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Comandante espera mapa do crime para traçar planos
Por Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
20/06/2011 | 07:00
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No comando da Polícia Militar do Grande ABC desde o dia 1º de junho, o coronel Roberval Ferreira França promete traçar o mapa do crime na região. O estudo ficará pronto até o fim do mês e embasará o plano de trabalho do comandante à frente da corporação. Os dados serão divulgados no início de julho, quando será feita cerimônia oficial de posse.

Paulistano de 48 anos, casado e pai de dois filhos, Roberval está há 29 anos na Polícia Militar. É formado em Direito e Administração de Empresas e dá aulas de Gestão Estratégica de Construção e Cenários no curso que forma futuros coronéis.

Já trabalhou no policiamento territorial do Centro e da Zona Leste da Capital, na Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e no Batalhão de Choque. França também teve passagens por cargos administrativos. Ocupou as diretorias de logística e de tecnologia, além ter integrado a assessoria militar do governo do Estado.

Entre suas maiores preocupações à frente da Polícia Militar na região está a preservação da vida.

DIÁRIO - Quais os maiores desafios que o senhor espera à frente da Polícia Militar na região?
ROBERVAL - O principal desafio é a preservação da vida. Temos cidades na região que têm grande desenvolvimento econômico e social, enquanto outras têm um nível maior de carência. Tem cidades que estão com índice de homicídios muito abaixo do considerado aceitável pela ONU. A média de homicídios na região chega a 8,4 por 100 mil habitantes, mas temos extremos como Diadema, que em determinados períodos chega a 20 homicídios por 100 mil habitantes. Os contrastes da região fazem também com que nós tenhamos cidades onde há concentração maior de riqueza, onde daremos atenção especial aos crimes contra o patrimônio. Os indicadores da região mostram que tivemos, nos últimos 12 meses, queda de 17% no índice de homicídios, mas elevação de 19% nos roubos e furtos de veículos.

DIÁRIO - O que pode ser feito para evitar roubos e furtos de veículos?
ROBERVAL - Estamos mapeando os locais de principais incidências de roubo e furto, os horários em que esses crimes ocorrem e o tipo de vítima que vem sendo atingida. É o que chamamos de Estudo de Análise Criminal. Nós esperamos, com esse diagnóstico, fazer intervenções cirúrgicas, tanto no campo da prevenção quanto na repressão imediata. Vamos terminar esse mapeamento até o dia 30.

DIÁRIO - Diadema já foi uma das mais violentas do País. O senhor acha que a criminalidade no município está caindo ou a situação ainda é preocupante?
ROBERVAL - Diadema experimentou conquistas muito importantes na prevenção e combate à criminalidade e na proteção às pessoas. Posso dizer que Diadema é um dos municípios que conquistou, no menor prazo, o maior índice de segurança já visto no Brasil. Isso se deve muito a ações integradas entre as forças de segurança, como as polícias Militar e Civil e a Guarda Municipal.

DIÁRIO - A Polícia Militar atua na mediação de conflitos?
ROBERVAL - Atua. A solução pacífica e a mediação de conflitos evita que o crime aconteça. 80% dos chamados de emergência são solucionados por uma ação de mediação de conflito dos policiais no local. Muitas vezes a figura de um mediador isento, do Estado ou do município, faz com que as pessoas cheguem ao entendimento.

DIÁRIO - O que pode ser feito para aproximar a polícia da sociedade e fazer com que a corporação tenha mais confiança por parte da população?
ROBERVAL - A polícia já vem desenvolvendo desde 1993 a filosofia de polícia comunitária, que procura fixar o policial nas comunidades onde ele vai atuar, de modo que crie vínculos e uma relação mais estável e duradoura. Além disso, temos uma diretriz clara do comando de transparência, prestação de contas e responsabilidade pelos resultados. Nós usamos todos os canais de mídia para divulgar as ações da polícia e receber as demandas da sociedade. Mais recentemente, a Polícia Militar determinou que todos os comandantes no Estado têm que ter perfil no Facebook. O Grande ABC será um dos pioneiros nessa iniciativa. Nós devemos publicar esses murais já a partir da semana que vem (desta semana), começando por mim.

DIÁRIO - Quando o perfil será aberto?
ROBERVAL - O meu entra já a partir de segunda-feira (hoje). Todas as ações e iniciativas serão instantaneamente comunicadas e as demandas que as pessoas colocarem nós vamos receber imediatamente.

DIÁRIO - Como o senhor lidará com as críticas dos internautas?
ROBERVAL - A ideia é exatamente essa. Muito se fala de criar canais de aproximação com a sociedade. Tem até uma máxima que diz que o que as hierarquias e as estruturas sociais proíbem, a tecnologia permite. Talvez seja muito difícil para qualquer pessoa, em alguns momentos, chegar até um comandante. Aí, então, ele vai no Facebook e na hora ele chega até esse comandante.

DIÁRIO - A Polícia Militar da região pretende criar perfis em outras redes sociais?
ROBERVAL - O Facebook não será a única rede social que nós vamos operar. O Twitter, na sequência, também será usado, além de outras redes que a polícia sentir idoneidade e confiabilidade. Provavelmente criaremos o Twitter na semana que vem (nesta semana).

DIÁRIO - O senhor pretende manter a Operação Força Total?
ROBERVAL - A Força Total concentra forças policiais e atua em pontos e horários específicos. O que estamos fazendo é aprofundar as análises de inteligência e os estudos sobre quais são os pontos críticos e, junto a isso, vamos incorporar mais recursos. Nós devemos ter nos próximos meses aumento no efetivo de policiais na região. Ao mesmo tempo, estamos com indicação de que vamos receber aumento na frota, e aí pretendemos incrementar programas.

DIÁRIO - Qual é o tamanho da frota de veículos da polícia no Grande ABC?
ROBERVAL - A Polícia Militar tem 600 viaturas e 200 motos. Estimamos um aumento de mais 10% na frota. Isso deverá ocorrer até o primeiro trimestre do ano que vem.

DIÁRIO - Até o fim do ano a região terá quase 4.000 policiais militares. É suficiente?
ROBERVAL - Posso dizer que a região nunca teve um contingente tão grande como terá a partir do segundo semestre.

DIÁRIO - Como é a relação da Polícia Militar com as guardas municipais e a Polícia Civil?
ROBERVAL - É excelente. Há muita troca de informação e muita integração entre os serviços. Eu já tive reuniões com os delegados seccionais e estamos estudando estratégias conjuntas. Já solicitei também aos prefeitos audiências para que eu possa discutir o plano de trabalho para a região.

DIÁRIO - Qual sua avaliação sobre os policiais supostamente envolvidos na chacina do Jardim Santo André
ROBERVAL - Nós não temos nenhum dado conclusivo do envolvimento desses dois policiais que foram submetidos à prisão temporária. O que existe é uma ordem judicial por conta de reconhecimento fotográfico, e tudo isso ainda está sendo investigado.

DIÁRIO - Quantos policiais do Grande ABC estão atualmente afastados por desvios de conduta?
ROBERVAL - Temos só quatro casos, todos ocorridos recentemente. São os dois recolhidos para o Presídio Militar Romão Gomes e dois que foram apresentados à Corregedoria e estão à disposição para prestar esclarecimentos.

DIÁRIO - Quando a Polícia Militar começará a registrar boletins de ocorrência na região?
ROBERVAL - O governador anunciou que a Polícia Militar irá elaborar BOs a partir do dia 24 de junho no Grande ABC. Os BOs elaborados pela Polícia Militar vêm no sentido de auxiliar a Polícia Civil no atendimento à sociedade, e nós teremos aqui na região 45 instalações da Polícia Militar que vão elaborar boletins de ocorrência. Para alguns delitos, como furto de veículos, desaparecimento de pessoas, furto e perda de documentos, celulares, placas de veículos e encontro de pessoas desaparecidas, qualquer cidadão poderá procurar a PM. O registro será feito e nós iremos comunicar pelo sistema para a Polícia Civil. Isso dispensa a necessidade de comparecer a uma delegacia. O tempo em que esses registros serão feitos pela PM oscilará entre seis e oito minutos. Por conta da grande demanda da Polícia Civil tem, as pessoas têm longa espera na delegacia.

DIÁRIO - Ocorrências mais graves ainda terão de ser feitas nas delegacias?
ROBERVAL - Sim.

DIÁRIO - Como estão as negociações da PM com as prefeituras da região para a contratação do serviço de atividade delegada?
ROBERVAL - O prefeito de Ribeirão Pires (Clóvis Volpi) manifestou interesse, já recebeu autorização da Câmara Municipal para firmar o convênio e o processo está concluso na Prefeitura. É um estágio muito avançado. Atividade delegada nada mais é do que a possibilidade de o policial militar de folga se inscrever em um programa da própria polícia para exercer atividade extraordinária. Esse programa já existe com bastante sucesso no Canadá e nos Estados Unidos. Na cidade de São Paulo, nos pontos em que vem sendo desenvolvida, a queda da criminalidade foi de 70%. É uma atividade que depende de convênio entre o Estado e o município, e a remuneração é feita pela própria prefeitura.

DIÁRIO - E quais são os outros municípios interessados?
ROBERVAL - O outro município que manifestou interesse foi São Caetano. Como tenho um pedido de audiência com todos os prefeitos da região, vou expor novamente o tema.

DIÁRIO - Quais são as consequências desse programa para os policiais?
ROBERVAL - A atividade é legal e dá para ele toda uma segurança que não tem em um bico, que é clandestino. No bico, muitas vezes o policial vai se colocar em uma exposição de risco, sem as necessárias garantias que a Polícia Militar oferece.




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