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Temporada em construção
Por Thiago Mariano
Diário do Grande ABC
13/06/2011 | 07:00
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Teatro vazio e teatro cheio é questão de opinião. Mais vale um espaço onde se carece de público, mas se busca a efetivação de uma proposta, do que uma plateia repleta de espectadores que não se consolidam formadores de uma rede interessante - e interessada - na construção de uma proposta fomentadora do teatro regional.

É briga que alguns coletivos teatrais da região estão dispostos a encarar, com a proposta de temporadas que permitam que a população vislumbre o teatro para além das opções oferecidas vez ou outra nos grandes espaços municipais.

"A ideia é colocar o teatro à disposição, para que todos descubram que ele existe e que tenham chance de se apropriar dele", conta Renata Moré, da Cia. do Nó, de Santo André, que caminha para o sétimo mês de cartaz da peça Os Vermes, que seguirá firme e forte até outubro, com apresentações aos sábados e domingos.

O projeto de estender as apresentações é antigo. Parte da ideia de que o teatro se constrói em rede. Firma-se horizontalmente e se desdobra em possibilidades quando está exposto e acessível, no compartilhamento da arte e dos seus consumidores.

Primeiro, começaram com temporadas mais curtas. Agora, para provar aos outros e a si mesmos que são capazes, resolveram deixar acontecer. E tentar levar para o seu espaço o maior quórum possível.

"Temos de ir reformulando as estratégias de divulgação para sustentar a temporada. Vamos descobrindo ao longo do processo as formas de chamar público."

As indicações são as melhores. Alguém assiste, gosta e recomenda. O melhor é que, diferente dos outros teatros que passam por aqui, os que efetivam temporada estarão lá para que os outros possam conferir também.

"O nosso projeto é dar continuidade às temporadas, talvez criar horários alternativos. O Teatro de Alumínio (espaço teatral amador que funcionava em Santo André na década de 1960) tinha espetáculo todos os dias, e gente também", completa Renata.

Kleber di Lázzare, da sul-caetanense Cia. Grite de Teatro, lembra-se do tempo em que marcava 20 apresentações e, por falta de público, só fazia quatro ou cinco. "Eram temporadas tristes. O princípio da retomada do teatro regional, na década de 1990", diz.

Em temporada com A.N.T.Í.G.O.N.A. - Sófocles Manda um Salve Geral, que entrou em cartaz no dia 21 e será exibido até dia 3, ele acredita que apresentar um espetáculo pelo menos por um mês é a possibilidade de fazer com que as pessoas conheçam a sua proposta, o seu olhar artístico e a sua ferramenta de debate.

Para ele, também, não existe teatro sem temporada. "É imprescindível. Você fica meses ensaiando, discutindo e maturando a sua ideia. A grande presença, o espectador, só chega a você no dia da estreia. E é a partir daí, com a presença dele, que o espetáculo vai se afinando, crescendo. Para sustentar a qualidade do trabalho, o profissional de teatro tem de fazer, fazer e fazer."

A divulgação, segundo Lázzare, faz com que o grupo que decide pelo caminho mais longo tenha que matar um leão por semana. "Não é porque você teve 80 convidados em um dia, que na próxima semana terá o mesmo número. A divulgação é boca a boca, todo mundo saindo para a rua, se pintando e distribuindo filipeta."

Para ele, um dos problemas é a não colaboração das prefeituras na divulgação. "Os municípios não têm os grupos de teatro como atividade cultural da cidade. O alcance de divulgação deles é maior, e todos os serviços de cada um deveriam ser divulgados como atividades culturais municipais", avalia ele.

A.N.T.Í.G.O.N.A. - Sófocles Manda um Salve Geral - Teatro. Na USCS - Avenida Goiás, 3.400, São Caetano. Tel.: 4239-3200. Sáb., às 20h, e dom., às 19h. Ingr.: R$ 14. Até dia 3.
Os Vermes - Teatro. Na Cia. do Nó - Rua Regente Feijó, 359 A, Santo André. Tel.: 4436-7789. Ingr.: R$ 20.




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