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Célula-tronco pode brecar a diabete
Por Marco Borba
Do Diário do Grande ABC
28/05/2007 | 07:12
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As pesquisas avançadas com células-tronco são comemoradas agora por um grupo numeroso de pacientes: os diabéticos.

Um tratamento à base de quimioterapia e o autotransplante de medula óssea, realizado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, livrou 14 pacientes com diabete do tipo 1 da aplicação de doses diárias de insulina.

Um dos diabéticos está há 37 meses sem tomar o medicamento. A função da insulina é retirar a glicose do sangue e transportá-la para dentro das células do organismo, onde se transforma na energia que necessitamos para as tarefas do dia-a-dia. O autotransplante é o processo em que células-tronco são tiradas e reinjetadas na própria pessoa.

A pesquisa – coordenada pelo CTC (Centro de Terapia Celular) da faculdade, ligada à USP – foi realizada entre novembro de 2003 e julho do ano passado. No período, 15 pessoas se submeteram ao tratamento.

Apenas no caso de uma delas, que usou um esquema terapêutico à base de corticóides (não usado nos demais), a terapia não funcionou. O paciente retomou o uso da insulina. Nos demais casos, o organismo voltou a produzi-la.

O imunologista Júlio Cesar Voltarelli, principal idealizador da pesquisa, disse em entrevista ao Diário que a idéia do tratamento nasceu em 2001, a partir de estudos com pacientes portadores de outras doenças auto-imunes (agridem o próprio organismo), como o lúpus, que afeta a pele, as articulações, rins e outros órgãos.

“Em uma troca de informações sobre esse procedimento, com o professor Richard Burt (chefe de imunoterapia da escola de Medicina da Universidade Northwestern, de Chigaco, EUA) pensamos: por que não testar com a diabete? Ele pensou em fazer, mas lá (nos EUA) parece que não deram muita atenção.”

A quimioterapia , feita durante cinco dias antes do autotransplante, explica o médico, acaba com a agressão à região do pâncreas que produz a insulina. Já a injeção intravenosa com as células-tronco – capazes de se diferenciar dos demais tipos e gerar outras células do sistema de defesa do organismo – constrói um novo sistema imunológico.

Por causa desse processo de desconstrução (uso da quimioterapia) e reconstrução (autotransplante) do sistema imunológico, a pessoa precisa tomar novamente todas as vacinas, como a do sarampo, por exemplo. “É que o processo zera o sistema imunológico e cria um novo.”

De acordo com Voltarelli, ainda não é possível saber se o sucesso do estudo se deve à quimioterapia, ao autotransplante de células-tronco retiradas da medula do paciente, ou à combinação dos dois fatores. É por isso que os médicos pretendem dar seguimento às pesquisas.

Os pacientes continuam sendo observados pela equipe do CTC. A cada seis meses se submetem a exames. O objetivo é saber se com o passar do tempo o organismo vai manter intactas as células que produzem insulina.

Segundo Voltarelli, o início do tratamento logo após o diagnóstico da doença contribui para a eficácia. Foram escolhidos os que tinham até seis semanas de diagnóstico.

“No início da doença, nem todas as células que produzem a insulina são afetadas. Se demora muito tempo (para o tratamento), essas células também morrem.” No caso de 12 pacientes, conta o médico, a resposta do organismo ao tratamento surgiu três dias após os procedimentos.

Apesar dos resultados, alerta Voltarelli, não se pode falar em cura da diabete do tipo 1. “Esses pacientes estão no que chamamos de estado controlado, mas sempre há o risco de reversão. Qualquer um deles pode voltar a ser diabético.”

A diabete do tipo 1 costuma surgir na infância ou início da vida adulta, entre os 7 e 20 anos. Oito dos 15 pacientes tinham menos de 18 anos no início da pesquisa.

RISCOS

Os cerca de cem candidatos entrevistados foram informados dos riscos do tratamento. “Como são drogas quimioterápicas, a curto prazo podem surgir certos tipos de infecção e, a longo prazo, o câncer e a esterilidade. Mas o risco é muito pequeno, disse Voltarelli.

O estudo teve de esperar um ano para ser aprovado pela Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), do Ministério da Saúde. O custo do tratamento por paciente ficou entre R$ 20 mil e R$ 30 mil.




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