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Um século de amor à vida

Daicy Grosze Nipper, uma dos 223 centenários do Grande ABC, esbanja bom humor e simpatia

Bianca Barbosa
especial para o Diário
04/06/2018 | 07:07
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André Henriques/DGABC


Postura impecável e pernas cruzadas são a marca registrada de Daicy Grosze Nipper, moradora da Casa dos Velhinhos Dona Adelaide, no Centro de São Bernardo, há 16 anos. Natural de Jaú, no Interior do Estado, ela é uma dos 223 centenários do Grande ABC, conforme o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Caçula de três irmãs, partiu para a Capital aos 14 anos, à procura de vida nova com a família. Trabalhou como tecelã até conhecer o marido. Casou, teve filha, netos. Ficou viúva e se mudou para o lar de idosos, onde completou 100 anos no dia 20 de abril.

De todos os assuntos que ela mais gosta de falar, tango é o principal. “Não lembro os nomes das músicas, mas sendo tango pode tocar que eu danço”, diz, bem humorada, a vencedora de concursos de dança na juventude. A paixão pelo estilo musical proporcionou, inclusive, o primeiro encontro com o marido, em um baile na região do Cambuci, na Capital.

A família, segundo ela, a visita esporadicamente. A filha reside no Litoral paulista. “Minha família é essa aqui. Tenho amizade com todos. À noite sento na minha cama e faço oração para todas elas (amigas e funcionárias), peço que Deus abençoe e dê paz para todos os que dormem aqui.”

Apesar de estar bem de saúde, a centenária possui mal de Alzheimer, doença que atrapalha nas memórias mais recentes. Exemplo é que, quando questionada sobre a idade, dona Daicy teima ter 80 anos, embora reafirme ter nascido em 1918. Apesar de não sentir dores, ela confessa um leve cansaço. “E você sabe lá quantos anos faz que eu vivo? Que eu almoço, tomo café?”, questiona. Uma das alegrias, inclusive, é comer, revela. “É uma delícia. Graças a Deus eu como bem. O que eu mais gosto é macarronada. Pode botar um quilo que eu como tudo”, brinca.

Em um leve momento de nostalgia, a centenária se recorda dos pais com carinho. As memórias, entretanto, são manchadas pelo período da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). “A mamãe chorava muito, todos os dias. Eu era pequena e coloquei na cabeça que não era uma coisa boa. Todo dia de manhã eu perguntava para ela se ele (o pai) tinha chegado e ela mentia, dizia que ele tinha telefonado e que estava ocupado. Depois de mocinha que fui saber que ele estava na guerra.” Ela se lembra com emoção da festa no dia em que, após fim dos conflitos, o pai retornou para casa. “Todo mundo estava muito feliz. O jantar acabou sabe a que horas? Sete da manhã”, destaca.

Animada com a entrevista para a equipe do Diário, dona Daicy faz questão de pedir um exemplar do periódico. “Vou sair no jornal então? Traz um para mim? Mas é para guardar. Vou deixar por escrito que, quando morrer, quero que coloquem o jornal junto comigo”, sentencia.

A casa abriga hoje 33 velhinhos cheios de histórias para recordar. Como é uma instituição sem fins lucrativos, aceita doações e voluntários de braços abertos. “Passamos mais tempo aqui do que com as nossas famílias. Os laços são muito fortes”, diz a coordenadora do abrigo, Juliana Massini.

Dona Daicy parece seguir à risca trecho do poema Velhas Árvores, de Olavo Bilac, – cujo ano de morte coincide com o de nascimento da centenária. “Não choremos, amigo, a mocidade!/Envelheçamos rindo! envelheçamos/Como as árvores fortes envelhecem: Na glória da alegria e da bondade,/Agasalhando os pássaros nos ramos,/Dando sombra e consolo aos que padecem!”

SEGREDO
Geriatra e médica da família, Amanda do Val Anderi revela que anualmente são publicados diversos estudos sobre a longevidade. Todas as publicações têm algo em comum. “Quanto melhor a qualidade de vida, maior a expectativa de vida”. A longevidade, segundo ela, também está ligada a manutenção de hábitos saudáveis.

Por outro lado, viver mais implica em funcionamento do corpo por tempo maior, o que exige cuidados. “Quanto mais saudáveis nos mantermos, mais leve será o funcionamento dos nossos órgãos. Isto também depende das doenças pré-existentes, da quantidade de medicamentos e água ingerida diariamente.” Entre as dicas da especialista estão: não fumar, manter dieta balanceada, praticar pelo menos 30 minutos de atividades físicas por dia e consumo baixo de álcool.

CENTENÁRIOS
Os 223 centenários da região estão espalhados por seis cidades. Apenas Rio Grande da Serra não possui população com idade a partir de 100 anos. Santo André é a com maior concentração de idosos centenários (são 85). O município é seguido por São Bernardo (59), São Caetano (40), Mauá (20), Diadema (11) e Ribeirão Pires (oito). 




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