Na quarta-feira, Terezinha Sardano, 70 anos, subirá ao palco do Teatro Alfa, em São Paulo, para receber pela segunda vez o Prêmio Bem Eficiente, que reconhece a excelência dos serviços prestados à comunidade por entidades de todo o país. Ela é fundadora, e presidente há quase 20 anos, da Instituição Assistencial e Educacional Amélia Rodrigues, em Santo André, uma das 50 ganhadoras do prêmio mais importante da filantropia. E diz que ao receber a homenagem se lembrará da legião de voluntários e funcionários que tornam possível o atendimento de 350 crianças e adolescentes, além de suas famílias, moradores de áreas carentes da cidade, como Tamarutaca, Sacadura Cabral e Palmares.

Pode-se dizer que Terezinha terá de se lembrar de um batalhão de pessoas ao receber a placa de bronze: são cerca de 130 colaboradores, envolvidos com atividades que vão de creche a iniciação profissional, passando por assistência médica, odontológica e psicopedagógica, além dos programas de geração de renda. “Se não fosse a sensibilidade e dedicação desses profissionais, com a ajuda de Deus, não teria nem prêmio nem nada. Só seríamos uma idéia”, afirmou Terezinha.

Uma criança pode entrar na Amélia Rodrigues com três meses, no berçário, e sair de lá aos 17 anos, depois de aprender noções básicas de informática e prática de escritório. O aluno Ariel Diego da Silva diz que já tem oito anos, mas está na instituição desde que era um “bebezinho”. Depois que completou sete anos e passou a freqüentar a escola, à tarde, ele participa todas as manhãs das atividades desenvolvidas pelo Centro da Juventude da instituição. São aulas de teatro, música, expressão corporal, acompanhamento escolar, sempre com a preocupação de estimular o hábito da leitura e a prática da cidadania.

“‘Tô’ aqui a minha vida inteira. E não quero sair nunca. Tenho um monte de amigos que entraram aqui comigo e estão até hoje também”, contou Ariel, que se preparava ontem para o almoço oferecido a todas as crianças e adolescentes da instituição. E os que freqüentam as turmas da tarde também não voltam para casa de barriga vazia.

O acompanhamento escolar continua, assim como o reforço de português e em educação ambiental, até que os adolescentes estejam preparados para a iniciação profissional, que atende jovens a partir de 15 anos.

A presidente da Amélia Rodrigues acredita que o amplo atendimento feito pela instituição é uma evolução das necessidades apresentadas pelas próprias crianças. “No começo, quando ainda só tínhamos a creche, eram nove crianças conosco. Quando elas completaram 7 anos, pensamos: e agora? Era preciso criar condições para que não perdessem a referência e não fossem mais uma dezena de crianças que passavam o dia na rua.”

A auxiliar de limpeza Joanice Gomes da Silva tem os quatro filhos matriculados na entidade – Marcos, 6 anos, Laíssa, 7, Karen, 10, e Jéssica, 14. E garante que estariam na rua se não tivesse descoberto a instituição, há quatro anos. “A vida da família melhorou muito depois que meus filhos entraram aqui. Agora, eles têm acesso a uma boa educação e não ficam largados”, disse Joanice, ex-catadora de lixo na favela Tamarutaca. “Consegui um emprego melhor e já não moro num barraquinho. Hoje, na minha rua tem até asfalto.”

“Devagarzinho”, como Terezinha faz questão de dizer, os serviços foram estendidos às famílias. Hoje, as gestantes participam de oficinas de costura e fazem peças de enxoval dos bebês. Além das aulas de pintura, crochê e artesanato, que podem viabilizar o aumento da renda familiar.

“Antes, ocupávamos apenas uma sala, e esse prédio era só barro. Hoje, são 3 mil m² construídos. Colocamos tijolo por tijolo, durante quase 20 anos. Para cumprir nossa missão de ajudar e transformar”, finalizou.