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Anjos de farda salvam vidas pelo telefone
Lola Nicolas
Do Diário do Grande ABC
19/09/2010 | 07:12
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"Polícia Militar, Emergência." "Polícia Militar, Emergência." "Polícia Militar, Emergência." A mensagem de atendimento na sala do Copom (Centro de Operações da PM) do Grande ABC é sempre a mesma. E repetida pelo menos 1.500 vezes ao dia. De um lado, os atendentes do 190; do outro, um grito de ajuda. Essa é a rotina, quebrada quando num dos extremos da linha telefônica há uma mãe em desespero, com um bebê nos braços, morrendo, sufocado pelo leite materno. Minutos de muita tensão, que parecem eternidade. Clima de expectativa no Copom. De repente, o choro. A criança vive. Aplausos, suspiros e dever cumprido!

Esse outro lado da Polícia Militar, treinado exaustivamente em aulas teóricas, foi vivenciado pela soldado Michele da Silva Miranda, solteira, 24 anos. "Polícia Militar, Emergência", disse ela, ao atender a ligação. "Socorro, minha filha engasgou. Ela tá roxa, me ajuda", implorava a mãe. O coração de Michele disparou, lembrou do treinamento, respirou fundo e pediu calma à mulher. "Ela mal falava, eu pedia detalhes do que estava ocorrendo, quem estava com ela. A mulher era desespero total, mas felizmente a avó da criança, de apenas dez dias, também estava ali", relatou a PM. Colocar a criança na palma da mão, de barriga para baixo e bater levemente nas costas. "Ela expeliu um pouco de leite, mas não respira. Está cada vez mais roxa", desesperava-se ainda mais a mãe. Deite o bebê em superfície plana e aspira, com sua boca, narinas e boca da criança, orientou a soldado. "Ela mexeu a mão, ela mexeu a mão. A cor está voltando, graças a Deus. Obrigada meu anjo, obrigada", gritaram, agora de alegria, mãe e avó.

A família da criança salva por Michele pede para não ser identificada. Residentes em Santo André, eles justificam o anonimato em razão de parentes próximos não saberem do ocorrido. "Tenho cunhada recém-operada, não gostaria de preocupá-la, assim como os demais familiares", explica a mãe. Mesmo assim permitiu o encontro com o ‘anjo' de sua filhinha, hoje com 16 dias. A soldado, olhos azuis intensos, não conseguiu disfarçar a emoção. Foi abraçada pelos pais e pela avó e abriu amplo sorriso ao ter no colo a recém-nascida. "Que coisa linda. Estou muito feliz por ter ajudado essa criança. Era nela que pensava nos minutos angustiantes de ajudá-la. Este encontro vai ficar para sempre em minha vida", comentou a policial militar.

Esse é o outro lado da PM, que poucos conhecem, mas que sempre aparece no Copom. Michele não é o único anjo do setor. Marli Aparecida, 14 anos de corporação, também ajudou a trazer de volta à vida uma criança de dois meses, igualmente engasgada. "Pensei muito no meu filho. A vontade era entrar no aparelho telefônico e chegar do outro lado, mas temos de nos controlar para passar calma e confiança à mãe."

Enquanto atendentes passam por telefone os procedimentos a serem executados, o supervisor do Copom aciona Samu, bombeiros ou equipe motorizada mais perto para que um deles chegue o mais rápido possível ao local da ocorrência. São os anjos de farda salvando vidas. "Polícia Militar, Emergência, pode falar."

 

 




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