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Motoristas sofrem na volta para casa
Do Diário do Grande ABC
03/06/2011 | 05:46
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A volta para casa ontem não foi complicada apenas para quem dependia de transporte público. Com ônibus e trens parados pelo segundo dia consecutivo devido à greve de motoristas e cobradores, o fluxo de carros nas ruas do Grande ABC aumentou e provocou congestionamentos.

Vias que geralmente costumam apresentar problemas nos horários de pico estavam ainda mais travadas. Em São Bernardo, a Prefeitura estima que a circulação de veículos aumentou em 35%. As avenidas Faria Lima, Pereira Barreto (sentido Santo André) e Rua Jurubatuba, no Centro, receberam grande parte desse contingente. Buzinaços eram ouvidos por toda a região do Paço Municipal.

A situação permanecia ao seguir para Santo André, cuja estimativa de aumento na circulação de veículos foi de 20%. Avenidas Dom Pedro, Pereira Barreto, Prestes Maia, Itamarati e Lauro Gomes registraram tráfego intenso mesmo após as 20h.

Apesar de não ter registrado paralisação de ônibus, Diadema também sentiu as consequências da greve: o fluxo de veículos em circulação aumentou em 10%, o que causou congestionamentos nas avenidas Fábio Eduardo Ramos Esquível, Antonio Piranga e Piraporinha. Para quem precisava retornar da Capital, a situação era ainda mais desesperadora. A equipe do Diário saiu da Rua da Consolação, no Centro, às 17h30 e chegou ao bairro Jardim, em Santo André, por volta das 20h. Os piores pontos foram enfrentados nas avenidas Goiás, em São Caetano, e Dom Pedro II, em Santo André.

CLIMA DE FERIADO
Com a paralisação da Linha 10-Turquesa da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, as imediações da Estação Mauá registraram movimento tranquilo entre 17h30 e 19h, horário que geralmente tem intensa circulação de passageiros. Policiais militares e fiscais de trânsito circularam sem problemas, inclusive pelos calçadões.

Alguns usuários que voltavam do trabalho ainda arriscaram passar pelo terminal na esperança de conseguir condução. Às 19h, o eletrecista Marcelo de Souza, 24, chegou à estação, vindo do Parque São Vicente. Já havia caminhado meia hora. "Agora vai pelo menos mais duas horas até o Zaíra 5."

De carro, o deslocamento de Mauá até a Estação Prefeito Celso Daniel, em Santo André, levou uma hora e meia ontem, por volta das 19h. No Viaduto Adib Chammas, região central, o trânsito estava completamente parado.

Às 21h, em frente aos portões da CPTM, passageiros ainda aguardavam a normalização da circulação dos trens.

Porteiro caminha 15 km para voltar do trabalho

Por falta de opção, passageiros enfrentaram horas de caminhada na manhã de ontem para chegar aos destinos pretendidos.

Foi o caso do porteiro Ângelo Mendes da Silva, 45 anos. Depois de uma madrugada inteira de trabalho em um prédio no Bairro Jardim, em Santo André, ele andou cerca de 15 quilômetros, durante três horas, até chegar em casa, no Parque Selecta, em São Bernardo. Se fosse de ônibus, levaria uma hora e meia.

O auxiliar de manutenção de Santo André Alcides dos Santos, 55, tentava chegar a pé à Via a Anchieta, após esperar o ônibus que segue para o Terminal Piraporinha, na Avenida Pereira Barreto. "Vou andando. Se eles vierem me buscar, já estarei no meio do caminho", disse o auxiliar que trabalha em uma empresa na rodovia.

A auxiliar administrativa Márcia Oliveira, 43, precisou se agasalhar bem, ter paciência e coragem para sair de casa no Jardim São Sebastião, em Mauá, às 5h, e caminhar por seis quilômetros até a estação de trem, no Centro. Ao chegar, se surpreendeu com a greve dos ferroviários. "A sorte é que encontrei uma mulher e viemos caminhando juntas, porque esse horário é escuro e perigoso. Depois de tudo isso, ainda temos a notícia da greve. Não tenho o que fazer, preciso do trem para chegar ao trabalho na Capital. O jeito vai ser caminhar mais seis quilômetros para chegar em casa", contou Márcia.

O protético de Mauá Marcel Ferrone de Moura, 21, levou uma hora e dez minutos do bairro Feital até o Centro na esperança de encontrar um táxi para chegar ao trabalho em Santo André. "Em todos os pontos que passei estavam vazios. É preciso ter paciência."

BICICLETÁRIO
A greve dos trens refletiu-se no movimento do bicicletário da Estação Mauá. Um funcionário informou que, em média, são deixadas cerca de 3.000 bicicletas por dia. Ontem pela manhã, havia cerca de 500. O motivo: muitos passageiros optaram por utilizá-la para chegar ao trabalho.

O ajudante José Carlos Gomes, 51, optou pela bicicleta para chegar ao serviço em Ribeirão Pires. Era o único modo de chegar na cidade. "Desde ontem estou indo trabalhar assim. É o modo que encontrei de não faltar no emprego. É perigoso, mas logo tiro minha carteira de habilitação e consigo comprar um carro."

Já o ajudante geral Amauri Pires, 47, não quis arriscar. "Como trabalho no Tatuapé, ir de bicicleta não compensa e ainda é perigoso", explicou o morador do Zaíra 4.

LOTAÇÕES
As lotações clandestinas começam a circular por Mauá antes das 5h30. Na Rua do Comércio, próximo à Estação Mauá, as filas de kombis, vans e veículos cresciam a cada hora. Os destinos eram os mais variados e incluíam outras cidades da região e Capital. Os preços cobrados variavam de R$ 2,50 a R$ 3 para rotas dentro do município, e até R$ 20 para levar até São Caetano.

A auxiliar de limpeza Edileuza Araújo Moura, 29 anos, já contabiliza o prejuízo causado pela greve do transporte público. Ontem, no segundo dia de paralisação, já havia desembolsado R$ 9. Para ela, falta respeito para com o cidadão. "Todos têm o direito de pedir melhores salários e condições de trabalho. Mas eles (motoristas e cobradores) precisam dar valor para a população, que é quem paga seus salários", protestou.

 

Passageiros temem perder o emprego

O medo de perder o emprego tomou conta dos moradores da região que dependem do transporte público para chegar ao trabalho. Ontem era comum observar as pessoas exaltadas, aflitas ao celular, justificando a ausência no trabalho ou tentando encontrar alternativas.

Sem opção, muitos precisaram voltar para casa, como a operadora de caixa de Mauá Alessandra Rodrigues Nunes, 34 anos, que teme ser prejudicada pela ausência no curso para ser admitida em empresa de telefonia.

Ontem foi a segunda vez que a moradora do Jardim Miranda não conseguiu chegar ao destino. Ela saiu às 4h30 em direção à estação de trem e foi informada sobre a paralisação. "O curso tem 30 dias, mas só posso faltar três. Se houver mais um dia de greve, não sei o que vou fazer", contou Alessandra, que veio de Minas Gerais há dois meses.

O carpinteiro Sivanildo Pereira de Souza. 27, foi de bicicleta do Jardim Zaíra 4 até a Estação Mauá. "Hoje (ontem) seria o primeiro dia de integração na empresa de obra em São Bernardo. Vou precisar ligar e explicar a situação e torcer para que possa ser feita na próxima semana", explicou Souza.

A despachante aduaneira Aline Pareto, 31, mora em Santo André e trabalha no Jardim Aeroporto, na Capital. No primeiro dia de greve, depois de amargar duas horas de espera no ponto, resolveu apelar para a carona de um familiar. Mesmo assim, chegou duas horas atrasada. Ontem, esperou meia hora no terminal de Santo André para constatar que o trólebus que vai até o Terminal Diadema não estava rodando. Optou novamente pela carona. "O pior é que sou nova na empresa. Entrei há apenas dois meses, espero que entendam."

Já Laudinéia Gonçalves, 48, trabalha há dois anos em uma empresa no Brás e nunca faltou. Ontem, não tinha à disposição nenhuma das quatro opções de transporte que utiliza. "Moro na Vila Luzita, entre São Bernardo e Santo André. Os dois ônibus que vão para São Paulo não estão passando e o trem está fechado. Aqui no terminal está impossível de entrar", comentou. (reportagens de Bruna Gonçalves, Camila Brunelli, Camila Galvez, Fábio Munhoz e Maíra Sanches)




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