues band, daquelas capazes de animar a platéia de qualquer boteco de beira de estrada. Não à toa, o grupo sempre escolhe clubes pequenos para iniciar suas turnês. O palco é o espaço em que Mick Jagger e Keith Richards ainda conseguem resolver suas lendárias diferenças, potencializadas em mais de 40 anos de convivência.

Alguma dúvida? Ouça Fancy Man Blues, lado-b do single Mixed Emotions, faixa de trabalho do álbum Steel Wheels, de 1989, que marca a consolidação da banda como uma empresa multimilionária. Mixed Emotions também integra o repertório, em versão promocional para as rádios, cuja mixagem deu ênfase ao vocais e ao refrão grudento. Com naturalidade, Jagger canta o blues com aquele mesmo jeito malevolente e arrastado dos bons momentos de Exile on Main Street, clássico absoluto de 1972. Outro exemplo de canção desse estilo, que eles usam para o aquecimento antes dos shows e das sessões de gravação, é Manish Boy, cover de Muddy Waters.

A favorita do baterista Charlie Watts é a versão ao vivo de Wild Horses gravada para o álbum Stripped (1996). "Está muito bem tocada. Todos conhecem essa canção muito bem e ela fluiu naturalmente", comenta o músico em um texto no encarte do álbum. Ainda segundo Watts, este é um dos trabalhos mais subestimados dos Stones. "Se considerarem o Exile um bom disco, devem considerar que o Stripped vem logo atrás. É um grande disco, em parte, devido ao fato de que foi gravado durante a turnê", salienta.

Apesar de cada integrante do grupo ter sua predileções, todos concordam que a balada Through the Lonely Nights, lado-b do compacto It’s Only Rock ‘n’ Roll, lançado em 1974, é um ótimo momento stoneano. Até Ron Wood, substituto de Mick Taylor, que então formava com Richards a dupla de guitarristas da banda. Taylor pediu demissão da formação e acusou Jagger e Richards de não creditar suas colaborações nas músicas.

Poder de fogo – Outros destaques ficam por conta da versão ao vivo do clássico Tumbling Dice, o cover de Chuck Berry Let it Rock (gravado ao vivo na Universidade de Leeds, na Inglaterra, em 1971) e I Just Wanna Make Locove To You, versão para um blues de Willie Dixon (1915-1992), inclusa no repertório do disco No Security, de 1998. Pura explosão de hormônios.

Richards sempre foi um instrumentista econômico, preocupado muito mais com a "pegada" e o feelling do que com a profusão de acordes que caracteriza os músicos virtuosos. Nem por isso é menos brilhante, já que sempre produziu riffs extraordinários (quer coisa mais eficiente e memorável que Satisfaction?). Para quem ainda não conhece o poder de fogo desses decanos do rock, que virão ao Brasil pela terceira vez em fevereiro do ano que começa amanhã para divulgar o ótimo CD A Bigger Bang – será um megashow na praia de Copacabana, no Rio –, Rarities 1971-2003 é um bom aperitivo.




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