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Lendas urbanas viram brincadeira em São Bernardo
Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
20/10/2011 | 07:30
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Andréa Iseki/DGABC


A loira que aparece para assombrar os banheiros das escolas deu lugar a uma ruiva que, depois de ganhar um penico de presente da mãe, ia com ele para todos os lados. Foi assim que João Pedro de Oliveira, 10 anos, aluno da quarta-série do Ensino Fundamental da EMEB Professor Pedro Augusto Gomes Cardim, em São Bernardo, transformou a lenda urbana em brincadeira e, de quebra, ainda aprendeu regras de pontuação e o gênero literário de suspense. 

A coordenadora pedagógica da escola, Shirley de Souza, explicou que o trabalho com lendas e mitos é realizado há quatro anos com crianças dos 6 aos 10 anos. Saci Pererê, Curupira, lendas indígenas e de origem africana servem para ensinar folclore, cultura popular e, claro, redação. "As lendas urbanas fazem parte das histórias de assombração e suspense, que auxiliam no ensino da pontuação e entonação. Além disso, utilizamos estas histórias para atrair os alunos, que nesta idade tem uma curiosidade natural em relação ao terror". 

A professora Luciana Aparecida Isaias destacou que as lendas foram trazidas para a sala de aula pelos próprios alunos. "Eles pesquisaram na Internet e descobriram muitas histórias que eram passadas de geração em geração por via oral, mas que hoje estão disponíveis na rede para quem quiser ver. Por isso há diversas versões destas histórias". 

No caso da loira do banheiro, por exemplo, alguns dizem que se trata de uma jovem que morreu por causa de um amor não correspondido. Diz a lenda que, para chamá-la, é preciso chutar o vaso sanitário e dar a descarga três vezes. Mas alguns acreditam que, em vez de dar chutes, deve-se bater palmas, jogar um fio de cabelo na privada ou falar três palavrões. "As variações são próprias da linguagem oral", disse Shirley.  

A aluna Thaís Borin Pereira, 10, confessou que já teve muito medo da loira do banheiro quando era mais nova. "Mas minha mãe começou a falar que era tudo brincadeira e o medo passou". Tanto que Thaís até pregou uma peça nas coleguinhas quando elas tentavam chamar a loira no banheiro da escola. "Eu apaguei a luz e fechei a porta bem forte e elas começaram a gritar".

Colega de turma de Thaís, Larissa Ormedilla de Oliveira, 10, disse que histórias de terror não a assustam. "Faz parte do folclore e é legal aprender, mas não devemos ter medo porque não é real". 

CURRICULAR
A secretária de Educação de São Bernardo, Cleuza Repulho, explicou que faz parte da grade curricular das escolas da cidade falar sobre lendas e mitos com os alunos. "Cada escola escolhe um jeito de trabalhar isso em sala de aula". 

A secretária destacou ainda que os pais são informados sobre o conteúdo das aulas nas reuniões pedagógicas realizadas durante o ano letivo. "A insegurança e medo do desconhecido fazem parte do processo de virar gente grande". 

 

Para especialista, medo é natural e necessário 

A partir dos 10 anos, crianças começam a manifestar curiosidade natural para enigmas, assombrações e tudo o que se refere à vida após a morte. Segundo a especialista em psicologia escolar e contos de fadas Luana Carramillo, o comportamento se intensifica na adolescência. "Trata-se do início do processo de entendimento de que somos seres finitos". 

A especialista acredita que discutir lendas urbanas e histórias de terror com estudantes a partir desta idade é uma forma criativa de trabalhar com o medo. "O medo é necessário, pois se trata do instinto de preservação do ser humano. É saudável sentir medo, mas é preciso conscientizar as crianças sobre o que é real e imaginário". 

Para Luana, os contos de fadas tradicionais como Cinderela, Branca de Neve e Chapeuzinho Vermelho, também são histórias violentas. "Não podemos ser hipócritas porque o medo faz parte da infância e deve ser discutido e enfrentado". 

Até mesmo os filmes mais modernos tem influência das lendas urbanas antigas. "É o caso, da Murta que Geme, personagem dos filmes de Harry Potter, um fantasma que assombra um banheiro". O banheiro, conforme Luana, é a interiorização do ser humano, um lugar onde ele se isola e compreende sua finitude.




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