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Adolescente morre após show regado a bebida
Bruno Ribeiro, Cláudia Fernandes e Rita Camacho
Do Diário do Grande ABC
27/09/2005 | 07:51
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O Metôfolia, maratona de shows que reuniu 8 mil pessoas no último sábado no Estância Alto da Serra, em São Bernardo, foi marcado por brigas, adolescentes embriagados e uma tragédia. Rafael Rogério Dourado, 16 anos, que acabara de sair da festa, morreu de traumatismo craniano após cair na estrada Névio Carlone, a 150 metros da entrada da casa de shows. A família do rapaz e dois colegas que o acompanharam afirmam que o socorro demorou pelo menos 20 minutos. O Estância garante que atendeu prontamente ao chamado e alega que o rapaz estava alcoolizado e que se asfixiou com o próprio vômito ao ser acomodado de barriga para cima no chão, antes de a ambulância chegar.

Embora menores, Rafael – segundo os jovens que o acompanhavam – e diversos adolescentes entrevistados pelo Diário, afirmaram que beberam quanto quiseram na festa. Principalmente durante o open bar, sistema pelo qual a casa serviu cerveja à vontade das 12h (quando a festa começou) até as 14h. O Estância afirma que proíbe a prática e que fiscaliza rigorosamente a distribuição e comercialização de bebidas alcoólicas a menores.

Quem esteve no local diz o contrário. “Tive que buscar meu filho que estava passando mal lá dentro. Encontrei duas enfermarias precárias, uma com cerca de dez crianças desmaiadas no chão e outra isolada com madeirites. As crianças tinham garrafas de vodca e uísque, que misturavam com refrigerantes e sucos e bebiam à vontade. Os seguranças ficavam só olhando, sem repreender nenhuma criança”, descreve o pai de um freqüentador que pede para não ser identificado.

A morte de Rafael foi registrada por volta das 21h, mas antes a festa já havia sido palco de brigas. Por volta das 15h, o show do grupo Inimigos da HP foi interrompido para que a segurança apartasse uma briga na pista de dança. Quem estava na casa disse que um jovem foi agredido por cerca de dez rapazes e que quando a banda parou de tocar, ele ficou estendido no chão, inconsciente e todo machucado. O rapaz teria sido socorrido e o show recomeçou.

Os estudantes C.G.F., 16 anos, e T.E., 21 anos, que acompanhavam Rafael na saída da festa, disseram que tentavam conseguir vaga numa van para voltar à região central de São Bernardo quando Rafael caiu. “Eram cerca de seis ou sete vans. Fomos caminhando na estrada e perguntando, mas já estavam todas reservadas. Quando um motorista me disse que havia um ponto de ônibus a 300 metros, virei-me para avisar o Rafael – que estava a três ou quatro passos para trás – e ele caiu”, conta C., que afirmou não ter tido chance de amparar o amigo. “Por isso, ele bateu forte a cabeça no chão”.

“Tentamos reanimá-lo. Jogamos água nele”, conta T.. Como Rafael se mantinha desacordado e “em convulsão”, o jovem teria corrido até a portaria do Estância. “Disseram-me que não havia ambulância”, conta T. Ele não sabe dizer a quem perguntou. “Estava uma confusão, muita gente. Então pedi ajuda a um PM numa viatura. Ele não conseguiu ligar para a ambulância e disse que não poderia largar seu posto.” T. então recorreu a um agente de trânsito. Foi ele quem chamou a ambulância, mas demorou de 25 a 30 minutos.”

“Eu tinha conversado com meu filho por telefone por volta das 19h. Ele estava bem. Às 20h, mais ou menos, recebi uma ligação do amigo de meu filho dizendo que ele estava passando mal e que o tinham levado ao Hospital Assunção. O médico disse que ele ainda tinha pulsação quando chegou. Apresentava traumatismo craniano e não estava respondendo bem ao tratamento. Ficamos esperando. Às 21h, o médico chamou meu marido e disse que meu filho havia morrido”, diz a autônoma Matilde Dourado, mãe de Rafael. Ela afirma que os médicos que atenderam o estudante disseram que se ele tivesse chegado ao hospital mais cedo teria tido maiores chances de sobreviver. “Os médicos falaram também que a ambulância que o trouxe não tinha oxigênio nos balões.”

A mãe de Rafael afirma que o filho estava alimentado. “Comeu seis esfihas e um todinho”, diz Matilde. O colega C., por outro lado, afirma que Rafael não havia comido antes de sair de casa e teria bebido quatro cervejas até as 15h na festa. “Ele não comeu nada no Estância. Até me disse: ‘quando eu chegar em casa o que eu mais quero é comer e dormir’”, relatou o jovem. C. e T. são categóricos ao afirmar que qualquer menor podia se servir de cerveja no balcão.

No enterro, no Cemitério Jardim da Colina, domingo à tarde, os adolescentes que estavam com Rafael no show confessaram a amigos que ele tinha consumido álcool desde a hora da chegada até o fim da festa. “Eles beberam o tempo todo. Foram muito mais do que quatro cervejas. Dentro do Estância, ninguém pede identidade para vender bebida”, disse uma amiga de Rafael.

Segundo ela, a compra de bebida alcoólica começa na entrada do Estância. “Nas barraquinhas, a bebida é bem mais barata. Eles (ambulantes) vendem cerveja, doses de vodca e caipirinha. Lá dentro da casa, pegamos os tíquetes e retiramos a bebida no balcão.”

Rafael morava com a família no bairro Santa Terezinha, em São Bernardo. Desde maio, era aluno do período noturno do 2º ano do ensino médio no Colégio Viva Vida, no Centro. Estudou também no Instituto Barão de Mauá, Sapiens e Arbos.




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